CAPÍTULO 85

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Arávner estava deitado seminu em seu esquife localizado em seu refúgio secreto. Um local que nem mesmo seu fiel servo, Kurzeki, conhecia. Uma sala onde colecionava relíquias da antiga civilização dos Vetmös, há muito extinta. Na cabeça usava uma tiara dourada de tiras metálicas finas, de curvas rebuscadas cravejada cristais amarelados que brilhavam com tons multicoloridos, como se fossem um prisma atravessado pela luz. Projetava multicores sobre o ambiente de modo errático.

Era um instrumento feminino e pequeno que Arávner usava esticado, gerando pressão em sua testa e têmporas. Aquele instrumento permitia ao bruxo retornar ao passado e vivenciar experiências da época em que fora feliz.

No alto do antigo continente, sobre o Planalto da Tranquilidade, os Vetmös e seus primos, Hölmos, construíram a maior obra destas civilizações: as Nove Torres Lunares. No centro de cada torre havia nove pilares de cristal que absorviam ciclicamente a energia cósmica que era canalizada através da lua Nam-Luir. Arávner, então, era chamado de Ren Uyk. Ele fora um dos discípulos de Lárzarus, um dos três arquimagos que idealizaram as torres. Com a energia mágica praticamente ilimitada que era reunida pelas torres, os antigos construíram belas cidades e começaram a explorar os universos e suas muitas dimensões.

No epicentro das nove torres ficava a cidade celestial, Trinidacs, a jóia das antigas civilizações e local no qual a velha humanidade estabeleceu os primeiros contatos com seres de outras dimensões. Divergências éticas e filosóficas em relação a exploração de outras dimensões levaram a um cisma. O líder dos Vetmös, Merrin, partiu para colonizar o novo continente e construir dezenas de novas cidades. Criou também, uma nova ordem de magos dedicados ao estudo da alta magia e exploração dos mistérios do universo.

Ren Uyk fora convocado pelo Imperador Merrin para construir um novo conjunto de torres no novo continente com as quais pudessem continuar a exploração de outros planos de existência sem a interferência dos Holmös. Para seguir com tal projeto, Ren deixou para trás sua família em Trinidacs, pois considerava que seria um grande sacrifício exigir que estes abandonassem um local confortável para seguir para uma região erma e sem estrutura.

Utilizando a tiara, Arávner podia sempre que desejasse, reviver momentos junto à sua família. Esta agora estava aprisionada no velho planalto desde o desastre que ele próprio e o Alto Conselho dos Magos Vetmös causaram ao ativar as torres lunares copiadas e construídas no novo continente.

A tiara era um presente para sua esposa, Tisse, e na ocasião, permitia que se comunicassem, mesmo à distância. Nos dias de hoje a tiara facultava à mente de Arávner viagens até Trinidacs para ver sua esposa. Há milênios ela estava no mesmo lugar, na mesma pose, sob a mesma iluminação. A luz do sol que penetrava pela janela iluminava o vestido alvo conferindo a este um tom amarelado. Era uma bela mulher de expressão madura, com longos cabelos loiros e lisos. Virados de lado, estes eram penteados por uma escova com cabo de cristal. O olhar dela contemplava a si mesma através do espelho, ela parecia olhar para um ponto além, no infinito. A mais perfeita das estátuas. Inalcançável a Arávner. Fora do tempo, selada num poderoso feitiço que duraria por toda eternidade. Um feitiço que ele nunca teria poder para desfazer. Algo que apenas os arquimagos reunidos poderiam anular, ou, alguma entidade mais poderosa, como um Deus, ou o próprio Lorde do Submundo, Senhor dos Abismos Infinitos.

Arávner observava sua esposa destilando ódio, sem conseguir resignar-se do fato de tê-la perdido, talvez, para sempre. No fundo de sua mente, uma voz desprezível soava.

"Mestre! Mestre querido! Onde está você?"

Arávner despertou do transe e enviou pensamentos para a mente do servo: "Cala-te, Kurzeki!"

"Mas mestre, há problemas na capital!"

Arávner leu a mente do servo para extrair rapidamente as informações de que precisava e pensou "Maurícius! O que tu pretendes com isto? Não importa! Isto é um sinal. É chegada a hora de assumir o comando".

"Kurzeki, prepara minha carruagem. Partiremos para a necrópole".

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