Parte 53

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Confesso que sonhei com meu irmão novamente, mas dessa vez não era pesadelo, ele não sumia, ele não estava indo embora, e não tinha choro.
Aquele chorinho de neném que me deixava atordoada e acordava gritando.

Estávamos os dois no parquinho que sempre papai e mamãe nos levavam quando éramos pequenos.
Nós dois um ao lado do outro no balanço.

-Como você está se sentindo?
-Você sabe como me sinto, é meu irmão gêmeo, fora que não tenho forças para levantar dali. Aponto para a cadeira.
- Você veio até o balanço.
- Porque me trouxe.
- Eu não fiz isso. Paro por um momento e fico pensando como cheguei ali.
- Caio porque estamos aqui, como eu vim?
- Eu te chamei. Ele sorrir e a saudade do seu sorriso faz doer meu peito, uma lágrima cai dos meus olhos.
- Não chore Chiquita eu te chamei aqui, porque nossa ligação vai além do que podemos imaginar, e você não está bem aqui. Ele aponta meu coração.
E aqui. Minha cabeça.
- Estou em pedaços.
- Eu sei, eu sinto, é por isso que estou aqui.
Ele sai do balanço e se abaixa diante de mim, acaricia meu rosto e não deixa que minhas lágrimas caiam.
- Você é forte irmãzinha, e vai superar tudo isso, sempre foi...
- Caio...
- Não, sem desculpas lembra, eu por você e você por mim.
- Você não está mais aqui e eu...
- Eu estou aqui. Ele coloca a mão sob meu peito e meu coração vibra.
- E você tem a ele. Ele se vira e aponta e não estamos mas no parque e sim na casa de praia, vejo Ruggero sentado na areia.
- Voces tem um ao outro e vão superar juntos, não importa os obstáculos, vão consegui.
- Ruggero.
- Ele também está sofrendo irmã e daria tudo para está no seu lugar. Olho para Ruggero e vejo o momento em que seca as lágrimas, meu coração se aperta.
- Ele está sendo forte por vocês dois, que tal você dar uma ajudinha, a minha Chiquita não se rende nunca.
Respiro fundo e no meu mais íntimo peço forças a Deus.
- Eu estarei sempre com você.
- Promete.
- É uma promessa.

Naquela manhã acordei, disposta a tudo, e a primeira coisa que eu queria fazer era ter meu homem para mim, sentir seu corpo no meu e saber que não nos perdemos em meio ao caos.
E saber que ele estava ali para mim me deixou mais confiante do que nunca.
Para mim nada mais importava se ele estivesse ao meu lado, então trabalhei duro e me esforcei e cheguei ao meu limite todos os dias, em momentos em que estava sozinha no quarto, fazia alongamentos e forçava meu corpo a ficar em pé sem apoio, cair várias vezes em cima da cama, na cadeira, mas isso não me deixei abalar, eu iria me levantar.

Eu levantei cedo, aproveitei que Ruggero saiu para correr, me vesti rápido e fui para a barra, um pouco de receio eu tinha, porque conseguia ficar em pé e dei alguns passos antes de cair na cama, foi rápido.
Parei a cadeira respirei fundo olhando para a barra.
Eu consigo.
Tirei o descanso sentindo o solo embaixo dos pés.
A minha sensibilidade estava de volta e sorrir eu já estava sentindo aos poucos, mas dessa vez senti de verdade a grama molhada e esfreguei os pés com toda força no chão, meu sorriso se alargou e lágrimas rolavam por meu rosto, mas de pura alegria.
Me apoiei na cadeira deixando o corpo descer para o tapete e me arrastei um pouco até a barra de metal.
- Vamos garota, será somente eu e você.
Uma mão de cada vez, segurei forçando o corpo para cima, e soltei o ar quando fiquei em pé.
- Ok eu consegui... Ok...ok vamos lá.
Virei o corpo apoiei os dois pés no chão segurando na barra como se minha vida dependesse dela, dei o primeiro passo, respirei, o segundo respirei...
Continuei até que alcancei a outra ponta, olhei para trás minha cadeira estava longe e eu teria que voltar.
- Eu consigo. Dei dois passos e a mão escorregou.
- Ops... Ao invés de sentir o impacto do chão, minha perna resolveu que era hora de trabalhar e fez o serviço direito, a mão escorregou, mas ao afastar as pernas o pé se apoiou ao solo e segurou o tranco, e meu corpo ao invés de desequilibrar estava ali em pé sem auxílio algum, com as duas mãos ao lado do corpo com as palmas voltadas para baixo.
- Isso garota, eu adoro vocês. Subi aos poucos as mãos e bati uma palma na outra e o corpo balançou.
- Não exageramos né. Ok se eu consigo ficar em pé... A dúvida e medo querendo se infiltrar
- Não quero saber garotas, façam o seu trabalho e vão ganhar massagem mais tarde.
Não acredito que estou falando com minhas pernas.
Vamos Karol...
Esse é por mim. Dei o primeiro passo sem apoio, e parei.
Esse é por você minha estrelinha. Mais um passo. Parei.
Esse é pelo Caio. Paro e respiro.
E esses são para você meu amor, não vejo a hora de correr para os seus braços, e como se soubesse que estava pensando nele, assim que me viro encontro Clara com um sorriso gigante em tempo de gritar, desvio meu olhar para ele e não consigo conter a adrenalina que corre por minhas veias, louca de vontade de pular em seus braços, sua expressão é pura emoção, amor e orgulho.
- Foi incrível, como se sente? Clara bate palmas e pergunta.
- Confesso que estou cansada, parece que tenho cem quilos na perna, mas eu consigo.
- É normal, vamos fazer uma massagem isso ajudará mas estou explodindo de felicidade. Sorri e volto para a barra, Ruggero parece ler meus pensamentos e se aproxima, envolve minha cintura ao mesmo tempo que meus braços o envolvem.
- Eu amo você. Falo.
- Acho que eu amo mais. Ele estreita os olhos por copiar sua frase, e não resisto sorrio como a muito tempo, não faço, sentia até saudade do som da minha risada.

Depois de um alongamento e uma massagem nas minhas garotas, Clara se despede falando que vai me trazer as moletas na próxima sessão.

O portão está aberto e o som das ondas quebrando para depois se juntarem me refletem ali.
- Karol... A voz de Ruggero me faz parar.
- Pá..par... Onde você está indo? Olho para trás o tapete que faço fisioterapia com as almofadas, a barra de ferro e a cadeira de rodas, meu olhar percorrem o caminho que fiz até a porta de madeira que está aberta com minha mão apoiada nela, impressionada com lágrimas rolando por meu rosto, volto a olhar para ele, que está igual a mim e sorrio.
- Que tal um banho!!! O sorriso mais lindo do mundo é todo meu.

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