QUINZE

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Milena

Morar numa casa com o Gabriel exige uma certa paciência.

Você pode estar num dia que quer ficar na companhia do silêncio e ele vai lá e liga um som altíssimo e ainda por cima tocando rap.

Hoje eu estou nesse dia que quero paz e tranquilidade, só que ele tá lá na academia ouvido um rap pesadão com uma batida estrondosa que faz até seu cérebro pular.

O pior é que dá pra ouvir em toda parte da casa, sério. Os vizinhos devem odia-lo.

Único lugar que encontro silêncio é dentro do banheiro, então entro na banheira e fico deitada tentando recuperar minha paz espírita.

Não consigo acompanhar o ritmo dele.

Faz dias que eu não durmo direito, tô sempre em festas e qualquer outro tipo de rolê que ele vá.

Socorro Deus.

Eu nem saía direito de casa antes, trabalhava por horas durante o dia e quando chegava em casa só queria deitar na cama e dormir.

Se passou mais ou menos duas semanas desde que voltamos de São Paulo e eu consegui uma faculdade de moda aqui no Rio e começarei a estudar na semana que vem.

Tô ganhando dinheiro com a internet e tem sido bem legal tudo que venho conquistando, mas não é algo que me identifico 100%

- Milena?- ouço a voz do Gabriel um pouco longe.

Não consegue ficar longe.

Fico em silêncio.

- Milenaaaa.

Me seguro pra não rir e deito na banheira, me encolhendo um pouco.

Ouço a porta do banheiro sendo aberta e mordo os lábios pra não rir.

- Preta?- chama.

Não é possível que ele não me viu aqui.

- Caralho- diz assustados- tá aí por quê?

Olho pro alto e lá tá ele me encarando, sem camisa e todo suado.

Babei.

- Pra me livrar um pouco do barulho- dou risada e me ajeito na banheira.

- Era só ter pedido pra eu ter desligado o som.

- Você tava treinando, não quis atrapalhar.

Ele sorri de lado e se abaixa, passando a mão no meu rosto.

- Você sabe que não atrapalha, preta, essa casa também é sua e você pode dar ordem, viu?

Dou um selinho nele que tenta aprofundar o beijo, mas não deixo.

- Já terminou o treino?

- Sim.

- Então vai tomar banho porque eu tô toda cheirosa, vem me agarrar todo suado não, cara.

- Chata- mostra a língua e se levanta- vai ficar aí me vendo tomar banho?

- Vou ter uma bela imagem.

- Então aprecia- ri e se levanta.

Ele tira toda a roupa e vira de costas, caminhado até o box.

Desço o olhar até sua bunda e morde o lábio.

Muito gostoso.

- Que bundão!- digo e ele ri ligando o chuveiro logo em seguida.

Me ajeito na banheira e fico vendo ele tomar banho, inclusive é um ótimo entretenimento.

Mas de repente meu estômago revira um pouco e eu tenho que olhar pro teto pra ver se passa.

- que foi?- ele pergunta- tá tudo bem?

- Tudo, eu só acho que preciso comer alguma coisa.

Acabei ficando muito tempo sem comer porque tava estudando algumas coisas e fazendo a última aula online antes de ir pra faculdade presencial.

Ele termina o banho rapidinho e se enrola na toalha.

- Vamos descer pra você comer alguma coisa.

- Vai vestir roupa e a gente desce juntos.

- Tá bom- se abaixa pra me dar um selinho e me ajuda a levantar.

Calço o chinelo e enquanto ele vai pro closet, eu vou até a cama e pego meu celular.

Não é a primeira vez que eu sinto isso durante essa semana, enjoo e tontura do nada.

Só que não tem como ser o que eu estou achando que é, meu ciclo menstrual não está atrasado, deve ser só coisa da minha cabeça.

Se minha menstruação não descer esse mês eu vou começar a me preocupar, mas por enquanto tá tudo tranquilo.

Tem nada tranquilo, eu tô quase surtando.

- Vamos?- o Gabi aparece vestido com uma bermuda preta de moletom e uma camiseta de algum time de basquete.

Muito gato.

- Vamos sim- sorrio fraco e vou até ele que me abraça de lado.

Descemos juntos até a cozinha e eu pego um pedaço de bolo de cenoura.

Dou a primeira garfada e engulo na força do ódio porque perdi a vontade de comer.

- Fala o que tá rolando- o Gabi diz e eu olho confusa pra ele- você ama esse bolo e agora tá assim.

- Eu acho que tô anciosa pra começar a faculdade logo, não sei- dou de ombros.

- Mas tem que comer.

- Mas eu não consigo- choramingo e ele se aproxima pegando o garfo da minha mão.

- Vou dar na sua boca.

- Nem vem- dou risada.

- Vai ganhar bolinho na boca siim, quem manda não comer?- pega um pedaço- olha o aviãozinho.

Eu não tenho maturidade pra isso, então começo a rir.

- Brinca não, Milena, come logo.

- Eu não consigo, cara- tento parar de rir.

- Abre a boquinha, Mileninha.

Abro a boca e pego o pedaço de bolo.

- Tá bom, agora deixa que eu como sozinha.

- Não, deixa que eu dou.

- cadê o Gabriel e o que fez com ele?

- Ele nem existe mais depois de você- ri- agora eu sou boiolinha.

- que lindo, confessando tudo.

- Nunca escondi nada.

Dou um sorriso e ele continua dando o bolo na minha boca até eu comer tudo.

Tomo um copo de suco de laranja e em seguida a gente vai até a sala onde ele começa a jogar aquele jogo de fórmula 1 e eu fico vendo.

Sou fã de fórmula 1, amo o Hamilton, mas se eu for jogar um jogo desse bato no primeiro carro que ver pela frente.

- Quem tá na sua frente?- pergunto.

- A peste do Verstappen.

Até aqui esse tilápia incomoda?

- Passa ele.

- Tô tentando.

Aí eu já começo a ficar nervosa.

Calma, Milena, é só um joguinho.

- VAI, GABRIEL- grito quando ele fica lado a lado com o Verstappen.

- Calma, mulher- ri.

Calma? Essa palavra nem existe no meu vocabulário.

Quando e consegue passar eu dou um grito e uns pulinhos.

- Isso aí, porra.

- Sou foda- se gaba mas eu nem posso dizer o contrário.

Ele é foda mesmo.

𝗖𝗹𝗼𝘀𝗲 𝗳𝗿𝗶𝗲𝗻𝗱𝘀•• 𝗚𝗮𝗯𝗶𝗴𝗼𝗹•• 𝟮° 𝘁𝗲𝗺𝗽.Onde histórias criam vida. Descubra agora