DANDARA

35

Cristiane

Não sabia que minha gravidez seria o momento mais triste e solitário da minha vida inteira. No começo me senti completa, por Deus ter me feito mãe. Mas depois fiquei sozinha. Não tinha o Rodrigo comigo, não tinha uma amizade, nem minha mãe. Esse momento era pra estarmos juntas, mas não vejo minha mãe desde que saí de casa.

Eu saí da casa da minha mãe e fui morar com uma tia minha aqui na Pedreira por causa do meu padrasto. Me viu bebê, me criou desde que nasci, e depois me viu com malícia. Ele não chegou a fazer nada comigo, graças a Deus. Mas ele me olhava no banheiro, ficava me cantando quando minha mãe não tava em casa. Quando criei coragem e contei, ele me colocou como a errada e saiu como a vítima. A versão que ele contou foi que eu dava confiança, eu jogava pra ele. Eu só tinha 15 anos, era moça, mal saía de casa. Não tinha maldade. Ela acreditou nele e me deu uma surra daquelas. Saí de casa só com a roupa do corpo e com dinheiro da passagem. Minha tia nunca mais deixou voltar.

Não vou mentir, fiquei sim com outros caras por interesse. Saía com homens comprometidos sim, infernizei muitos casamentos. Hoje eu tenho certeza que tô pagando por tudo que fiz. Não consegui nem segurar o homem que eu tanto lutei pra ter comigo. Rodrigo me ajuda muito, mas não temos nada desde que ele ficou com essa menina.

Entrei em depressão pós parto depois que Ruan nasceu. Dói demais não ser uma mãe 100% pro meu filho, o único homem que vai me amar eternamente. Às vezes ele tá chorando pra caramba e eu não consigo nem pegar ele no colo. Choro juntinha. Rodrigo cansou de chegar aqui e tá eu e o Ruan chorando. Ele fica tentando me acalmar pra eu acalmar o bebê. Pra ter noção, eu quase matei meu filho sem querer. Eu o deixei cair dentro da banheira cheia. Ao invés de tirar logo, eu fiquei olhando. Dafne que tirou correndo, pois eu não tive reação. Fui arrasada depois. Se ela não tivesse ali, com certeza seria dois enterros.

Hoje me vejo perdida. Sem condições mentais, emocional, pisicologicas pra cuidar de um bebê sozinha. Já pensei  em diversas vezes em me matar e acabar logo com tudo isso.

Não sei o que fazer pra sair disso. Tô caminhando para a igreja desde o último mês de gestação, mas não tô melhorando em nada. Pelo contrário, parece que cada dia eu me afundo mais. Peço a Deus todos os dias forças pra continuar. Mas tá difícil pra caralho.

Hoje Ruan acordou bem cansado de bronquite. Dei nebulização, os remédios tudo direitinho, mas não resolveu. Logo hoje que já estávamos com tudo pronto para ir pra Paraíba, pra casa da minha única irmã. Nossas coisas já estavam arrumadas nas malas. Arrumei uma bolsinha e levei Ruan no upa. Chegamos na upa às 13h, o ônibus ia sair às 19h.

Ruan foi atendido cerca de 30 min. Depois que chegamos ele foi atendido e foi colocado direto na nebulização novamente. Tomou a primeira, meia hora depois depois tomou a segunda. Quando acabou a segunda, fui lá fora pra ligar pro Rodrigo. Pelo visto, Ruan ficaria o dia todinho nisso.

📳

Jogador: Alô?
Cris: Rodrigo, tô no upa com Ruan. Ele tá cansadinho pra caramba.
Jogador: Papo reto?
Cris: Ele já tomou duas nebulizações, daqui a pouco vai tomar a terceira e não melhora. Tem como tu vir aqui?
Jogador: Cara, tu sabe que não tem como eu ir no upa. Tu tá ligada que tem polícia aí dentro.
Cris: E eu vou ficar o dia todo aqui sozinha com ele?
Jogador: Eu vou mandar a Dafne ir aí pra te acompanhar, jae?
Cris: Você quem sabe

📴

Desliguei na cara dele. Porra, Rodrigo é foda. Realmente, tem dois carros de polícia aqui. Entrada de favela é assim! Levei Ruan pra tomar a terceira nebulização e ele dormiu no meu colo.

Enfermeira: Ele tá cansando desde cedo?-Perguntou e eu desviei o olhar do meu filho pra ela.

Cris: Ele começou ontem a noite, mas eu tava tentando controlar. Quando foi hoje, piorou e eu corri com ele pra cá.

Enfermeira: Por que não trouxe ele ontem mesmo? Se tivesse trazido ele antes, ele não estaria tendo uma crises dessas.

Cris: Eu achei que ele ia melhorar.

Enfermeira: Toda vez que ele começar uma crise, você tem que trazer ele-Concordei. Ela falou com as outras pessoas que estavam ali e saiu.

Nossa, mulherzinha grossa! Me senti a pior mãe do mundo. Eu realmente não tenho condições de criar uma criança. Qualquer hora dessas eu mato meu filho sem querer.

Que vontade de chorar!

Duda, irmã do Rodrigo, entrou na sala e eu fiquei surpresa.

Duda: Dafne não pôde vir...-Assenti-Como ele tá?

Cris: Acabou de dormir. Agora tô achando ele menos cansado-Ela sentou na poltrona que estava vazia-Você pode ficar com ele só um pouquinho, pra eu ir no banheiro?-Ela assentiu. Levantei com Ruan no colo, ela sentou no meu lugar e eu o entreguei para ela.