Passado - Parte 3

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ATENA (7 ANOS ATRÁS)

Desço da cama tomando um cuidado enorme para não acordar Adam nem as outras crianças e me inclino sobre seu corpo, dando um beijo na testa do meu irmão que resmunga, mas não acorda.

Fico na ponta dos pés tentando fazer com que a madeira podre do quarto não fizesse barulho enquanto caminho em direção a porta do quarto, saindo.

Olho para todos os lados tentando ver se tinha alguém ainda acordado e quando noto que não, começo a seguir em direção as escadas, me tremendo quando passo em frente ao quarto dele.

Assim que chego nas escadas e as desço, faço o mesmo caminho de sempre, indo até a cozinha e passando pela porta que havia lá para a área externa, dai dou a volta na casa fazendo de tudo para me esconder das cameras.

Destranco o portão com a chave extra que tia Sophie deu para mim e respiro fundo botando meu capuz sobre a cabeça, me afastando do orfanato enquanto vou andando pelas ruas escura na madrugada.

Passear pela Grécia é sempre como se fosse a primeira vez. A paisagem é extremamente linda e a noite... é um verdadeiro espetáculo.

Suspiro cansada sentindo minhas costas doerem.

Ontem Irina fez com que seu guarda me punisse apenas porque... Não tem motivos. Na verdade, ela apenas estava entediada e arranjou uma desculpa esfarrapada para me ver sofrendo. Isso fazia com que seu humor melhorasse, acho...

As vezes ronda na minha cabeça o por quê de toda essa implicância que Irina tem comigo, mas nada parece ser o suficiente para preencher as lacunas das minhas questões.

Irina é sempre tão doce, boa e carinhosa com as outras crianças. Parece ser a diretora perfeita, mas para mim ela é o próprio diabo.

Adam não gosta dela. Por mais que ela não bata e nunca puna ele de algo, ela é ríspida e grosseira com ele. Porém, as ameaças dela são sempre dirigidas a mim, por qualquer circunstância.

Quando os maltratos físicos e mentais começaram, tentei de todas as formas manter Adam longe de qualquer coisa que a possa fazer se irritar e tentar descontar nele.

Sempre que ele aprontava algo, eu era punida no lugar dele me colocando como culpada. Poderia fazer o que quisesse comigo, mas com Adam não.

Por mais que as vezes ficasse cansada psicologicamente, nunca me permitia cair e deixar a pessoa que mais me importa sozinha. Quem iria cuidar de Adam? Contar histórias e fazer carinho em dias de pesadelo e trovões para acalma-lo?

Nós éramos sozinhos.

Eu não poderia nem me imaginar abandonando Adam ou fazendo ele passar pelas mesmas coisas que eu passo. Seria crueldade.

Meu irmão pode ter a mesma idade, um tamanho maior que o meu, mas é um bebezão.

Me distraindo com meus pensamentos e com o silêncio das ruas vazias, cantarolo uma música enquanto passo em frente a um beco escuro não prestando muita atenção.

Até ser puxada com força para dentro dele e minha boca ser tampada.

Arregalo os olhos me sentindo tensa, mas não grito. Por mais que eu esteja assustada, seria gasto de saliva, já que como disse; a rua está literalmente deserta.

- Shh, não fale nada. - uma voz feminina rouca diz, sussurrando ao meu ouvido.

Assinto rapidamente com a cabeça, fechando meus olhos e me amaldiçoando por ter saído de casa essa noite. Por ter deixado Adam sozinho.

Droga, Atena! Como você é burra!

A mulher atrás de mim me arrasta silenciosamente até o fundo do beco e me encosta na parede, perto de uma lata de lixo.

O Homem De Las VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora