Capítulo 22

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Tentei chegar até a casa de Leila o mais rápido o possível sem exceder o limite de velocidade exibido nas placas ao longo da via. Parei em frente ao portão branco e buzinei. Percebi que a cortina da frente abriu e fechou rapidamente. Liguei para ela.

- Sou eu, Leila. – Dei outro toque na buzina e o portão eletrônico abriu.
Parei na calçada em frente a entrada da garagem, mal tinha aberto a porta e Leila já estava parada no gramado.

Ela vestia um cropped de manga princesa, shorts jeans com a barra desfiada e sandálias de salto quadrado.
Fabulosa como sempre.

- É disso que eu estou falando! – Aprovou abrindo os braços dramaticamente.

Revirei os olhos para o exagero dela, rindo do mesmo modo quando Leila jogou os braços ao redor de mim, em uma demonstração de seus abraços calorosos demais. Manuella saiu timidamente da casa, para ver o que estava se passando.

Notei que tinha alguma coisa errada com ela assim que meus olhos pousaram sobre ela. Parecia mais magra do que a última vez que a vi, olheiras escuras e a pele que costuma ser mais rosado, esta branca demais.

- Parabéns. Ele é lindo. – Sua voz embargou pelas lágrimas mal contidas ao se aconchegar em um abraço também.

- Olhos tão bonitos, jamais deveriam chorar. – Sequei uma lágrima grossa  que descia por sua bochecha, com o polegar. – Que tal entrarmos e conservar sobre isso?

Ela balançou a cabeça e passei um braço ao redor de seus ombros. Leila esperou sairmos na frente e fechou a porta depois de passarmos. Leila nos levou para sua magnífica sala de estar.

As paredes são pintadas de lilás pálido, vários quadros com pintura a óleo de paisagens. Os objetos decoração compostos de detalhes em rose gold. Vasos com tulipas e alguns livros posicionados sobre o rack abaixo da enorme televisão de tela plana pendurada ao centro.

Eu e Manu, nos sentamos em um sofá de canto branco com espaço para umas dez pessoas.  Leila se abaixou para pegar algo dentro das portas duplas do rack. Tateou no fundo e puxou um porta jóia para seu colo. Sentou ao meu lado e abriu a tampa.

O ar na sala ficou mais pesado e frio instantaneamente e senti fisgadas, como picadas de agulha no braço mais próximo ao porta joias. Magia Negra.

- Caramba. – Murmurei, esfregando os braços nus com as mãos.

Leila mexeu a caixa algumas vezes para ver a luz correndo sobre o ouro e a safira. Depois, fechou a tampa outra vez, deixando o porta joias no sofá ao seu lado.

- Quer falar para a Frozen como aquilo, Manu? – Leila cruzou os braços e se recostou no sofá.

- Imagino que já tenha colhido todas as informações. – Comentei.

- Pode apostar. – Confirmou. – E descobri que a Manu é maluca.

- Eu não tinha ideia do que poderia acontecer. - Manuella prendeu uma mecha de cabelo preto atrás da orelha. – Vocês fariam a mesma coisa se estivessem no meu lugar.

- Não se estivesse sozinha. – Leila devolveu.

E Manuella fez bico.

- Ok. Digam de uma vez. – Intimei as duas.

- A Manuella roubou essa joia do Miguel. E agora tá com medo de ir trabalhar, e ele estar esperando por ela nas sombras antes do amanhecer ou vestido de preto, escorado na parede ao lado da porta da floricultura, segurando uma lâmina de ninja, reluzente de tão afiada.– Leila falava de um jeito lento, sinistro e cheio de suspense.

Eu quis rir. Era o mesmo tom que ela usava para contar histórias de terror, quando a gente acampava na floresta durante o colégio militar. A maioria dos nossos colegas ficavam com medo.

- Por que quando ele descobrir que foi ela quem pegou vai procurá-la. – Leila estreitou os olhos para a amiga.

- Boba. – Repreendi Leila. Ela estava aproveitando o fato de Manuella estar nervosa para fazer piada.

- Eu não fiz por mal gente, eu juro. – Manu justificou-se alarmada. – Foi uma daquelas terríveis coincidências. Lugar errado, hora errada. – Esfregou os próprios braços, baixando o olhar para o chão.

- Parece que temos mais um ímã de problemas. E ainda somos amigas, o que poderia dar errado em nossas vidas? – Leila ironizou.

- Miguel é um cara meio esquisito mas, ele não vai te machucar, Manu. – Assegurei, ignorando as reclamações de Leila. – A Leila só esta te botando pilha por que você ficou com medo.

- Estraga prazer. – Leila cruzou os braços sobre o peito.

- Você não vai  poder ficar com essa jóia. – Informei. -Vou ter que confiscar.

- Eu nem pensei nisso. – Manu se apressou em dizer. - É toda sua.

- Sabe dizer se alguém mais viu, você e Miguel? – Questionei, já imaginando que a resposta seria negativa.

- Não, pelo menos acho que não. – Manu comprimiu os lábios. – Tava escurecendo já e quase não tinha movimento.

- Certo. – É claro que não tinham mais testemunhas. Na verdade, não deveria ter nenhuma. – E notou se tinham câmeras de segurança?

- Acho difícil. – Manteve o tom de voz baixo. -  Segui Miguel a pé e eles caminharam uma boa distância passando além da parte residencial, até a floresta.

Miguel sabia o que estava fazendo, atraiu o príncipe para um local afastando.

- A orientação que tenho a lhe dar é que registre a queixa, terá que voltar para Banff, onde aconteceu o crime. – Eu duvidava que alguém da corja de Lúcifer se atreveria a ir até a polícia reclamar do furto, no entanto era o procedimento de praxe.

- Como sabe que foi em Banff? – Leila indagou com curiosidade.

- Willian esteve brigando no clube  Stock Blue, ontem a noite. Bêbado e drogado. – Ressaltei me virando um pouco para Leila. - Mandei ele ligar para o Miguel busca-lo foi quando disse que Miguel, estava fora da cidade em uma investigação do escritório deles.

- Hum. – Leila murmurou pensativa.

- É você que decide Manu. – Mudei de assunto. Não tinha vindo ali para do anjo mais irritante que já tive o desprazer de conhecer. – É a única ligação entre Miguel e o furto.

- Não o quero fazer o BO. – A morena balançou a cabeça e fechou os olhos por breves segundos. – Sei que não é o mais correto a se fazer. Só que eu acabei de me mudar e conseguir um trabalho legal. Estou tentando recomeçar. Não quero voltar aos pesadelos antigos.

- Dá para entender. – Digo com gentileza. Ela tinha passado poucas e boas até ali, as lembranças de Rafael ainda doíam muito.

- E além do mais... – Deu de ombros. -  Ninguém acreditaria se eu dissesse o que vi. Por que nem eu consigo acreditar. Os polícias achariam que estou louca e a investigação seria arquivada.

Desviei o rosto. Leila também ficou calada, olhando para algum ponto da sala. É frustrante ouvir. Quando se trata de imortais as coisas são dessa maneira, não há provas, pois são como fantasmas. Alguns acreditam que eles existem, outros não. Alguns juram que já viram.

A lei humana não é capaz de fazer justiça. Pois não existem grades fortes o suficiente para prende-los. O que podemos fazer é esperar a intervenção divina.

- Eu poderia prender Miguel se o tivesse pego em flagrante ou com uma denuncia e em revista encontrasse a jóia em até vinte e quatro horas, mas nenhuma dessa situações é viável. – Era a melhor resposta que eu tinha para dar. - Você também não quer fazer o BO. Sinto muito, mas nesse caso estamos de mãos atadas.

- Mas, se quiser eu e a Frozen podemos nos disfarçar com toucas pretas ninja e ameaçar Miguel na rua com cassetetes. – Leila sugeriu, séria. 

O sangue sumiu do rosto de Manuella, e ela ficou pálida.

- Credo, Leila. Que violência.– Balancei a cabeça em negação.

- Ah, mas que seria divertido, seria. – Ela deu de ombros.

- Obrigada por se importarem.– Manu tinha as mãos em concha, presas entre os joelhos e tremia levemente.

O olhar de Leila pesava sobre mim e estabeleci uma via de conexão mental.

“ O que foi? Questionei sentindo a agitação dela.”

“Deviríamos contar a verdade.  Pensou. Saber não vai colocá-la em um perigo maior do que ela já corre. Tem energia residual de anjo e de demônio nela. Vamos ter que fazer um ritual de limpeza. Se não todo que é tipo de ser vai tentar atacar. ”

“ Tem razão. Devolvi o pensamento. Também vamos ter que ficar de olho na Manuella por uns dias até às coisas se normalizarem.”

- Que tal dizer com detalhes sua versão, sobre o que viu? Lembrando que já passamos por uma situação estranha antes. Sem julgamentos. – Pisquei para Manu.

Ela respirou fundo três vezes, e acenou com a cabeça, tomando coragem .

- Eu estava trabalhando com sua vó. Fomos a Banff com a van da floricultura, organizar um velório ontem a tardezinha. Ela conhecia a senhora que faleceu e ficou na igreja para a despedida. Fui até uma cafeteira comer alguma coisa, Linda ligaria quando estivesse pronta para voltarmos. Estava sentada esperando meu pedido e Miguel apareceu. Ele pagou o lanche para mim.

- Que fofo. – Leila interrompeu irônica. E Manu interrompeu em lágrimas.

Estreitei os olhos para Leila, a fuzilando por ser insensível.

- Miguel foi tão legal comigo. – Choramingou. – Eu estava sentada de costas e quando ele ia para saída da lanchonete, me virei na cadeira. Pela vidraça vi um cara fumando na calçada do lado de fora. Não sei explicar o que houve, mas tive uma sensação ruim. Senti um aperto no peito, parecia que eu o conhecia. O sujeito jogou o cigarro fora e seguiu na mesma direção que Miguel foi.

- A Manu  sente um amor platônico pelo Miguel, Frozen. – Leila expos a outra em tom conspiratório.  – Achou que ele ia ser atacado e que podia evitar. Eu te disse. Maluca. – Girou os olhos e o dedo indicador.

- Gosta mesmo do Miguel? – Questionei, porém na verdade nem precisava de muito para alguém ficar caidinha por ele, é um colírio para os olhos.

Ela ficou paralisada por um momento e depois fez que sim.

- Foi burrice, eu sei Laylah. Me desculpa. – Manu fungou. – Fala sério, como se eu pudesse fazer algo de verdade com meus dois pés esquerdos. – Se repreende.

- O que aconteceu na floresta? – Perguntei, mas era bem óbvio Miguel tinha derrotado o demônio. Já que Manu não tinha virado espetinho e estava com a peça infernal que impedia Azazel de voltar de Gehenna, ou o popular Inferno.

- Eles lutaram. E Miguel é muito forte. - Manuella tremeu involuntariamente. – Talvez pense que eu estou inventando essa história, mas vi coisas. O fumante, ele tinha dentes pontudos como os de uma raposa, unhas compridas que cortavam o tecido e os olhos dele eram... Vermelhos. – Engoliu em seco. - E isso não é tudo, Miguel ele emitia um halo esbranquiçado em torno do corpo, parecia um pisca pisca de natal.

- E a corrente de ouro, como você conseguiu pegar? – Perguntei.

- Miguel conseguiu arrancar do pescoço do cara na luta. Ele a jogou longe na direção dos prédios. Caiu no chão, perto de onde eu estava escondida. E na hora da adrenalina, eu a apanhei e fugi.

- Nenhum dos dois percebeu que você estava bisbilhotando o tempo todo? – Leila fez a mesma pergunta que eu teria feito.

- Acho que Miguel estava ocupado demais quebrando o pescoço do seu oponente, para me ver. – Comentou com horror.

Nossa, isso foi pesado.

- Vai ficar tudo bem, tá. – Apertei um dos joelhos de Manu com a mão.

- Manu, eu e a Frozen temos algo para lhe contar. Na verdade, já devíamos ter dito em Edmonton. – Leila admite. – Porém, achamos que as chances de voltar a acontecer eram mínimas.

- Do que tão falando? – Ela se afastou um pouco e secou as bochechas com as mãos.

- De uma explicação para todas as coisas estranhas que acontecem com a gente. – Afirmei, olhando para ela decidida. – Sabe por eu disse que Miguel não vai machucar você? Por que sei o que ele é. E ele não é mal.

- Laylah, eu gostaria de poder acreditar... – Manuella começou a negar, porém a interrompi.

- O brilho branco que você, viu era energia angelical. Ele não matou outra pessoa. Era um ser das Trevas. Miguel fez um favor a todas nós acabando com aquele demônio. - Afirmei.

Desperta-Me Para TiOnde histórias criam vida. Descubra agora