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Os passos largos de Ully e sua feição irritada demonstravam todo o seu descontentamento. Enquanto tentava esfriar sua cabeça após a discussão com a diretora, a fada da mente saiu pela porta do colégio, mais uma vez se vendo debaixo do céu escuro da noite.

Sentando-se sobre a grama mal iluminada, a de cabelos escuros permitiu-se respirar o ar puro e frio, aliviando os pulmões do estresse que passara minutos antes.

Era estranho para Ully pensar em como tudo estava tão confuso. Olhando para suas próprias mãos trêmulas, notou que nem se reconhecia mais. Como podia deixar sua raiva dominá-la tanto, a ponto de achar que seria forte o suficiente para acabar com Rosalind?

Ou Sebastian?

Não conhecia suas próprias limitações. E, parte disso, Ully tinha certeza de que era sua culpa. Ela tinha respostas escritas em um livro empoeirado e simplesmente... não se esforçava para achá-las, da forma que deveria - com o afinco e determinação que deveria.

E porquê?

- Porquê? - sussurrou, fechando os olhos com força.

No fundo, ela sabia. Também sabia sim, qual era a sua maior limitação - ela mesma. O medo de, no fundo, ser capaz de tudo que todo mundo sempre andava lhe dizendo ultimamente. Medo de não saber lidar com o que poderia ser capaz de fazer. Já se sentia afastada o suficiente de sua própria "eu" - não podia perder o resto da sanidade que ainda à sobrava.

Um som baixo soou.

Ully livrou-se de seus pensamentos sombrios por um momento, retirando o celular vibrando de seu bolso traseiro. Suas sobrancelhas logo se arquearam, vendo o número desconhecido chamando na tela.

- Alô...? - atendeu, insegura.

Do outro lado da linha, o silêncio prevaleceu. Com as sobrancelhas ainda levantadas, Ully também permaneceu calada, esperando por alguma resposta.

- Meus esforços para me manter longe de você, para manter meus planos longe de sua mente... foram em vão - responderam minutos depois, uma risada alta acompanhando o final súbito da frase. - Você conseguiu me impressionar, fada da mente. Acho que subestimei você.

Não ouve apresentações. E, bom, Ully dispensava qualquer uma delas.

- Gostaria de dizer que estou ansioso para um encontro nosso, garota - Sebastian continuou, a voz descontraída. - Lutar com você, antes de fazer seu poder ser meu... parece uma tentação e tanto! O quanto você pode fazer? O quanto eu irei ter? - um suspiro propositalmente exagerado o acompanhou. - Ah, querida Ully, eu realmente estou ansioso para um encontro nosso.

E, então, fim.

A chamada foi encerrada antes que Ully pudesse raciocinar e respondê-lo - não que ela tivesse uma resposta em mente, que não fosse algum xingamento, muito, muito irritado. Olhando para a tela escura de seu celular, ela sentiu a respiração mais uma vez se descompassar.

Mantendo todo o autocontrole para não gritar, a garota encostou suas costas na grama úmida, devido ao sereno. Podia ouvir seu coração batendo forte e o sangue palpitando em seus ouvidos. E, lá estava ela mais uma vez:

A raiva.

Seria ela capaz de lidar com esse sentimento que lhe fazia querer agir com a maior impulsividade do mundo? Com esse sentimento que, pela primeira vez, fez Ully sentir medo de si mesma? Porque, naquele instante em que a voz de Sebastian ainda ressoava por sua mente, a de cabelos escuros sentia.

Muito.

Pela primeira vez na vida, sua raiva tomava aquela proporção medonha.

A sede.

Ully queria Sebastian morto.

E, o que lhe fazia temer, era que... ela quem queria ser a responsável por áquilo - ela quem queria matá-lo.

••••••

e, como de costume: quem é vivo,
sempre aparece, né? KKKKKKKKKK
dito isso, capítulo meio :/ apenas para
dizer que a primeira att de 2023 tá feita!

𝐢. 𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐌. ! ༉ 𝗳𝘁𝘄𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora