Nossa filha Ellie June

Capítulo 41

POV ELLIE

Não sei se vocês já repararam, mas cada pessoa tem aquele tipo de vídeo que é viciado em assistir. Tem a galera que gosta de ver bolo sendo confeitado, um povo que assiste cravos, outro que prefere a podologia, tem gente que gosta de ver pessoas construindo esculturas de chocolate, outros preferem vídeos de bebês ou de filhotes. Bom, eu gosto de ver vídeos de animais caçando, sempre gostei, desde pequena, principalmente felinos, mas eu nunca torci para a presa fugir, na verdade o que me encantava era a dinâmica da caça, em como os felinos agiam, como eles se movimentavam. Quem me mostrou esses vídeos foi meu avô Edward, eu deveria ter uns dez anos, e desde então perco horas do meu dia assistindo. Felinos são interessantes, são caçadores natos. Se o leão é o rei da savana, a onça é a rainha da selva. Em uma briga entre eles dois, quem será que venceria? Eu aposto na onça. Uma vez vi um vídeo que ela entrava em um rio e arrancava um crocodilo de dentro, ela tirou o bicho do habitat natural dele como se fosse um filhote de cachorro. Mas você deve estar se perguntando: Por que diabos eu estou falando de felinos e caça? Porque uma vez eu vi um vídeo de um grupo de leoas tentando caçar uma zebra, elas mantinham o olhar fixo na presa que bebia água tranquilamente, enquanto elas se moviam e cercavam a vítima em um balé perfeitamente sincronizado, assim como as minhas mães estavam fazendo nesse momento com Clare.

Minha mãe Emma deixou o carrinho do condomínio com as compras de lado, e andou tranquilamente até Clare, sem tirar seus olhos dos dela. Minha mãe Jenna estava um passo atrás, como se vigiasse a retaguarda e estivesse pronta para interferir em qualquer ataque surpresa conta a leoa a sua frente. Nenhuma delas olhou para mim, elas apenas olhavam para a pobre zebra que tinha seus minutos contados. Miguel e Melancia estavam a postos, não sei exatamente o que eles achavam que podiam fazer naquela dinâmica, mas definitivamente se sentiam útil ali. E eu? Bom... eu era o filhote meio capenga, escondido no canto, assustado, esperando as leoas terminarem de caçar para eu também poder me alimentar.

- O que você está fazendo aqui? – Minha mãe Emma perguntou e eu senti pedras de gelo cair no meu estômago quando ouvi sua voz.

Seu tom era baixo, mas parecia ecoar. Eu costumo aprontar, admito, passo dos limites de vez em quando... ou quase sempre, digamos que eu já tenha levado a paciência das minhas mães ao limite algumas vezes, mas eu nunca ouvi esse timbre da minha mãe Emma.

- Emma, a gente precisa conversar.

- A gente não vai conversar – minha mãe falou séria.

- Emma – ela riu irônica – você não vê que sua filha te manipula e que agora a Jenna faz a mesma coisa.

- Eu já falei para você não falar da minha filha – minha mãe Jenna deu um passo em direção a bruxa, mas minha mãe Emma esticou seu braço bloqueando a passagem e fazendo-a voltar para trás.

- É assunto meu – minha mãe Emma falou.

Minha mãe Jenna não era a leoa que iria atacar, ela era a leoa que vigiava o perímetro para ter certeza que era seguro, e a função de cada uma ali ficou bem clara.

- Então agora, a minha filha é manipuladora? – Minha mãe Emma sorriu.

- Ela me chamou de mimada e egoísta também – falei e pela primeira vez minha mãe Emma desviou o olhar da sua presa e olhou para mim, e na verdade eu preferiria que ela não tivesse olhado, senti meu corpo arrepiar com aquele olhar, comprimi os lábios e olhei para os lados um pouco constrangida.

- Então deixa eu te explicar uma coisa que a minha filha manipuladora, mimada e egoísta de quinze anos aprendeu e você parece não ter a capacidade cognitiva para compreender por si só: Eu não falo uma segunda vez.