CAPÍTULO 79

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Archibald usava um longa barba como era comum entre os tchillianos. Tornara-se um alto sacerdote do templo de Ometan. Vestia os elaborados trajes vermelhos e brancos que homenageavam este deus. Longos anos se passaram desde que se separou de seus amigos Kyle, Kiorina e Gorum. Nunca mais ouviu falar deles.

Tchilla se preparava para a guerra, mais uma vez. O Império Lacorês havia declarado guerra ao mundo. Keldorianos, tradicionais inimigos de Tchilla buscavam abrigo na grande cidade-estado, pois seu território havia sido invadido por hordas de mortos-vivos provenientes de Lacoresh. A guerra civil entre os Silfos do Mar, sob o comando do Imperador Hiokar, principal aliado dos lacoreses, havia terminado. Lacoreses e Silfos juntos ameaçavam invadir Dacs e Tchilla.

Os sacerdotes de Ometan convocavam forças divinas para os exércitos da cidade. Ometan enviaria, mais uma vez, seus avatares para dirigir os exércitos de Tchilla. Oito Nanuartuks, generais da cidade, estavam presentes para a cerimônia no Octogono Sagrado. O imperador Abenani Baru estava no topo da construção piramidal, tão alta como uma montanha, a fim de canalizar as bênçãos dos deuses.

Archibald, ou como passou a ser conhecido em Tchilla, Akibaru, estava em profundo transe, pronto para receber o avatar e estabelecê-lo sobre o corpo do Nanuartuk Gerelk. A letra A, sagrada para os tchillianos podia ser usada para nomear aqueles capazes de receber e personificar os nobre espíritos guardiães.

O espírito de fogo desceu do céu sendo apenas visível aos olhos sensíveis dos alto sacerdotes. Archibald tinha em mãos uma adaga ritual. Perfurou o corpo de Gerelk em vários pontos: testa,  pescoço, peito e abdome. Os pontos energéticos do general foram ativados tornando-o apto para receber o espírito de fogo. Archibald observou o espírito penetrar no corpo e os cortes cicatrizaram por cauterização espontânea.

Gerelk e os outros sete Nanuartuks agora tinham dentro de si espíritos de fogo enviados por Ometan, o deus guerreiro. Isso iria conferir invencibilidade aos exércitos tchillianos, assim como sempre ocorreu nos mais de dois mil anos de história da poderosa cidade.

– Obrigado, Alto Sacerdote Akibaru! – Gerelk curvou-se diante de Archibald. Sentia seu corpo arder em êxtase, cheio de energias.

Archibald, ainda em transe, surpreendeu-se ao ver outro espírito se aproximando.

Reconheceu-o e pensou "Noran?"

"Há quanto tempo, Archibald. Não sabe o esforço que tive que empreender para alcançá-lo! Cheguei a pensar que nunca conseguiria."

"Mas por que retorna da terra dos mortos?"

"Eu nunca fiz essa jornada. Passei todo este tempo acompanhando Kyle."

"Kyle? Ele está vivo? Está bem?"

"Sim, está vivo, mas está preso. Também Kiorina e Gorum. Ele me enviou para obter sua ajuda."

"Mas onde eles estão presos?"

"Em Saubics, mas não é um prisão comum. Estão presos por uma feitiço e não tenho certeza de que possam mesmo sair."

"Como posso ajudar?"

"Kyle acha que você poderá descobrir uma maneira, se for até Lacoresh. O criador deste feitiço está lá, mas é uma criatura perigosa. Aquele que chamam de Thoudervon."

"Ir a Lacoresh? Depois de tanto tempo? A guerra... Não sei se posso."

"Se não fizer nada, ficarão presos para sempre."

A conversa telepática decorria em ritmo acelerado, mas foi suficiente para quebrar o protocolo da cerimônia.

Gerelk insistia pela terceira vez – Obrigado, Alto Sacerdote Akibaru!

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