CAPÍTULO 72

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O convés do Estrela do Crepúsculo estava quase vazio naquela manhã. Por mais que Lepard detestasse aquele fato, não podia negar que obteve sua nau de volta graças à atuação de Kyle. Navegaram pelo mar nas proximidades da costa sul do grande vale que abrigava as cidades estado de Tchilla e Tonuak, assim como povos tribais, tais como, os Ô-makô e os Racine.

O navio possuía suprimentos apenas para chegar até Tchilla. Lepard foi o primeiro a se recuperar  dos efeitos da seiva paralisante. Muitos estavam feridos, outros dormindo. Conversava com Kyle e este havia tomado emprestadas algumas roupas do dacsiniano, pois tinham porte físico semelhante.

- Não que eu esteja feliz com seu retorno, mas devo lhe agradecer pela ajuda. Tenho meu navio de volta graças a você. Obrigado.

Kyle sentia-se desconfortável em trajes dacsinianos. Aquela túnica azul de botões prateados não combinavam nada consigo, tão pouco a blusa cheia de babados na gola e nos pulsos.

- E eu agradeço pelas roupas... - coçou o pescoço e indagou - Conhece a rota para o reino de Saubics?

- Sim. Depois de tomarmos suprimentos em Tchilla, é apenas navegar seguindo a costa por entre um ou dois meses.

- Não temos todo este tempo. Precisamos que chegar em menos de um mês. Precisaremos de um atalho.

Lepard riu-se. - Atalho? Não sei o que está pensando, mas não há atalhos para percorrer tais distâncias.

- Sei bem disto, mas é aí que ela entra - Kyle apontou a mulher amarrada em um dos mastros, Zorena, a assassina dos Muntau.

- Entendi. Soltamos ela para ela nos matar... Então, nossos fantasmas conseguem voar até lá a tempo. - zombou o marujo.

- Não, ela vai nos conduzir até a Ilha da Torre Vermelha.

Lepard franziu o cenho - Isso não passa de uma lenda. E mesmo que exista, por que iríamos querer ir até um lugar amaldiçoado?

- Confie em mim. Estou certo que encontraremos o local e que lá arranjaremos meios para fazer essa viagem num passo acelerado.

- Eu? Confiar em você? Afinal, Kiorina era mais que sua amiga e você a traiu.

Kyle coçou os pulsos irritados pelos babados da blusa e ficou cabisbaixo - Foi o que ela disse? Que eu a traí?

- E por acaso isto não é verdade?

O lacorês assentiu e deixou escapar um suspiro - É verdade.

- Isto é um consolo para mim. Saber que você é humano e tão falível quanto eu. Que ambos temos um lado calhorda, em especial, quando surgem mulheres interessantes.

Kyle queria retrucar de algum modo, mas não conseguia. Sabia que havia ferido os sentimentos de Kiorina. - Não é como você pensa, mas não vou negar que...

- Admita! Você é um calhorda! Assim como eu.

- Posso ter agido assim, mas estou arrependido.

- Sei como é, já me arrependi de ter feito muitas besteiras, mas isso não significa que consegui me tornar um bom sujeito.

- Cada um é cada um...

- Enfim, Blackwing, a ruivinha e o grandalhão vão ficar felizes em saber que voltou a ser o louco de antes. Que acredita que vai salvar o mundo de um desastre... Saiba que não estou disposto a me suicidar. Vou deixá-los em Saubics e fim da história.

- Está bem. Você não faz mesmo o tipo altruísta.

- Estúpido, você quer dizer.

- Que seja! É hora de persuadir a mulher a colaborar.

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