CAPÍTULO 65

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Tonuak era uma cidade muito diferente do que o capitão Gangi se recordava. Há cinquenta anos aquele local não tinha nem a metade  do tamanho atual. Agora, muitas pontes de madeira cruzavam o Grande Rio e os portos estavam cheios de navios de todos os tamanhos. Havia uma nova construção, um palácio com três torres de madeira que podiam ser vistas ao longe.

A breve viagem, durou dois dias seguindo curso favorável do rio. Mas era possível reconhecer a Tonuak de outrora através do estilo de construção. Casas e mais casas de madeira amontoadas umas sobre as outras, de dois ou três pavimentos e numerosas escadarias e pontezinhas estreitas ligando as construções aqui e ali acima do nível das ruas.

Gorum desceu do barco e comentou bem humorado – O cheiro é horrível! Quase me sinto de volta a Lacoresh.

Kiorina, com um lenço pressionado contra o nariz, retrucou nasalada – vou demorar a me habituar. – Sentia saudades dos ares perfumados de Banzanac.

A tripulação desceu e Gangi resmungou – Não fedia tanto assim nos velhos tempos.

Gorum abraçou-o com afeto – Adeus Gangi, espero que consiga voltar a prosperar na navegação e no comércio.

– Obrigado, Gorum! Obrigado srta. Kiorina por esta oportunidade. Ficaremos honrados em recebê-los em Banzanac, caso decidam retornar algum dia.

– Nós é que agradecemos – Kiorina convocou ventos nos arredores para aliviar o mau-cheiro. – Agradeça ao Mestre Wbick, mais uma vez, por nós!

– Farei isto!

Despediram-se dos demais e seguiram cidade adentro com as mochilas bem carregadas de suprimentos e mais alguns presentes de Wbick. Visavam localizar o Estrela do Crepúsculo. As ruas da cidade eram movimentadas e as pessoas se vestiam de modo que lembrava Homenase, reino vizinho de Lacoresh. Homens usavam calças negras ou marrons, camisas brancas, cinzentas e ocasionalmente vermelhas. As mulheres, vestidos leves, cinzentos ou marrons, com detalhes bordados em branco. Tinham lenços sobre as cabeças e, reservadas, desviavam seus olhares. Já os homens encaravam com desconfiança a dupla de estrangeiros.

Perguntaram em algumas tabernas e seguiram para o ouro lado da cidade até um local chamado Baixo dos Peixes. Apesar do forte cheiro de peixes, ali não era tão fedido quanto a região de que vieram. Havia sim, uma enorme quantidade de gatos, cães e tupins que pareciam conviver pacificamente à espreita de restos de comida que eram abundantes naquelas paragens. Kiorina abaixou-se para examinar uma daquelas curiosas criaturinhas que ocasionalmente ficavam sobre as duas patas. Eram cinzentos e rajados de preto com grandes bigodes brancos e corpo esguio. Os focinhos eram compridos. Tinham pequenos olhos vermelhos e grandes orelhas desproporcionais, parecidas com as de cachorros, ficando ora abaixadas e ora meio suspensas, girando para lá e para cá. Andavam em pequenos bandos e logo mostravam a língua estreita, larga garganta e pequenos dentes serrilhados em toda extensão da boca.

– Como são engraçados – Kiorina sorriu pela primeira vez desde que saíram de Banzanac.

Gorum aproveitou a deixa – Se parecem com aquele seu amigo, o Ector.

Kiorina caiu na gargalhada e passou a imaginar se um dia voltaria a vê-lo.

Uma voz familiar veio de trás deles – Não acredito no que estou vendo!

Ambos se viraram para ver aquele baixinho magricela de cabelos encaracolados ruivos e um largo sorriso no rosto.

– Kleon! – os lacoreses exclamaram em uníssono.

O chiris saltou para cima de Kiorina abraçando-a e, em seguida, fez o mesmo com Gorum.

– Puxa! An Lepard e a tripulação ficarão felizes em vê-los.

Oráculo EsquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora