Oráculo Esquecido

CAPÍTULO 55

A reunião do conselho havia começado há pouco tempo. Reuniam-se Weiss, Arávner, Thoudervon, Alexanus, Maurícius e seu filho, Serin.

– O rapaz é desobediente demais para continuar como nosso aliado. Felizmente, parece que agora mostrou suas intenções e cavou a sua própria cova. – Afirmou o rei Maurícius com satisfação.

– Então – disse Arávner – se o jovem Calisto tiver mesmo alcançado a torre, teremos ajustes a fazer, não é mesmo?

Thoudervon tamborilou os dedos sobre o tampo da lustrosa mesa de madeira e comentou – Penso que é cedo para discutir esse assunto. Tomam como certa a morte do prematuro, mas não contaria com isso.

– Senhores, essa discussão é improfícua. – Alertou Alexanus – Estou certo que não foi para discutir o destino de uma das crianças do eclipse que convocou esta reunião, estou certo Arávner?

– Tens razão – retrucou o antigo Vetmös – O tempo de restabelecer o Elo se aproxima. Há poucos dias, consegui um contato direto com o próprio Senhor do Submundo. A torre de comunicações está funcionado cada vez melhor. Em poucos ciclos, conseguiremos comunicações com grande facilidade e precisão. Entretanto, nosso Senhor nos adverte contra duas ameaças emergentes contra as quais, precisaremos tomar ação.

– Mesmo? Que ameaças – quis saber Serin, um tanto apreensivo.

– O demônio Marlituk, o corruptor. Ao que parece, está mesmo reunindo poder e talvez consiga escapar de sua prisão nas terras do Vale Verde. E isto pode estar muito próximo de acontecer. Se ele se libertar ficará forte antes da grande eclosão e poderemos ter uma guerra. E isto poderá nos afastar da conquista de Nelfária.

– Vale Verde? Tão longe? – retrucou Maurícius – E o que poderíamos fazer para impedir que se liberte? É hora de iniciar a campanha de expansão. Será prudente retardá-la para lidar com isso?

– Não precisamos impedir que se liberte, rei de Lacoresh, precisamos apenas retardar o processo. E quanto a distância, pode ser encurtada se usarmos o meio correto. – disse Thoudervon.

– Por favor, explique melhor, poderoso Thoudervon – pediu Alexanus.

– Felizmente, para o bom andamento de nosso planos, já venho trabalhando na questão Do Corruptor há algum tempo. Tenho observado a situação lá e ao que parece, a prisão está se enfraquecendo o que possibilitou que alguns de seus espectros escapassem. Estes estão trabalhando  para romper a prisão em Ilm'taak. E isto deve acontecer muito em breve.

– Tu estás sempre à frente, não é mesmo meu caro? – Arávner estreitou os olhos para Thoudervon.

– Naturalmente, aliado. O principal espectro possuiu o monarca do reino de Saubics. Impedir a libertação Do Corruptor deve ser uma tarefa bastante trivial, sendo assim, já descartei a necessidade de ir pessoalmente fazê-lo. Preparei um instrumento para congelar o espectro.

– Congelar? – indagou Maurícius.

– Sim, congelar no tempo, é o que quis dizer.

– Tal tipo de magia é perigosa, sabes bem disto. – advertiu Arávner.

– Para quem não a compreende. – alfinetou Thoudervon.

– Parece que já pensou em tudo, não é mesmo? – veio a voz chiada de Weiss.

– Penso que esta será uma boa tarefa para o jovem Calisto.

– Mas ele provavelmente está morto. – disse Serin.

– Engana-se. Está vivo e a caminho daqui. Não devem demorar muito.

– Devem? – indagou Alexanus – E quem mais está com ele?

– Um deles é o meu novo aprendiz, Yourdon.

– Rapaz de sorte. – disse Serin sentido uma pontada de inveja.

– Não tem nada a ver com sorte – retrucou Thoudervon – De qualquer maneira, mandá-los resolver esse problema deixará todos vocês mais à vontade, penso eu. É hora de se concentrarem na campanha de expansão. É fato que Calisto tem um signo de caos sobre si. Seu envolvimento com os resistentes ao novo regime e com os Tisamirenses poderia atrapalhar nossos próximos passos. Então vai ser bom que fique longe daqui, por uns tempos. Por mais que muitos de vocês não gostem do rapaz, será valoroso para os planos, no futuro.

Maurícius torceu o nariz para aquilo tudo, pois preferia vê-lo morto.

– Então, Thoudervon, tu acreditas que tens tudo equacionado a respeito Do Corruptor, certo? – ponderou Arávner.

– O que nos leva à segunda ameaça? – indagou Weiss – Qual seria?

– Vormostat, os senhor dos vermes.

– Está certo disso, meu caro? – indagou Thoudervon.

– Foi o que o Senhor disse. Disse para ficarmos atentos...

– Investigarei esta questão – informou Thoudervon.

– Sobre a aliança de Rodevarsh – quis saber Serin – Há novidades?

– Tive contato recente com Alderic, dos Hiokar. – informou Weiss – Rodevarsh nos preparou o terreno bem o suficiente. A aliança com os silfos dos arquipélagos continua de pé. Logo nossos navios cairão sobre Nish. Uma segunda noite de mortos-vivos para eliminar o imperador e deixar o espaço livre para o clã Hiokar ascender. Depois disso, com os silfos do mar de nosso lado, finalmente teremos forças para subjugar os dacsinianos. E assim que estes forem nossos, cairemos sobre Tchilla.

– E a questão da cadeira vazia? Sem Rodevarsh... – Serin foi interrompido por Thoudervon.

– Está bem assim.

Arávner completou – Verdade, este conselho se beneficiaria de mais cadeiras vazias. Teríamos reuniões mais breves e produtivas.

– De fato – acenou Weiss e zombou – A não ser que queiram dar o assento ao jovem Calisto.

Weiss gargalhou sozinho. Se divertia com aquilo tudo. Era uma loucura, mas, ao mesmo tempo, estava curioso para ver até que ponto a aliança se sustentaria. Até que ponto aqueles planos insanos se concretizariam? Era um pouco da graça de todo aquele teatro.

– Algo mais? – disse Thoudervon já querendo encerrar o encontro.

– Sim – disse Maurícius – Fernon retornou.

– O que perseguia os que estavam o discípulo de Kivion? – indagou Arávner.

– Sim. Trouxe notícias de que estes escaparam para Dacs e que depois disso foram para o antigo continente. Ainda persistem na busca pelo tal Oráculo e obtiveram informações junto aos Silfos do Mar.

– Tolice – retrucou Arávner – Mesmo que já tenham encontrado O Oráculo Esquecido, de que ver o futuro lhes adiantará? Estou certo que a única coisa que verão, será nosso triunfo. Ver o futuro apenas os deixará deprimidos e sem esperanças. Nada poderá nos impedir de estabelecer o Novo Elo. A Grande Eclosão é inevitável, assim como a queda de Nelfária. E nós, meus caros aliados, seremos os mais poderosos. Teremos o poder, não apenas sobre este mundo, mas o poder de ir além, de conquistar cada vez mais.

– Interessante – disse Thoudervon – E se encontrarem mesmo o Oráculo, penso que serão atraídos para a ameaça mais eminente, Marlituk. Isso poderá nos dar oportunidade para lidar com estes. Encontrar o Oráculo, se for mesmo possível, poderia nos ajudar com a ameaça seguinte: Vormostat. Mande Fernon vir me visitar. Vou querer saber todos os detalhes sobre sua perseguição a estes e sobre suas capacidades.