𝐢. 𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐌. ! ༉ 𝗳𝘁𝘄𝘀

062.

Musa sempre foi o ponto de apoio de Ully.

Principalmente após perderem a mãe, o que foi um evento traumático para ambas, levando-as à se aproximarem cada vez mais, por sentirem uma dor que só elas sabiam como era.

A dor do luto, da perda, do sentimento de impotência.

Ully, apesar de não ter estado fisicamente presente na morte da mãe, vivenciou como se estivesse, dividindo da cena ao entrar involuntariamente na mente da irmã, depois do fatídico acidente.

E, sempre se culpou por não ter ficado ao lado de Musa, que teve que sentir tudo na hora, sozinha. Sentir a morte de alguém nunca era fácil e nem seria. Ully chegava a apostar tudo que tinha, que aquela era realmente a pior parte de seus dons.

Mas, nada se comparava a senti-la levando sua própria mãe.

Ully jurou que estaria sempre ao lado da irmã, depois disso. Que, independente de qualquer coisa, não deixaria que ela sentisse tudo àquilo novamente - pelo menos, não sozinha.

O que ela não esperava, era que fosse sentir a mesma sensação de desespero emanando de si, ao ver Musa deixando-se levar. O cheiro do sangue se misturando com lembranças ruins e o medo.

Medo de ver mais uma vez a morte levando alguém, bem diante de seus olhos.

Principalmente, quando esse alguém era Musa.

- Pare! - gritou a fada da mente, recuperando-se ao se colocar de pé, correndo desajeitada até a irmã.

Musa estava parada em frente à porta, o Raspador atacando a mesma enquanto sugava seus poderes. Ele era rápido e parecia saber exatamente o que fazer.

Ully, por sua vez, sentia o coração acelerando a medida que o desespero lhe cobria. Sabendo que magia não funcionaria contra a criatura, a de cabelos escuros tentou pensar em outra alternativa.

O mais rápido que pôde, avançou contra o corpo ferido de Musa, empurrando-a para trás e segurando o Raspador com uma das mãos. De forma inesperada, o "bicho" era mais forte do que parecia, levando em consideração seu porte parcialmente pequeno.

De soslaio, Ully viu a irmã cair no chão, desacordada e com os ferimentos sangrando. O ódio dominou o corpo da fada, que usou a outra mão para afastar a criatura.

- Seu desgraçado! - gritou, irritada. Foi quando os olhos castanhos de Ully pousaram mais uma vez sobre a garrafa quebrada que usara anteriormente. Com uma motivação de outro mundo, a garota andou da forma que pôde até o objeto cortante, tentando a todo custo não ser mordida. - Ninguém mexe com a minha irmã.

Sua voz saiu em um sussurro raivoso.

Ully encarou o Raspador, com um gesto rápido soltando uma das mãos e tocando na garrafa, utilizando a ponta dos dedos, trazendo-a para mais perto.

Um gemido de dor surgiu da garganta da garota, que não pôde evitar por muito tempo deixar os dentes da criatura longe de sua pele. Porém, ele teve tempo de morder a fada da mente apenas uma vez, já que no segundo seguinte, ele estava novamente sendo nocauteado com a garrafa.

Uma.

Duas.

Três vezes.

Na quarta, o Raspador já não estava mais em cima da de cabelos escuros, e sim no chão. Um flecha atravessava a lateral do corpo do "bicho" e ao longe, Sky segurava seu arco em mãos, a expressão apreensiva estampada no rosto.

Ully sentiu as pernas falharem ao cair sentada no chão, a respiração descompassada e o peito apertado. O loiro andou apressado até a namorada, abaixando-se para ficar na altura da mesma.

- Ei - ele disse, colocando uma das mãos no rosto da garota, que o encarou. - Você está bem? Ele te machucou? - seus olhos claros então analisaram toda a figura da fada, parando em seu braço direito. - Ah, droga!

Mas, Ully não sentia nada. Na verdade, ela nunca sentiu-se tão inteiramente... silenciosa, durante toda sua vida. Foi a sensação mais estranha que já experimentou.

- Fala comigo, Lily, o que...

- Silêncio - murmurou em resposta, soando admirada. - Está tudo em silêncio - ela sorriu, uma lágrima solitária escorrendo por sua bochecha pálida.

"Você não entende", Musa disse minutos antes. Àquilo era uma grande ironia, naquela altura. Ully então percebeu que talvez, nunca tivesse entendido tanto a irmã como agora.

- Silêncio - repetiu.

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