CAPÍTULO 41

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O entardecer no vale verdejante e cercado de altas montanhas era muito bonito. O céu pintou-se de matizes que iam do amarelo, passando pelo vermelho de um lado do horizonte para chegar aos tons púrpuros e de azul profundo salpicado de estrelas, no lado oposto. Ventos frios anunciavam noites gélidas da estação que precedia o inverno.

Kyle e Kiorina seguiam Azus e Gorum montados, cada par em um grande lagarto que corria em passos largos pelas matas daquele vale desconhecido por povos humanos. Uma corcova volumosa ajudava a compensar a falta de sela, mas ainda assim, montar aquelas enormes bestas sem a prática adequada era arriscado. Kiorina agarrava-se com força em Kyle que sentia falta da velha segurança que tinha ao montar cavalos. Adiante, o som de cachoeiras podia ser ouvido. Aproximavam-se de um paredão na porção norte do vale, e para tal, fizeram longa viagem durante todo o dia ao redor do lago.

Entre duas enormes quedas d'água surpreenderam-se ao encontrar uma escadaria estreita que escalava o paredão em padrão de ziguezague até alturas incríveis. As montarias ficaram nas quatro patas, deixando descer os viajantes aliviados. Azus agradeceu seus primos gigantescos que logo se embrenharam na mata deixando-os diante daquela enorme escadaria.

– Puxa! Que incrível... Foi seu povo que construiu isto, Azus? – indagou Kiorina.

O lagarto olhava bem para o alto e respondeu – De tempzozz de Gzzande Kutz!

Kyle cochichou para Gorum – Ele quis dizer tempo, ou templo?

Gorum deu com os ombros e avançou – Vamos! Enquanto ainda há luz do dia.

Os degraus tinham musgo e pequenas plantas nascendo de fendas, sendo um tanto escorregadios. Naquele ponto, eram banhados por gotículas formadas de uma das quedas d'água, mais próxima.

– São mais de três mil degraus! – anunciou Kiorina com excitação.

– Hein? – resmungou Gorum.

– Cada lance tem cerca de 300, e são dez lances e...

– Não podia guardar essas observações para si mesma, garota? – resmungou Gorum contrariado.

– Ih Gorum, você está ficando um velho resmungão!

– Só estou cansado de tantas subidas e descidas. –  ofegou Gorum –  Só isso! E... deixa para lá... – Gorum resolveu poupar seu fôlego.

Depois de algumas paradas para descanso, a noite finalmente era completa. Do alto, puderam acompanhar o brilho das luas que surgiram uma a uma, de trás dos picos para trazer nova iluminação para o vale. Uma destas paradas para descansar, próxima ao topo da escadaria, acabou tomando mais tempo, pois observavam o surgimento das luas. Primeiro surgiu Teona, imensa e mais amarela que nunca, seguida da esverdeada Titeny. Já despontavam a grande Ty com suas manchas violetas e azuladas seguida da pequena e vermelha Pydera.

Mais dois lances e uma grande surpresa. Kiorina e Kyle estavam bem cansados, mas trocaram olhares maliciosos e riram bastante ao ver, mais e mais escadarias que o ângulo de visão não permitira perceber antes.

Gorum reclamou imediatamente – Não é possível! Vocês vão, eu fico! Não subo mais nenhum degrau!

– Vamos Gorum, você não está falando sério?

– Estou com cara de quem está contado piadas? – Disse o gigante limpando o rosto encharcado em suor. Caminhou para uma reentrância no paredão e tirou óleo e uns gravetos de sua mochila.

– O que está fazendo Gorum? –  Quis saber Kiorina.

– Será que não vê? Uma fogueira. Eu fico aqui...

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