CAPÍTULO 94

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Semanas se passaram desde que o caos assolou Lacoresh. No pátio interno do velho castelo, os jovens acólitos da Real Santa Igreja cuidavam de centenas de feridos alojados em barracas que cobriam toda aquela área.

Por vários dias, o mago esteve apenas semi consciente e sofrendo de febres altas e dores pujantes. Acidentalmente, convocou uma magia que danificou a barraca onde estava e feriu um acólito. Por isto, foi tido como perigoso e transferido para a cela, na fortaleza.

Aos poucos recobrou a consciência, mas suas memórias estavam confusas. Sentia que havia cometido algo de imperdoável e disse aos acólitos que se chamava Gálius. Aqueles nomes, Gálius DeLars e Kiorina DeLars giravam em sua cabeça.

Precisava se esconder. Já haviam lhe cortado o braço e se o encontrassem, estaria morto. Em seus sonhos era assombrado por um demônio que prometia vir para devorar sua alma. Temia que a qualquer momento alguém pudesse chegar para buscá-lo. Seria morto. Fora um incompetente. Falhou em realizar sua tarefa, e como pena, obteria a morte. As memórias continuavam confusas e vagas. Os rostos que via, tinha dificuldade de nomear. Sabia que se chamava Chris, e não Gálius. O cabelo raspado seria um disfarce? Tinha esperança de recobrar suas forças e sair dali antes que fosse identificado.

Naquela noite, teve pesadelos. Vagueava por catacumbas repletas de seres mortos-vivos. Um deles, um esqueleto que vestia um manto vermelho e elmo com cifres ameaçava-o com facas nas mãos ossudas. "Foi ele! Sim, foi ele que decepou o braço!" Yourdon acordou confuso, mas convicto daquele fato.

O acólito que cuidava de Yourdon, um jovem ainda com rosto de menino, mas magro e alto, chegou no horário de costume e estava acompanhado de outro homem. Alguém vestido num manto cinzento com um capuz sobre a face. Chris gelou. Não podia ver o rosto, seria o esqueleto?

– E então? – perguntou o acólito – É ele?

– Sim! Primo Gálius! Estávamos preocupados!

– Primo? Não me lembro de ter nenhum primo... Por favor, irmão Russ, leve-o daqui. Não sei que é esta pessoa.

O homem havia baixado seu capuz. Tinha um rosto magro e longas barbas e cabelos ondulados. Seus olhos era azuis claros e usava uma faixa cinzenta sobre a testa.

– Escute-me primo. Vamos conversar um pouco. Isto poderá ajudá-lo. O irmão Russ me explicou que você está confuso. Depois de tudo que aconteceu é apenas natural...

Quem seria aquele óbvio mentiroso? Chris imaginava quando foi surpreendido por uma voz que falou em sua mente "Acalme-se, Chris Yourdon, não vim aqui para prejudicá-lo, mas sim, como um amigo. Diga a Russ que está se lembrando e peça a ele para nos deixar conversar um pouco."

– Primo... Acho que agora me lembro... Irmão Russ, acho que estou recobrando minhas memórias. Posso conversar a sós com ele?

– Mas naturalmente... – disse o acólito e se retirou.

– Quem é você e o que quer comigo?

– Sou Radishi de Tisamir. Permita-me ajudá-lo. Vejo que sua mente está perturbada. Tenho meios para retorná-la ao seu equilíbrio.

– Radishi? Esse nome não me é estranho...

– Por favor, relaxe e deixe-me ajudá-lo. – ele chegou perto e tocou a testa de Yourdon. O mago estava fraco demais para resistir.

Radishi logo compreendeu o que se passava. O mago estava rejeitando suas próprias ações. Havia feito tudo para alcançar poder e mais poder, mas ao ter que se mutilar e confrontar a morte de perto, começou a se arrepender. Voltou a ter contato com sua mente de rapaz ainda não corrompida. Radishi não condoeu-se... Recapitulou as memórias do mago e mostrou-lhe todos seus terríveis atos com frieza. Yourdon se assombrou com tudo o que viu. Era como assistir a vida de outra pessoa. Agora que estava livre do anel, sua consciência rejeitava muitas de suas ações. Em especial, suas atitudes mais recentes. Tais como o modo que havia imposto torturas sobre Vekkardi e outros tantos.

– Eu fiz tudo isso? – perguntou incrédulo a Radishi.

– Sim, mas ao que parece, sua queda foi favorecida por algum feitiço, ou maldição, presente no anel que usava. Não sei dizer ao certo.

– O plano netéreo... Thoudervon disse que ele me mudaria. – Compreendeu Yourdon. – Estou perdido! Thoudervon vai me virar ao avesso antes de me matar e depois, vai me transformar num morto-vivo, ou coisa pior.

– Talvez, não. Pois você vai nos ajudar.

– Você não entende, tisamirense, não é possível confrontá-lo.

– Sim, é. Contanto que obtenhamos o Orbe do Progresso.

– Ah, é? E como fazer tal façanha?

– Já temos tudo planejado. Para falar a verdade, o orbe está vindo até nós, neste momento.

– Como assim?

– Não posso explicar os detalhes. O fato é que eu e a princesa Hana descobrimos uma maneira mais eficiente de utilizar os dons de visão do futuro que ela possui. Foi assim que chegamos até você e da mesma maneira, pretendemos obter o orbe.

– E com o orbe, pretendem enfrentar Thoudervon? São loucos!

– Não é isso, precisaremos de sua ajuda para operar o portal até Saubics. O orbe é a chave para libertar nossos aliados.

Radishi tirou das costas uma mochila que parecia cheia e pesada. Quando a abriu, sua face e a de Chris foram iluminadas por um brilho amarelado.

– Não é possível! – espantou-se o mago.

– São cristais de sargentium.

– Sei bem o que são, tisamirense. Onde os conseguiu?

– Isto pouco interessa... O importante agora são os preparativos.

Oráculo EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora