072.

635 66 7
                                    


- Ully - a voz de Stella chamou.

A de cabelos escuros ignorou, os passos firmes andando sem uma direção certa à ir. Tudo que sabia, era que precisava fazer alguma coisa - não só sobre Bloom, sobre tudo.

Sua mente andava em uma confusão borbulhante, dividindo os sentimentos esquisitos que lhe abatiam. A ligação de Sebastian, a expressão convencida de Rosalind... eram coisas demais, acontecendo em um período de tempo tão curto.

- Não temos exatamente um plano agora, Lily - Aisha constatou e a fada da mente sorriu irritada, parando no mesmo lugar em um ato súbito.

- Eu sei - resmungou. Respirando fundo, a garota se virou para encarar as amigas, todas com olhos distantes em sua direção. Ully sentiu seu estômago embrulhar. Era quase como se... se estivessem olhando para uma estranha qualquer. O que elas também sentiam, e se odiavam por aquilo. Não conseguiam ver a Ully, por trás de todo aquele comportamento estranho que viera tendo desde o início do ano. - Sinto muito.

Terra deu um passo à frente.

- Você está bem? - perguntou, receosa. - Sei que está preocupada e nervosa, todas estamos. Mas, tente ficar calma, okay? Vamos pensar em alguma coisa, juntas.

Ully apenas assentiu, sentindo um nó se formando em sua garganta.

- Eu só preciso... ficar um pouco sozinha - afirmou, tentando passar confiança para as fadas, que ainda olhavam para a amiga e analisavam seus movimentos ansiosos. A de cabelos escuros respirou fundo, passando as mãos pelos os fios em sua cabeça. - Não podemos agir de maneira precipitada ou apenas pioraremos a situação. Assim que pensarem em alguma coisa ou tiverem notícias da Bloom, me avisem, por favor.

E, sem esperar resposta alguma, a garota virou-se novamente e voltou a andar de forma rápida pelo os corredores. Não iria admitir, mas estava fugindo.

Ou melhor - tentando.

Fugir de todo o caos.

Queria ajudar Bloom. Queria poder fazê-la entender que estava sim enrolada em algo maior do que poderia lidar. Só que, simplesmente não sabia como. Havia uma barreira do lado de fora, uma diretora incoerente do lado de dentro e apenas uma raiva descomunal para lidar com tudo.

De que adiantava?

- Ei, devagar - uma voz soou descontraída e logo Ully sentiu seu corpo se chocar com outro. Erguendo os olhos, a fada da mente acenou para Beatrix, que de repente, pareceu tensa. - Está tudo bem?

- Gostaria que as pessoas parassem de me perguntar isso - retrucou, ácida sem ao menos querer, se arrependendo imediatamente. - Desculpa. Dia ruim - tentou sorrir, afastando-se um pouco da amiga. Só então, notou a feição estranha da fada do ar.

Algo semelhante à culpa - ela não saberia dizer, nem se quisesse. Beatrix, para Ully, não era mais sua inimiga. Porém, continuava sendo uma incógnita para a mesma.

- E você? Está bem? - devolveu a pergunta, incerta.

A garota de cabelos castanhos avermelhados demorou um longo segundo para assentir - o que não passou despercebido pela a outra fada, que dentro desse tempo, esqueceu-se de que também haviam problemas demais às suas costas.

- No meu caso, gostaria que me perguntassem mais isso - Beatrix soltou de repente, um meio sorriso estampado em seu rosto. - Nos vemos por aí, fada da mente.

Na mesma velocidade em que chegou, a garota se foi. Os passos soltos pisando sobre o chão amadeirado, logo distante o suficiente para Ully não ter mais uma boa visão de sua silhueta.

•••

A porta do quarto se abriu com cuidado.

O ranger soou baixo pelo o ambiente escuro e Ully logo soube que não estava sozinha. Logo também soube de quem se tratava, permanecendo deitada de barriga para baixo, com o rosto sendo amassado pelo o travesseiro.

- Soube que seu dia está sendo um pouco ruim - Sky disse ao se aproximar, pedindo com um gesto cuidadoso para que a namorada desse espaço ao lado da cama. - Adivinha? O meu também.

A fada da mente riu baixinho, rolando para o lado, sentindo a presença do loiro ao tê-lo agora deitado também em sua cama. O quarto continuava escuro e apenas o som de suas respirações podiam ser ouvidas.

- Pelo o menos, vocês conversaram - a garota quebrou o silêncio, involuntariamente vendo na mente do namorado, a conversa que o mesmo teve com Saul Silva, algumas horas atrás.

Sky negou.

- Uma conversa onde admiti a culpa que sinto, que pensava que Andreas e eu poderíamos ter tido uma boa relação e onde ele diz que, aparentemente, ser um especialista me faz ter que estar esperando com prontidão a morte - soltou de uma vez.

- Uma conversa bem mais profunda do que as que você teve comigo, depois de tudo o que aconteceu após aquela noite - respondeu, a voz calma. Sentando-se de repente, Ully tentou encarar o rosto do garoto no escuro. - E não pense que estou reclamando, na verdade, fico feliz que tenha dito o que disse e que tenha sido para Silva... ele entende pelo o que você está passando, mais do que todos! Afinal, ele também já passou por isso.

O especialista permaneceu em silêncio.

Ele não sabia exatamente como conversar com a namorada, quando o assunto era aquele - ele. As dores dele. Para Sky, fazia muito mais sentindo escuta-la. Ouvir o que afligia Ully e tentar o máximo que podia, fazê-la se sentir melhor.

E, mesmo não tendo o dom da legilemência, sabia e muito, o quão sobrecarregada a garota havia vindo se sentindo, nos últimos meses. Detestava pensar em jogar seus problemas em cima dela, com a mesma já tendo tantos.

- Odeio que pense dessa maneira - a de cabelos escuros desabafou. - Somos um casal, Sky! Da mesma forma que você quer cuidar de mim, quero cuidar de você.

O loiro suspirou.

- Vejo que hoje está bem atenta aos meus pensamentos.

Ully revirou os olhos, deixando um tapa leve no braço do garoto que riu baixo, aproveitando o contato para puxa-la para perto, fazendo o corpo da fada deitar-se sobre o seu. Resmungando algo, a mais baixa encostou a cabeça no peito do namorado, que sorriu curto.

Novamente, um longo silêncio se fez presente.

- Somos tão quebrados - a fada da mente sussurrou.

Pensando em como estavam doloridos, de todas as formas possíveis, suas palavras eram verdadeiras - para os dois. Sky pensava o mesmo. Em como nada ficava bem por muito tempo e em como estavam sempre tentando colocar novamente cada pedacinho um do outro, no lugar.

- É, somos sim.

Plim.
Plim.
Plim.

O som alto cortou o ar e o clima pesado.

Sky esticou o braço, alcançando o celular da namorada na cômoda ao lado, entregando para a mesma. A fada da mente sentiu o corpo entrar em alerta ao ver o nome de Bloom brilhando na tela.

- Oi? - atendeu de imediato.

- Farah está morta - respondeu a ruiva do outro lado da linha, a voz urgente. - Rosalind quem a matou. Você tinha razão! Confiar nela foi burrice, eu...

- O quê!? - Ully interrompeu a amiga, sentando-se mais uma vez e sentindo o olhar do namorado em seu rosto. - Onde você está? Vou encontrá-la. Sebastian está aí ainda?

- Não, não pode vir - negou a fada do fogo. - Rosalind disse que iria me encontrar no portal.

Preocupada, a de cabelos escuros respirou fundo.

- Vou dar um jeito de ajudá-la, apenas tome cuidado - e sem esperar uma resposta, a fada da mente finaliza a ligação. Encarando o namorado em seguida, ela continua à dizer - Adicionando mais um problema ao nosso dia ruim, amor.

••••••

𝐢. 𝐀𝐅𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐇𝐄 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐌. ! ༉ 𝗳𝘁𝘄𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora