Ela.

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Guilherme on

Eu jamais imaginei que eu iria conhecer o amor da minha vida num acidente de avião, mas eu conheci.

Conheci a garota mais abusada desse mundo, a garota do olhar e do sorriso mais encantador.

Conheci ela, conheci Flávia, a mulher da minha vida.

Abusda, destemida, valente, bonita, educada, inteligente.

Me faltam palavras para descrever Flávia.

Ela era indescritível.

Ela era única.

Eu sabia que uma hora ou outra poderia perder ela, sabia, claro que sabia.

Mas como lidar com o vazio que ela me deixou?

Como conseguir dormir sozinho depois de passar oito meses dormindo ao lado dela?

Como poder voltar no tempo e aproveitar cada segundo novamente?

E quando eu digo voltar ao tempo, não digo voltar aos oito meses, e sim ao dia do acidente.

Voltar e fazer tudo certo, voltar e aproveitar cada momento ao lado dela.

Afinal, eu teria tido mais tempo com ela se eu não fosse um imbecil que só pensava em reconquistar uma mulher que nunca me amou.

Flávia veio como um furacão em minha vida, colocando tudo de cabeça para baixo.

Ela veio trazendo cor e sentido a minha vida.

Ela veio me mostrar o que realmente era amar e ser amado.

Ela nunca teve medo de dizer que era a mulher da minha vida, nunca teve medo de assumir os seus sentimentos, já eu...

Eu demorei, demorei para olhar no fundo dos olhos dela e dizer o quanto eu a amava.

Eu errei muito com Flávia, mas ela me perdoou e aceitou viver uma vida ao meu lado.

Uma vida simples, sem cobranças, sem brigas, sem dúvidas, uma vida feita apenas de AMOR.

Oito meses foram poucos para nós, na verdade, a vida inteira seria pouca para mim demonstrar o quanto eu a amava.

Nem que eu vivesse mil anos, conseguiria dizer o quão grande era meu amor por ela.

Eu não entendo o porquê ela, por que a morte quis levar ela?

Flávia finalmente havia se acertado com a vida, tinha achado um grande amor, ajudou o seu pai, e finalmente achou sua mãe e a perdoou.

Mas a morte não queria saber disso não é?

Ela apenas se importava em cumprir a sua promessa.

E cumpriu.

Ela levou o meu grande amor.

Levou a filha do Juca.

Levou a filha da Paula.

Levou a irmã da Ingrid.

Levou a "filha" do neném.

Levou a amiga da Tina e da Bianca.

Levou a madrasta e amiga do tigrão.

Levou a amiga da Deusa e do odailson.

Levou a mãe Flora.

Levou uma jovem cheia de sonhos.

E eu nunca irei perdoar a morte por isso.

Era eu que deveria ter sido o escolhido, eu já havia vivido uma vida antes de conhecer ela, eu tinha que ter sido o escolhido.

Flávia tinha um mundo inteiro para conhecer.

Tinha talento de sobra para ser reconhecida pro resto da vida.

Ela tinha absolutamente TUDO, menos tempo.

1 ano não foi, e nunca será suficiente.

Na verdade foi suficiente, por alguns momentos foi suficiente sim.

Foi suficiente no momento em que nos amamos pela primeira vez, no momento em que descobrimos que seríamos pais, no momento em que nos casamos, no momento em que escutamos o coração da nossa filha pela primeira vez, no momento em que descobrimos que seria a nossa tão esperada menina, e nos momentos em que trocávamos juras de amor.

É, talvez o tempo tenha sido um pouco suficiente.

Hoje a minha vida já não é mais a mesma.

As noites são dolorosas, e os dias cansativos.

Um lado da cama está vazio, e ninguém irá preencher esse vazio.

Meu único motivo para continuar é Flora, a nossa tão sonhada filha, a qual Flávia me fez prometer que eu iria cuidar e amar para sempre.

E assim estou fazendo, ou melhor, estou tentando fazer, afinal, sem Flávia do meu lado as coisas estão difíceis.

Ter Flora ao meu lado é saber que uma parte dela está aqui comigo.

Flávia prometeu que não iria me deixar só, e cumpriu sua promessa.

O fato da morte ter levado flávia no dia do parto é algo que me mata por dentro, afinal, Flávia sonhava tanto em conhecer a nossa filha e infelizmente não teve essa oportunidade.

Flávia resistiu até o último segundo da cirurgia apenas para salvar Flora.

Eu vi a mulher da minha vida indo embora e pela primeira vez na vida eu não pude fazer nada a respeito.

Logo eu, Guilherme Monteiro Bragança que nunca havia perdido um paciente, pela primeira vez perdi, e perdi a paciente mais importante da minha vida.

Tudo tem uma primeira vez, e infelizmente a minha primeira vez perdendo um paciente não foi como eu esperava.

Flávia desde o começo tinha certeza de que seria a escolhida e nunca fez questão de esconder isso, muito pelo contrário, sempre me disse isso e pedia mil coisas para mim fazer depois que ela fosse embora.

Uma dessas coisas era que eu me apaixonasse de novo, ela dizia que eu tinha que amar novamente, que eu não poderia fechar o meu coração, que eu precisava amar e ser amado novamente pois eu merecia mais do que um amor de oito meses.

Mas não, não quero um novo amor, não quero.

Flávia não era apenas um amor de oito meses, ela é um amor de uma vida inteira.

O meu grande amor.

A pessoa que me ensinou a amar de verdade.

Hoje eu entendo o peso da saudade, entendo o quanto amar alguém dói.

Entendo que ela não vai voltar.

Entendo que não posso me culpar para sempre por ter deixado ela ir.

Ela precisava ir, não precisava?

Mas ela, por que ela?

Eu a amo tanto.

Eu me sinto tão só sem ela.

Eu precisava tanto dos carinhos dela.

Eu precisava escutar ela falando que me amava pelo menos mais umas mil vezes.

Eu precisava passar o resto da minha vida com ela.

Porra, eu precisava ter dito o quanto eu a amava mais vezes.

Agora já é tarde, ela não está mais aqui, e eu não posso trazer ela de volta.

Mas eu queria, queria pelo menos mais 5 minutos ao lado dela, só para dizer o quanto eu a amo e para escutar ela me chamando de "meu amor" ou de "Doutor" como ela costumava a me chamar.

Hoje as lembranças me matam, e me fazem eu me sentir vivo.

Isso não faz sentido, eu sei.

Mas a nossa relação não era para ser entendida, apenas era para ser vivida.

E eu vivi, e viveria mais umas mil vezes.

Viveria tudo de novo, afinal, todo o tempo do mundo com ela, foi pouco.

Impossível não lembrar do nosso amor |FlaGui- oneshots Onde histórias criam vida. Descubra agora