CAPÍTULO 118

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Poucos dias depois, o exército comandado por Blackwing marchava para o Baronato de Fannel, a noroeste. Desde então, Calisto seguia acompanhado de Vekkardi e dois outros encapuzados da irmandade. Kiorina andava desconfiada deles, mas não pode concluir o que estava havendo. Alguma coisa estava errada, especialmente com Calisto, mas ela não conseguia descobrir o que era.

Durante a marcha, emparelhou seu cavalo ao de Kyle. Era a primeira vez que se falavam em dias.

– Vi Calisto, Vekkardi e os membros da irmandade novamente em sua barraca, ontem à noite. Diga-me Kyle, o que estão escondendo?

– Deixe de ser paranoica. Estavam apenas como todos, me questionando a respeito da estratégia de avanço contra Maurícius.

– Para mim, você sempre foi um péssimo mentiroso. O que está havendo? Por acaso perdeu a confiança em mim?

– Já que perguntou desta forma, sim. Depois de tudo que houve em Ilm'taak, já não sei se posso confiar em você. Diga-me, Kiorina, é mesmo só astrologia que você vem estudando recentemente?

Kiorina fechou a cara. Estava estudando demonologia e recorria a tomos potencialmente perigosos. Não falava sobre isto com ninguém. – Há! E quem é o paranoico aqui mesmo?

Gorum, observava-os discutindo. Evocava um hábito que havia entre os dois, mas não como antigamente. Desde Banzanac as brigas entre os dois eram cada vez mais sombrias. Gorum coçava a barba e sem gostar nada do jeito de Kiorina. Podia jurar que agora isso transcendia um simples ressentimento. A fagulha que viu nos olhos da moça sugeriam malícia e ódio, cautelosamente velados. Aquilo causava no gigante um mau pressentimento.

Momentos depois, surgiu uma grande confusão. Era o primeiro ataque, ou melhor, encontro com uma horda de carniçais. Aquele tipo era especialmente vicioso e transmitia a moléstia através de qualquer ferimento causado por suas unhas ou mordidas. Lutavam incansavelmente até que tivessem os cérebros esmagados ou que fossem incendiados. Durante o confronto, Kiorina mostrou fúria e incendiou dúzias deles.

Muitos dos homens feridos no confronto esconderam os ferimentos. Isto causou surpresas no acampamento durante a noite. A consciência de que um simples ferimento seria o fim, deixou as tropas com a moral abalada. O terror crescia e na alta madrugada, um segundo assalto de carniçais causou pânico, mas foi rapidamente rechaçado.

Haviam enfrentado na tarde e na madrugada números insignificantes de carniçais. Poucas centenas. Kyle começou a temer o que aconteceria se eles se deparassem com milhares daquelas criaturas. Não havia notícias claras de que todas as cidades tivessem sucumbido plenamente à praga de Maurícius, mas se assim fosse, aquela investida poderia ser inútil. Suicídio coletivo.

No dia seguinte, marcharam sobre uma vila na qual o número de carniçais era muito maior. As criaturas não agiam de forma coordenada e sequer demonstravam inteligência razoável. Foram horas de combate até que uma certa calma tomasse conta do local. Houve muitas baixa e os corpos dos soldados eram reunidos e queimados antes que voltasse da morte para atacá-los. O local foi tomado, limpo e convertido numa base. Ainda havia grãos armazenados e outros suprimentos puderam ser encontrados em despensas. Meia dúzia de sobreviventes surgiram agradecendo aos deuses pela ajuda que havia chegado. Estavam escondidos em porões ou sótãos.

Cercas e trincheiras foram cavadas no entorno da vila. Batedores enviados investigar Liont, a capital de Fannel, não retornaram. Ocasionais combates eram travados e logo o exército foi se tornando proficiente na maneira de combater os carniçais. Vinham, ora sozinhos, ora vagando em bandos.

O tempo passava e o alinhamento das luas ficava cada vez mais próximo. Os sagrados ofícios operados pelos sacerdotes contra aquela espécie de carniçal não surtia o mesmo efeito que contra zumbis e sombras. Não retornavam por magia de animação, mas algo diferente. Alguns comentaram que estes eram mais fortes devido ao alinhamento lunar que se aproximava.

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