Parte 51

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Sentir a brisa fresca da manhã, e ouvir o som do mar é o meu calmante, inspiro e expiro tentando colocar meus pensamentos em ordem.
- Oi Karol, como estamos hoje?
Escuto a voz de Clara a fisioterapeuta, Ruggero precisou sair bem cedo hoje para ir a cidade.
Confesso que estou tentando por ele, perder meu filho me fez entrar em uma bolha de onde não queria sair, e os pesadelos com Caio não estão ajudando muito, a minha luz no fim do túnel é ele.

- Vejo que está muito pensativa isso bom.
- Eu queria dizer que está tudo bem, mas não consigo. Ela segura minha mão.
- Você não tem que dizer, o primeiro passo está dando admitindo para si mesma que não está nada bem.
Ela se senta na toalha ao meu lado e põe as mãos na areia.
- Sabe minha vida nunca foi um mar de rosas, mas o que meu pai sempre repetia para mim, Clarinha nada do que viver um dia após o outro, a vida é assim vc sobe um degrau por vez com muita dificuldade e as vezes se desequilibra e cai um para voltar a subir novamente.
- Eu sinto que o peso do mundo está nas minhas costas e não vou conseguir ser a mesma de antes.
- E não precisa ser, faz parte do nosso crescimento experiências boas e ruins servem para isso, fora que você tem alguém ao seu lado que te ama de verdade garota, vocês passaram por muitas coisas e agora tem a oportunidade de recomeçar, agarra essa oportunidade e faça valer a pena.
Um suspiro alto saiu dos meus lábios e seco as lágrimas.
- Você acha que eu consigo?
- Você já conseguiu, só precisa aceitar isso.
Fecho os olhos sentindo a brisa e a imagem do meu casamento com Ruggero não o de verdade aquele na capela em Las Vegas.
- Eu senti falta desse sorriso, sabia?
Abro os olhos e Mike está ao meu lado, por um momento a incerteza e tensão tomam conta do meu corpo, ele é a única família do Rugge e eu estraguei tudo.
A mão de Clara em meu ombro e o que ela diz me faz relaxar.
- É o seu recomeço, sem insegurança, sem tensão, seja você mesma Karol Pasquarelli, é o que todos nós queremos ver. Mike para diante de mim o que me faz olhar para ele.
- Vamos? Minha expressão confusa faz ele completar.
- Sou seu ajudante hoje, claro se você quiser, ainda não entendi porque fiquei em desvantagem aqui, Karena ganha sorriso e eu, estou com ciúmes, sou o garotinho da mamãe muito mimado... E juro ele cruza os braços e bate o pé fazendo bico o que me faz rir e gritar mais ainda quando ele se abaixa e me pega no colo sem preaviso.
- Mikeee.
- Opa ganhei, sorriso, gargalhada e um grito Karena vai morrer de inveja. Dou um tapinha em seu ombro.
- Bobo, eu... Eu...
- Tudo bem, só quero que saiba que somos uma família e vamos passar por tudo isso juntos ok? Faço que sim e ele faz bico de novo.
- Preciso ouvir sua voz cunhadinha.
- Obrigado... Por tudo, de verdade.
Abraço seu pescoço e ele beija minha testa.
- Ei vocês dois não vou dar moleza não. Reviro os olhos e ele rir.

Depois de alongar bem, Clara me faz ver uma barra de metal que eu ainda não tinha notado.
- Você já tem força suficiente para levantar o corpo e sentar na cadeira sozinha, hoje vamos aumentar esse grau, antes vamos fazer exercicio de mobilidade assim você não vai sentir tanto.

- Tô morto. Solto uma risada.
- A que está na cadeira sou eu, pode mover seu rabo e fazer o exercício comigo.
- Hum ela esta de volta.
Depois de três exercícios me levando ao limite de quem já era sedentária.
Estou sentada no tapete de frente para a tal barra, Mike está ao meu lado.
- Quero que apoie as duas mãos, concentre a força no calcanhar.
- Mas eu...
- Eu sei. Mas você pode senti-lo, fizemos teste lembra. Respiro fundo, porque a força sempre foi nos braços e concentrá-la onde não sentia vai ser bem difícil.
- No tres eu te ajudo. Mike segura a minha cintura empurrando para cima não com muita força pois eu preciso fazer isso, enquanto finco os pés no chão.
- Raaaaaaa. Ranjo os dentes chego a metade e meu corpo despenca nas mãos de Mike.
- Ok, vamos tentar de novo, tudo bem? Faço que sim e respiro fundo.
Ele me coloca de volta ao tapete e voltamos a repetir, e repetir.
- Karol foi perfeito. Clara diz enquanto me recupero.
- Mas eu nem...
- Lembra do degrau? Faço que sim.
- Você vai longe garota, logo logo vamos correr na praia. Diz sorrindo e eu retribuo.
Mike senta ao meu lado e me estende uma garrafa de água e agradeço.
Meu olhar cai na barra de ferro e um suspiro de frustração sai dos meus lábios.
- Ei, você foi muito bem.
- Não consegui nem ficar em pé, como posso ter ido bem?
- Você tentou, foi muito bem. Fecho os olhos e escutamos barulho de carro chegando.
E logo Karena aparece, e depois Ruggero com uma mala, ele sorrir ao me ver e faz um sinal com a cabeça e a loira de olhos azuis passa por ela.
Nos encaramos por alguns segundos até que ela corre jogando as sandálias e se joga em cima de mim.

Nos abraçamos, entre lágrimas e risadas ela me chama de vaca, cara de cu e que vai arrancar meus cabelos inclusive os de baixo, e que me ama com todo coração.
É eu sei essa é Valentina, não ficamos muito tempo sem nos ver.
Que saudade que estava, agora que penso tenho saudade dos meus avós, do Agus da pequena Luna e da Carol, do restaurante e do meu trabalho.
É como se nesse momento eu me desse conta de todas as coisas boas da minha vida que eu não conseguia enxergar no meio das nuvens negras em que estava atravessando.
Me dei conta que eu perdi meu filho e ele me deu uma nova oportunidade de viver e tenho muito por quem lutar.
E eu vou levantar e correr como nunca fiz.
O meu motivo maior está com um sossiro lindo nos lábios e meu coração pertence a ele todinho.

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