061.

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Correndo pelas escadas, sem um rumo certo, as gêmeas sentiam seus corações palpitando mais acelerados que o normal. A adrenalina se fez presente muito rápido nas veias das fadas, conforme o perigo foi altamente detectado.

Ao passarem pelo último degrau, Musa parou bruscamente, fazendo com que a de cabelos escuros trombasse levemente em suas costas com o ato repentino.

Estreitando os olhos, Ully avistou pela primeira vez, a figura estranha de um Raspador. A sensação de náusea abateu a fada da mente, que em um instinto involuntário colocou uma das mãos sobre o ombro da irmã, tentando puxá-la para trás.

Mas, a criatura pareceu detectar o movimento mínimo da garota, avançando com um pulo alto. Sem que tivessem muito tempo para raciocinar, as irmãs se afastaram, uma para cada lado do lugar.

O Raspador parou no meio das duas, dividindo seu olhar, parecendo estar em uma luta interna ao decidir em quem iria atacar primeiro.

Ully e Musa mantinham a respiração descompassada.

Nenhuma delas se preocupava com o que poderia acontecer com a própria pele, tudo que passava em suas mentes era a segurança uma da outra, se misturando com a preocupação relacionada aos especialistas do lado de cima.

A mais nova então tentou pensar em uma forma de agir. Tentou lembrar de como fez para que o cérebro de um Queimado explodisse. Mas, de alguma forma, aquela criatura conseguia ser composta de algo diferente.

E, por mais que tentasse muito lutar contra o cérebro dela, haviam muitas coisas impedindo. Talvez, o fato de um Raspador reter tanta magia alheia para si, fosse o motivo.

Sem dar mais tempo para que Ully pensasse ou agisse, o Raspador pareceu se entediar ao escolher sua primeira vítima. Em um ato súbito, a criatura correu em direção à Musa.

Musa, por sua vez, desviou em um triz, sem deixar de ser perseguida com afinco. Ully correu atrás da criatura, sua habilidade de fazer o outro sentir dor tentando ser usada também. Porém, quanto mais tentava usar sua magia contra o Raspador, mais forte ele parecia ficar.

- Porra! - a fada da mente xingou, percebendo que realmente fadas não teriam chance nenhuma usando apenas magia.

Ao ver mais uma vez a criatura pular sobre a irmã, Ully observou o ambiente desesperada, procurando por algo que pudesse machucar a criatura.

Foi quando viu uma garrafa quebrada jogada no chão. Sem pensar duas vezes, a de cabelos escuros alcançou o objeto cortante, se virando ao ver o Raspador atacar a irmã, que já não tinha mais como se defender.

Ully se aproximou o mais rápido que pôde, enfiando o pedaço da garrafa no "bicho", que se encolheu e afastou-se o suficiente para que Musa se levanta-se.

A gêmea mais nova segurou na mão da irmã, puxando-a para dentro de uma sala qualquer, fechando com força a porta de madeira velha. O Raspador não demorou a se recuperar, batendo na porta em um tentativa desesperada de continuar atacando as fadas.

- Puta que pariu - Ully xingou, encostando-se na porta. Seu olhar então parou sobre a figura cansada de Musa, que sentou-se no chão, uma das mãos sobre o braço, levando uma careta no rosto. - Puta que pariu! Meu Deus, Musa, ele mordeu você.

- É, eu reparei - a outra tentou brincar, sorrindo sem jeito. Seus olhos arroxeados pararam por um tempo, indicando que seu poder havia cessado.

Ully sem saber o que fazer, correu até a irmã, analisando o ferimento como se pudesse curá-lo. Respirando fundo, ela encarou a irmã, notando a ausência de sua magia.

- Musa...

- Ligue para as meninas - pediu, não querendo prolongar o diálogo.

Musa sentia dor no braço. Mas, por dentro, quando parou de sentir tudo à sua volta, a dor da ferida não pareceu importar tanto. E, secretamente, ela gostou daquilo.

Ully soube assim que viu a expressão no rosto da gêmea. Conhecia Musa o suficiente para desvenda-la mesmo sem entrar em sua mente.

Obedecendo a outra, sem muita vontade, Ully retirou o aparelho eletrônico do bolso, sentando-se no chão ao lado da irmã. Em dois toques seguidos, a ligação foi atendida.

- Vocês estão bem!? - a voz de Bloom soou, a preocupação palpável.

- Achamos a Beatrix - Musa respondeu, agitada. - Mas, tinha razão, é uma armadilha.

- Quê? - foi a vez de Terra perguntar. - Vocês foram feridas?

- Tem um Raspador - Ully explicou, olhando de soslaio para a gêmea. - Musa foi mordida... foi tudo muito rápido, só que a magia dela está estranha, vem e vai.

- A magia dela vai falhar - começou Flora, do outro lado da linha. - Porém, se foi rápido, vai ser temporário, Raspadores precisam te drenar completamente, para a magia sumir permanentemente.

- Vai voltar ao normal? - a voz de Musa saiu em um sussurro.

Ully não deixou de reparar no descontentamento da mais velha.

- E o Sky e o Riven? - a fada do fogo questinou.

- Não sei - a de cabelos escuros retrucou, já sem paciência com toda a situação. - Andreas apareceu e começou a lutar contra eles, só que não era exatamente o Andreas...

- Bruxos de Sangue - interrompeu Bloom. - O que sentiram quando viram ele?

Musa continou à responder a amiga, enquanto Ully parou para pensar. Mais uma vez, as peças começaram a se encaixar em sua mente. A presença forte que sentiu em Andreas, era como se alguém que conhecesse o homem habitasse dentro de sua mente.

Rancor, ódio, raiva. Tudo que percorria Andreas naquele momento, eram sentimentos fortes de vingança.

Nada que Ully já havia sentindo em ninguém que conheceu. Pelo menos, ninguém que lhe permitiu chegar perto.

- Sebastian - disse, chamando a atenção. Em um gesto rápido, Ully pegou mais uma vez o celular, aproximando-o do rosto. - É o Sebastian, Bloom! Como eu nunca pensei nisso? Ele não chegou perto de mim uma vez sequer e me olhava como se tivesse receio de alguma coisa - explicou, afobada. - Ele não queria que eu descobrisse o que estava tramando, por isso nunca chegou perto de mim! Sebastian não queria que eu lê-se a mente dele.

- Isso foi muito bom - a ruiva elogiou. - Quando eu te ver, vou te parabenizar por ser genial, mas agora, preciso ir - justificou. - Saul está indo até aí, aguentem firme.

A ligação foi encerrada.

As irmãs suspiraram, apoiando a cabeça na parede gelada atrás de si mesmas. Ully encarou mais um vez a irmã, vez ou outra olhando também para o braço da mais velha, que ainda sangrava.

- Nem pense nisso - a de cabelos escuros repreendeu.

A magia de Musa voltava ao normal aos poucos, trazendo toda sua sensitividade de volta. O que era uma tortura e tanto para a mesma, que começou a cogitar muitas coisas malucas, apenas para ter a sensação de silêncio em sua própria cabeça.

- Ully - chamou. - Você não entende... eu nunca vivi em uma mente onde apenas o que eu senti prevaleceu. À apenas alguns segundos atrás eu tive a oportunidade de experimentar isso e meu Deus!

- Para! - a mais nova exclamou. - Musa, por favor, para com essa besteira.

- Sinto muito, Lily.

A cena a seguir foi rápida. Musa se levantou em um pulo e, ao ver a irmã fazendo o mesmo, a fada empurrou Ully com força.

A de cabelos escuros voltou mais uma vez para o chão, batendo as costas com tudo na parede de pedras. A dor latejante percorreu seu corpo, mas, nada disso importou quando viu a porta ser aberta por Musa, que permitiu em uma ação desesperada, que o Raspador à atacasse.

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𝐢. 𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐌. ! ༉ 𝗳𝘁𝘄𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora