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Jogador

Se a vida que eu levo fosse fácil, não existiria trabalhador mais. A gente sai sem saber se vai voltar. Vivo enfurnado em favela. Quando não é a minha, é a dos parceiros. Mas sair? Shopping? Praia? Nunca mais!

Entrei nessa pra não passar fome!

Fui pai aos dezessete anos. Nunca tive nada sério com a mãe dela, mas fui o primeiro homem dela. Eu trabalhava quando Dafne nasceu e além de sustentar ela, sustentava minha família. Meu pai era alcoólatra e cheirava pra caralho. Todo dinheiro que ele pegava era pra bebida e pó.

Enchia a cara de cachaça e cocaína, depois vinha agredir minha mãe. Quando isso acontecia, eu era novão e não sabia como reagir. Depois eu cresci e deixei bem claro que se eu visse isso acontecendo de novo, eu ia mandar ele pro hospital. Ele não levou fé, até o dia que eu parti pra cima dele. Ele ficou um bom tempo sem encostar na minha mãe, se batia eu não sabia.

Da última vez que ele agrediu minha mãe, eu cumpri o que prometi: Mandei pro hospital. Meti a faca nele, uma pena que não matei de vez. O desgraçado foi pro hospital, só tomou uns pontos e sumiu no mundo.

Hoje não sei se ainda é vivo, por onde anda ou como vive. E sinceramente? Nem quero saber. Logo depois da saída dele, eu perdi meu emprego. As coisas começaram a apertar. Eu tinha que me dividir em pagar aluguel e pensão. Não conseguia emprego em lugar nenhum, de nada. Imagine eu, com 17 anos, 3 meses de pensão atrasada e 4 de aluguel. Imaginou? Agora vê aí se eu tinha outra solução pra conseguir dinheiro o mais rápido possível? Não tinha, parceiro! Entrei pra boca, mas já entrei como segurança.

Fogueteiro? Vapor? Duvido! O mano me conhecia de anos, sabia da minha situação e me botou de segurança dele. Em pouco tempo eu já tinha pago todas as minhas dívidas. Todo dinheiro que eu pegava, era pra dentro de casa e pra minha filha. Depois fui pegando o gostinho dessa vida. Depois que eu descobri que com um radinho na cintura, mochila nas costas e uma glock, eu poderia ter a mulher que eu quisesse e o que eu quisesse, não quis outra vida.

É bom pra caralho tu ter dinheiro pra comprar o que quiser e quando quiser. Mas só o fato de perder toda a liberdade de ir e vir de onde quiser, já dá vontade de sair. Dá vontade de sair quando vejo minha mãe chorando, dizendo que morre de medo de ter que me enterrar um dia. O tempo foi passando e eu só ganhando moral no meio dos cara grande. Anos depois, meu patrão foi preso. Eu já era gerente. A ordem que veio de lá de dentro era que eu tinha que ficar de frente. Pela hierarquia, nunca que eu ia ficar de frente fácil assim. Mas a ordem veio de lá de dentro, dos que estão bem lá em cima da hierarquia mesmo. Se eles mandaram, não tem quem desmande!

Os caras estavam na minha frente na hierarquia, passaram a me odiar. Uns até queriam minha cabeça. E olha que a gente era tudo parceiro! Reforcei minha segurança, mas agora eles estão de boa. Tão vendo que a gestão é tão inteligente quanto a que veio antes de mim.

Resolvi umas paradas na rua, depois fui pra casa da Cris.

Tenho um caso com essa mina a maior tempão. Bagulho de anos mesmo. Ela fala pra caralho bagulho de morar juntos e tals, mas eu fujo do assunto. Quero rabo preso com ninguém. Mas enquanto eu estiver atuando ali, é meu e pronto.

Cris: Tá fazendo o quê aqui?-Cruzou os braços e eu sentei no sofá.

Jogador: Posso não?

Cris: Não! cadê tua pretinha, pô? Tu não tava de rolezinho com ela lá no Pinheiro semana passada? Volta pra lá, Rodrigo!

Jogador: Eu? Rolezinho com quem? Tá doida? Tava só com os crias mermo!-Se eu não fosse bandido, ia ser ator. Papo reto!

Cris: Mentiroso toda vida, né?-Ela já tava bem exaltada-Quem me falou não ia mentir pra mim não, Rodrigo! Quase duas semanas sem nem me procurar, agora aparece com a cara mais deslavada do mundo, né? Num fode!

Jogador: Olha a boca suja!-A repreendi-Não vim aqui porquê tava sem tempo, cara. Tava com ninguém não. Para de acreditar nos outros, Cristiane!

Cris: Tu é sonso, né? Sem tempo só pra mim! Porquê pra tua ninfetinha do Pinheiro, você teve muito tempo. Ó, pra mim já chega. Pega tuas roupas que tá aqui, tuas coisas e some. Não quero mais!

Jogador: Para de graça, mô. Vem cá...-Puxei ela pela mão e a coloquei no meu colo-Eu não tava com ninguém, cara.

Cris: Eu tô ficando cansada disso, Rodrigo. Toda vez uma piranha diferente, poxa. Você não pensa em mim hora nenhuma.-Enfiei a cara no pescoço dela, rapidinho ficou mansa-Para com isso...

Jogador: Fica de boa comigo, nega. Quero brigar não-Segurei o rosto dela e dei um selinho.

Depois dali o pau quebrou firme.

Jogador: Coé, Duda!-Bati na porta do quarto dela, logo ela me atendeu-Leva pra minha pretinha.-Entreguei a ela um celular na caixa.

Duda: Gente, chocada! Melhor do que o meu? Pra mim tu não dá desse, né?

Jogador: Ah, o teu tá novinho aí. Depois nós troca também

Duda: Tu tá ligado que ela não vai aceitar, né?

Jogador: Fala que é só por enquanto, só pra ela trabalhar mesmo. Depois ela compra um.-Ela concordou.

Duda: Aí quer dizer que você vai dar um iPhone XR, pra uma mina que tu só ficou uma vez?

Jogador: Uma?-Ri-Tá por fora mermo...-Saí rindo e ela ficou me chamando.

Duda: Rodrigo, volta aqui! Você vai me contar tudo AGORA!-Desci rindo a beça.

Saí de lá e voltei pra casa da Cris. Fico na casa dela direto quando não tô ocupado. Só fico em casa mesmo quando Dafne resolve ir pra lá. Tirando isso, ou eu tô pela rua resolvendo alguma coisa ou tô aprontando. Palavras da minha mãe.

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