CAPÍTULO 117

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Lacoresh havia mudado muito do ponto de vista de Kyle, Gorum e Kiorina. Sendo a capital do império, houve crescimento de sua periferia, demolição e construção de muitos edifícios surgindo muitas construções de três a quatro pavimentos.

Porém, a chegada a Kamanesh causou um choque ainda maior no trio. Não havia novas construções, e as antigas, tinham uma aparência de abandono. As áreas verdes que outrora eram bem cuidadas estavam arrasadas. O povo nas ruas parecia triste e oprimido. A alegria daquela cidade havia se apagado. As casas estavam sujas e muitas semi-arruinadas. O número de mendigos nas ruas lamacentas parecia ter triplicado, havia lixo acumulado, dejetos e nuvens de moscas. O mau cheiro era nauseante. Passaram pela rua da casa de Kyle onde funcionava a oficina de Gorum. Estava aos pedaços e dentro dela puderam ver algumas famílias de mendigos brigando entre si por comida. Aquela imagem foi a mais chocante de todas para eles. Passaram a imaginar o que poderia ter acontecido com outras cidades do reino que não fossem a capital.

Souberam que o velho Duque Dwain, agora Arquiduque de Kamanesh, raramente saia de seu castelo. Após a morte de seu filho e único herdeiro, Sir Clyde, anos atrás, tornou-se recluso, sem se importar com as necessidades de seu povo. Clyde possuía ideais e disposição para combater o governo corrupto. Apesar das advertências de seu pai, mais cauteloso, envolveu-se com a rebelião, pouco antes desta receber o golpe final e ser extinta. Foi executado pelos necromantes no pátio de seu próprio castelo. Aquele evento transformou profundamente o duque. Este manteve sua posição na medida em que se afastou da política deixando a administração do ducado para os conselheiros corruptos apontados pelo governo central.

Receber o título de Arquiduque não mudou em nada seu estado de espírito, porém, quando soube que o jovem Kyle Blackwing havia retornado de uma longa jornada e que recebera a posição de primeiro cavaleiro, veio-lhe um sentimento nostálgico. Isto o fez abandonar sua torre para ter uma conversa com ele.

Kyle foi chamado ao castelo ao passo que Kiorina foi visitar sua velha escola. Gorum foi para o porto em busca de uma taverna. O retorno ao lar tinha um gosto amargo que pretendia remover com algumas bebidas. Já Calisto alojou-se no castelo, pois estava ávido por uma boa cama e refeição.

A sala de audiências esteve fechada por muitos anos. Estava poeirenta e com cheiro de mofo. A luz da tarde penetrava pouco pelas frestas das pesadas cortinas que cobriam as janelas do amplo recinto. Alguns homens de Dwain que ali estavam foram dispensados pelo nobre – Deixe-nos a sós! – sua voz soou envelhecida e pesada.

Kyle aproximou-se e ajoelhou-se diante do nobre que cortou as formalidades – De pé, rapaz. Deixe disto.

– Duque, digo Arquiduque Dwain, fico honrado em estar aqui.

– Já disse, Blackwing. Sem formalidades. Chegue mais perto, quero vê-lo.

Kyle se aproximou a ao ver Dwain de perto teve a mesma sensação de estar olhando para as ruas de Kamanesh. Lamentou constatar a óbvia decadência. Seu rosto agora estava enrugado, os cabelos e bigodes antes grisalhos agora eram ralos e brancos. Os olhos mais apertados, pareciam cansados quase sumindo sobre a pele que caia sobre estes. Estava fora de forma e acima de seu peso.

– O tempo foi generoso contigo, Blackwing.

– Obrigado, senhor – Kyle tenou pensar em algo interessante para dizer, mas sentiu-se constrangido.

O nobre prosseguiu – Tive notícias da passagem de vocês por Dacs. Atir ainda me escreve, de tempos em tempos. Então, me diga, o tal oráculo é real? Conseguiram encontrá-lo?

– Sim – Kyle baixou a cabeça – Mas temo que suas revelações não vão ajudar muito o império lacorês.

– Império! Maldito seja Maurícius e sua megalomania. Essa história de império precisa acabar logo, senão Lacoresh estará definitivamente arruinada.

Oráculo EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora