Capítulo 30

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Percebi exatamente o momento em que Miguel se deu conta, do que podia fazer, deixando o punhal cair no solo. Sem uma assembleia com os Arcanjos, me transformar em cinzas com fogo celestial é a única alternativa viável.

Os olhos de Miguel ficaram com aquela iluminação estranha outra vez. E me peguei pensando se deveria tentar correr e me abrigar. No entanto, minhas pernas não estavam em condições de ir muito longe.

Um sorriso se formou em meus lábios. Nada vem sem sacrifícios. Uma verdade dolorosa porém, necessária.

Eu ia cair. Mas, não sozinha. Levarei Miguel comigo. Esse era seria seu último movimento desesperado. Pois, irradiar todo o seu poder de anjo, o consumiria totalmente.

Chamei pelos elementos uma última vez, usando toda a energia que ainda restava em minhas células. E eles me envolveram em um abraço caloroso.

- Dê o seu melhor, Miguel. - O incitei a prosseguir.

Miguel bateu o pé no chão, luz branca saindo dele. A brisa que leve de suas asas se mexendo, bateu no meu rosto. e arrepiou os pelos dos meus braços.

Não desviei meus olhos, como pretendia fazer a princípio. Por que mesmo com medo, minha intuição dizia que não deveria fazê-lo.

" Miguel não faria isso. A voz de Gabriel ecoou dentro da minha cabeça."

" Nos ajude a encontrá-lo, anjo. Agora era Willian."

Miguel. Miguel. Miguel. Seu nome se repetia para mim, com uma canção.

Me vi ansiosa, para esclarecer o mistério. Continuei olhando para Miguel, dessa vez com mais afinco. Até que enxerguei sua aura.

O equilíbrio perfeito foi violado. Quanto mais próximo as bordas mais manchada estava. Foquei meu olhar sob a manchas escuras e reconheci que na verdade, elas tinham um formato de gotas escuras, ou lágrimas.

Lágrimas... De Demônio.

Fechei os olhos, quase perdendo o equilíbrio quando uma sensação me invadiu. Aquelas dores estranhas que sempre acompanhavam as visões.

E rapidamente a imagem de Miguel na cabana, apareceu diante dos meus olhos. Ele estava caminhando sem camisa na sala de estar, com uma garrafa de vidro na mão.

A visão se aproximou tanto do líquido transparente que ele bebia, que me permitiu enxergar as lágrimas prateadas dissolvidas em meio a vodka.

Miguel é mesmo do bem. Só está envenenado. A constatação me fez ofegar.
Lian e Gabi, estavam certos no final. Ele merecia o benefício da dúvida.

Havia esperança para eles. E me senti em paz, ao aguardar o desfecho de minha própria história. Mas, não foi como eu esperava.

Contei mentalmente trinta segundos, um minuto, um minuto e meio. No segundo minuto, eu me senti questionada.

Sempre imaginei a morte como um ser de frieza superior, veloz e inflexível.

Respirei fundo e exalei o ar com dificuldade. Lentamente, abri as pálpebras. Minha mente demorando um pouco para registrar e assimilar.

Willian esta aqui, bem diante de mim. Belo como um dia de primavera. Fiquei tão feliz em vê-lo, que se eu não estivesse acabada, o abraçaria.

O anjo de asas negras, me estudava com olhos tristes e preocupados. Poucos centímetros nos separaram mas, eu podia sentir o calor que se desprendida dele.

Mais a frente, Gabriel e um outro cara, que não reconheci na hora. Por sua aparência, cabelos e barba já grisalhos, ele de ser o ancião a quem recorreram.

Desperta-Me Para TiOnde histórias criam vida. Descubra agora