Ausência.

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Não sei qual foi a última vez que eu dormi bem, e eu não digo isso porque eu tenho uma recém nascida em casa.

Não, o problema não é ela, nunca foi.

Meu problema é o pai dela, o homem que eu me entreguei por inteiro, mas que infelizmente não obtive a mesma reciprocidade.

Guilherme nunca foi em nenhuma consulta do pré-natal, e muito menos acompanhou o parto.

Desde que conheci ele, a minha vida já não foi a mesma, muita coisa mudou e mudou rápido demais.

Num dia eu estava conhecendo ele, no outro já estávamos morando "juntos."

Não posso dizer que me arrependo totalmente, afinal, ele sempre tenta me dar carinho.

Posso estar sendo egoísta, mas isso não é o suficiente, não é isso que eu quero.

Eu quero um homem que me ame por inteiro, um homem que não tenha medo de me assumir, e assumir suas responsabilidades.

Entendo que quando nos conhecemos ele havia saído de um casamento, tudo bem, eu realmente entendia isso.

Mas não foi eu quem soltou o primeiro "Eu te amo"

Não foi eu quem pediu para que eu fosse morar com ele.

E muito menos foi eu quem planejou um filho.

Não estava nos meus planos ser mãe agora, e eu achava que também não estava nos planos dele ter outro filho.

Mas bastou uma vez.

Bastou um "Eu quero formar uma família com você."

Quando eu apareci grávida, guilherme faltou soltar fogos de tanta felicidade.

Foi ali que eu achei que poderíamos finalmente ser uma família feliz.

Mas não, a ausência dele permaneceu.

Nunca apareceu em nenhuma consulta, e nunca esteve ao meu lado quando eu passava mal.

Segundo ele, ele tentou chegar a tempo do parto, mas não conseguiu.

E eu desculpei ele, ele me prometeu que não iria me deixar só novamente.

E eu acreditei, afinal, por que não acreditaria?

Mas quebrei a cara novamente, o trabalho dele era mais importante do que qualquer coisa.

Essa é, e sempre foi a vida dele não é?

A Clínica Monteiro Bragança sempre foi a coisa mais importante da vida dele.

Eu o admiro por tudo que ele faz, por todas as vidas que ele já salvou, mas poxa, custa aproveitar um pouco da vida?

Acho que um tempinho de férias não o mataria né?

Eu acho que não estou pedindo nada demais, estou?

É pedir demais ser amada?

É pedir demais um pouco de atenção?

Eu me sinto sozinha, sinto saudades de conversar com ele, saudades de ouvir e ser ouvida.

Saudade.

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-Boa noite meu amor.- Meus pensamentos foram interrompidos quando guilherme adentrou o quarto.

-Boa noite.- respondi.

-O dia hoje na clínica foi um caos.- Guilherme disse enquanto se deitava na cama.

-Quer me contar o que aconteceu?- Indaguei.

-Eu adoraria, mas estou muito cansado meu amor, deixa para amanhã. Vem cá, vem dormir comigo, vem.- Ele disse me puxando para se deitar com ele.

-Eu sinto saudade de quando você era presente.- Disse.

-Meu amor, você sabe que eu tento ser o mais presente possível, mas a clínica precisa de mim.- Ele disse.

-E eu e a sua filha não precisamos né?- respondi.

-Flávia você sabe que não é bem assim.- Ele disse enquanto se sentava para me olhar.

-Tá guilherme, tá bom. Faz o que você quiser da sua vida, mas não venha reclamar quando a sua filha crescer distante de você. - Disse.

-VOCÊ QUER QUE EU FAÇA O QUE? QUE EU LARGUE  A CLÍNICA, É ISSO?- O tom de voz dele estava alterado.

-Não guilherme, não quero que você faça nada, deixa do jeito que está. Afinal, eu já estou me acostumando a ficar sozinha, e a criar a NOSSA filha sozinha.- Disse enquanto me levantava da cama.

-Onde você vai flávia? Vamos conversar por favor. - Ele Indagou.

-Vou dormir em outro quarto guilherme, me deixa sozinha por favor.- Disse e sai do quarto.

Fui para o quarto da Flora, lá era o único lugar que eu me sentia bem.

-É meu amor, pelo visto somos só nós duas.- Disse enquanto pegava ela no colo e me sentava na cadeira de amamentação que havia no quarto.

-Acho que está na hora de tomarmos um rumo novo né?- Disse olhando para ela, que dormia tranquilamente.

Eu sei que é errado, mas eu preciso ir embora.

Não consigo continuar nessa relação e fingir que está tudo bem.

Eu precisava ir embora, e assim eu fiz.

Peguei algumas roupas e itens da Flora e meus, e fui para tijuca.

Deixei uma carta para guilherme explicando a situação e pedindo para ele não me procurar.

Eu entendo a paixão de guilherme pela clínica dele, mas ele não pode passar o resto da vida obcecado por ela.

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Impossível não lembrar do nosso amor |FlaGui- oneshots Onde histórias criam vida. Descubra agora