CAPÍTULO 110

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Túneis e mais túneis depois, chegaram ao subterrâneo do templo numa pequena passagem que dava para o lago. Örion havia visitado o mesmo lugar no passado na companhia de Con e Irscha. Na ocasião, o lago tinha águas geladas e submersa neste, havia um enorme esquife de metal preso por correntes de calibre colossal. O ambiente agora estava quente e contrastava com o frio intenso que fazia ali outrora. Havia vapor no ar que vinha da água borbulhante. O nível do lago havia baixado e dava para ver o esquife, ainda submerso, mas a poucos metros da superfície.

Estavam todos juntos num bloco compacto, em redor da princesa Hana. Usavam o orbe como camuflagem e seguiam para a subida sem fazer maiores ruídos.

Hana respirava ofegante. Visões terríveis vieram à sua mente, mesmo sob estado de lucidez. Era a primeira vez que visões se formaram sem que estivesse em transe. Havia muita energia circulando no ambiente e o orbe parecia prestes a falhar, assim como quando absorveu muita energia de uma só vez provida pelos cristais de sargentium. As visões não eram claras, mas sim, fragmentadas. Morte e sangue esperavam a todos no alto daquela escadaria.

Radishi sentiu sua cabeça pesar. Precisou entrar na defensiva para evitar maiores danos.

– É só comigo, ou o ar aqui está muito pesado? – manifestou-se Örion.

– Ele está chegando! – concluiu Cretàh – rápido, precisamos impedir que Zeah realize o ritual de sangue. Vamos!

Todos apressaram o passo, mas Hana ficou estacionada e quando Calisto passou, ela tomou-o pela mão. – Espere um pouco – ela disse.

– O que foi, princesa?

Lágrimas escorreram por seus olhos.

– Sei que não é o momento, mas pode não haver outro...

– Do que está falando? Por que isso agora?

– Calisto, eu sou... você é...

– O que? Fale de uma vez!

– Sou sua mãe.

Calisto fez uma careta e lembrou-se das ocasiões em que ela tentou seduzi-lo. Se não tivesse resistido, teria se deitado com sua própria mãe!

– Me desculpe, filho. Eu não sabia... Os malditos... Quando você nasceu... Arávner tirou-o de mim e entregou-o a Thoudervon. Deram-me, no seu lugar, um bebê morto.

Calisto estava atordoado. – Quer dizer então, que sou o herdeiro ao trono de Lacoresh?

– Sim, meu filho. Tentei me aproximar de você, pois tive visões de nós dois, governando juntos... Eu não sabia, mas agora, tudo faz sentido.

– Sim, faz sentido. Vamos, princesa, ou ficaremos para trás.

– Você não me odeia?

– Não, nem um pouco. Só não ache que vou começar a chamá-la de mamãe.

Hana chorou de felicidade, pois temia que o filho a rejeitasse de modo violento. Pensava em como ele era belo e forte, mas ainda imaturo, indisciplinado. Sim, se conseguirem retornar a Lacoresh, ela poderia educá-lo, mesmo que de modo tardio. Recuperar o tempo perdido.

A entrada de Cretàh e dos lacoreses no salão do tempo foi algo inesperado. Nem mesmo o poderoso Marlituk através de seus muito espectros libertos pode antecipar aquele movimento. Estavam todos empenhados e concentrados na realização do ritual de sangue. A energia escura preenchia todo salão, exceto um pequeno perímetro em torno do altar.

Cerca de trezentos meninos e meninas estavam postos diante do altar. O local ainda resistia ao avanço das forças das trevas. Para realizar o sacrifício, estava reunido o mais alto escalão dos servos corrompidos pelos espectros. Entre estes estavam a bruxa Zeah, os silfos Ardívila e Keledrel, o mercenários Skallurè e Danke Furioso, o tardo Nergon, Alzaad, o Pug'a'wee e outros mais.

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