Hana sentia-se desconfortável na companhia de seus irmãos. Serin tinha sempre um sorrisinho cínico estampado e algo perverso em seus pensamentos íntimos. Hana observava-o em seus belos trajes de gala e imaginava se ele sabia de seu parentesco com Calisto. Já Lanark, também sorridente, só tinha futilidades em mente. A boa relação deles se rompeu depois que Hana fugiu de Snowshore para Tisamir. Ela não reconhecia mais o irmão dos tempos de infância. Tão egocêntrico que mal conseguia representar seu papel de príncipe herdeiro de Lacoresh. O pai usou a saúde frágil como desculpa para não viajar a Homenase, mas ela sabia que estaria em seus laboratórios conduzindo suas experiências, ou planejando suas futuras guerras.
A parada militar nas ruas era de encher os olhos. A capital estava cheia e o clima agora era animado. Até poucas semanas, os habitantes do reino vizinho estavam apreensivos. A reunião massiva de tropas de Lacoresh indicava que haveria uma guerra. Boatos foram espalhados neste sentido, e os homaneseanos também ergueram suas forças bélicas. Entretanto o conflito eminente foi revertido após o conveniente ataque de bestiais ao Reino de Trelis, ao norte de Homenase. Consequentemente, Homenase ficou sob ameaça direta de uma invasão dos bestiais. Agora o numeroso exército Lacorês marchava através da capital ovacionado pelo povo. O regente, Alneir, governava no lugar de seu sobrinho, o jovem herdeiro ao trono, filho do falecido Rei Nasbit. Este foi dado como morto, pois seu corpo nunca foi encontrado. Ele visitava o Rei Corélius na ocasião do ataque que Lacoresh sofreu de uma horda de mortos-vivos. Tudo fora parte do golpe que levou os necromantes ao poder em Lacoresh. Na época, Alneir, junto com os necromantes ofereceram a Nasbit o exílio em Dacs, ou Keldor. Ameaçavam a vida de seu filho e filha. Nasbit fingiu aceitar, mas desembarcou na última hora e sob disfarce ficou em Lacoresh tornando-se um dos membros chave da rebelião contra o Rei Maurícius.
Agora, a Princesa Priska, filha de Nasbit se casaria com o príncipe herdeiro de Lacoresh, Lanark. A aliança entre os reinos seria tão forte, que Alneir havia convencido o conselho de protetores do reino a submeter a soberania de Homenase às coroa Lacoresa. Era esperado que o velho rei falecesse em breve, e então, Lanark e Priska comandariam os reinos vizinhos de modo unificado.
Um arauto homenaseano anunciou a presença do General, Cavaleiro Julius Fortrail, comandante do exército Lacorês. O Cavaleiro Carmim liderava a tropa de cerca de dois mil cavaleiros de Lacoresh. Sua armadura prateada reluzia e o imenso manto vermelho cerimonial cobria suas costas e descendo até próximo do chão cobrindo também sua montaria.
Hana olhou-o com amargura do alto da varanda do Palácio Dourado, sede do poder do reino vizinho. Lembrou-se da época em que ele partilhou seu leito. Ele havia se aproveitado de sua fragilidade nos anos que se seguiram ao seu retorno traumático a Snowshore. Depois, não quis levar o romance adiante. Ela chegou a amá-lo, mas ficou magoada e agora nutria profundo desprezo por ele.
- Veja irmã - atiçou Serin sorrindo - o galante Cavaleiro Carmin. Está um pouco velho, mas é solteiro, talvez constituísse um casamento adequado para você, caso nossas propostas para Trelis, Lairen ou Yrquônia sejam recusadas.
Hana olhou-o queimando a bile no estômago e sorriu - Sim, irmão, e você poderia se casar com a égua dele para mantermos a família bem unida.
Serin gargalhou suavemente. - Sempre tão gentil. É mesmo a filha de nosso pai.
Lanark cutucou Serin - Por falar em casamento, viu só como me dei bem? Olha essa princesa Priska! É o não é uma tentação?
- Estou contente por você irmão, pela primeira vez em toda sua vida está prestando um serviço a seu reino.
- Acha mesmo? - retrucou Lanark animado, sem perceber a ironia do irmão.
Serin rolou os olhos e comentou com a irmã. - Se não fosse tão parecido com papai, diria que esse aí é filho do ferreiro.
- Quem? - indagou Lanark sem entender.
Serin estremeceu, mal-humorado. - Ninguém, Lanark. Ninguém!
Hana mudou de assunto - Vejo aqui todos os barões de Lacoresh. E quanto ao Barão Calisto? Não foi convidado para a cerimônia?
Serin respondeu - O pequeno barão parece estar no meio de uma longa viagem. Ouvi dizer que talvez nem volte.
Hana alisou os cabelos que escorriam como uma cascata em seu flanco direito - Papai iria adorar isso. Ele não esconde o quanto detesta o rapaz, ficou a imaginar o porquê disto.
- Mas eu acredito que ele retorne em breve.
- Quem te contou isso irmão? Alguma de suas sombras?
- Sim, a mesma que descobriu o quanto você está interessada nele. Acha então que o ex-plebeu seria um melhor partido que os príncipes e duques para os quais estamos fazendo propostas?
- Não, definitivamente não o vejo mais como um possível partido. - Hana respondeu secamente e Serin pode ler a verdade em suas palavras.
- Mas o que a fez mudar de ideia, irmã? Podia jurar que você estava muito interessada nele não faz muito tempo.
- Acho que você entendeu tudo errado. Meu interesse nele era por simples curiosidade.
- Ah, quer dizer que já matou essa curiosidade? - Serin voltou a sorrir. - Então me diga? Que tal o desempenho do rapaz?
O pensamento de que poderia ter se envolvido com seu próprio filho fez Hana perder um pouco o controle - Seu idiota! - disse mais alto, chamando a atenção dos nobres lacoreses e também de alguns homenaseanos. Hana corou com os olhares sobre si, levantou-se, e segurando a barra do volumoso vestido verde-escuro, entrou de volta no amplo salão de recepções do terceiro andar do palácio.
Serin levantou-se e disse a todos - Peço desculpas, fiz uma brincadeira de mau gosto com minha irmã. Coisa de irmãos, entendem? - Depois de dadas explicações, foi atrás da irmã.
O príncipe Lanark completou - Esses dois estão sempre brigando, mas, no fundo, se amam muito.
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Oráculo Esquecido
FantasíaAs esperanças do reino de Lacoresh estão nas mãos de Kyle e seus companheiros e sua missão de obter respostas junto ao Oráculo. Mas antes de obter tais respostas, outras revelações mostram que um mal que surge nos reinos do Vale Verde. Seria algo o...