Desperto e tem um cobertor quentinho me envolvendo.
Escuto a tv ligada com música infantil bem longe e abro os olhos.
O quarto de Luna está silencioso e o abajur está desligado.
Vou no banheiro e meu reflexo no espelho revela o quanto estou exausto e machucado.
Saiu do quarto e Caro está na cozinha, com Luna enganchada nos seus braços enquanto coloca algo para ela beber no copo, encosto na soleira e então me dou conta de algo.
- Karol. Ela olha para mim e Luna sorrir fazendo a letra L com dois dedinhos e vou até elas pegando a bochechuda.
- Também sentir saudades amor.
Carolina aponta para a mesa então vejo que o almoço está pronto e olho a hora no relógio da cozinha.
- Onde ela está? Ela aponta para a cadeira e nos sentamos.
- Ela foi embora.
- Droga, você contou a ela?
- Sim.
- Tudo?
- Tudo, e agora você vai me contar o que há entre você e a prima do Agus e onde se conheceram. Paro um momento e largo os talheres, Carolina me conhece muito bem.
- Lembra da linda garota...
- Na árvore de natal? Assinto.
- É a Karol, ela apareceu no bar com a prima Valentina.
- O que ela foi fazer lá? Questiona Carolina, passo a contar toda a história de Karol, o dia em que trabalhei em sua casa e ela fugiu e fui parar na delegacia, todas as noites em que passamos juntos e por fim o nosso casamento.
- Vocês casaram, tipo casaram mesmo?
- Sim.
- E você fez tudo isso porque ela é sua amiga?
- Sim óbvio.
- Mas não é sua amiga o suficiente para que você possa dividir nossos problemas.
- Ela não precisava saber disso Caro.
- A não? Ela se abre pra você, conta seus medos, sua tristeza, seus sonhos, confia em você mas do que tudo, é talvez ela não devesse saber mesmo.
- Falando assim me faz parecer idiota. Ela me lança um olhar de você é idiota.
- O que Karol falou para você?
- Talvez você devesse perguntar a própria Karol.
- Facilita Carolina.
- Ela me disse para não me preocupar com a dívida e que eu não veria Billy e seus homens nunca mais.
- Droga como ela acha que pode fazer isso, esses caras são perigosos.
- Não sei, mas ela me fez uma promessa e eu vou confiar em sua palavra.
- Tem mais coisa não tem?
- Ela me disse adeus. Um vinco se forma na minha testa.
- Ela se despediu Rugge, pediu que cuidasse da Luna e se foi, mas antes de ir ela me disse...
- Ela disse?
- Que não era o bastante para você.
- Porque ela diria isso?
- Porque você não confiou nela.
- Não é isso, eu só achei que não é uma história minha para compartilhar.
- Tem certeza que não é sua? Afinal você estava lá quando o inferno começou, passou aquilo tudo comigo e não é uma história sua? Sinto muito querido mas você pode está não só perdendo sua melhor amiga como o... Ela não termina por seu celular que começa a tocar e fico pensando em todas suas palavras eu não perdi Karol não é?
- Você vem para o almoço de ação de graças amanhã não é? Ela abaixa o telefone e assinto.
Terminamos o almoço e ajudo Caro na cozinha e logo após com a pequena Luna, até pegar um táxi para casa.
Depois de um banho, deitado na cama olho o telefone e nem sinal de Karol, eu não sei bem o que fazer.Acordo com o telefone tocando e atendo sem ver quem é.
- Espero que esteja a caminho porque estamos com fome ou vou arrancar suas orelhas. Levanto rápido e pego uma calça no guarda-roupa.
- Estou indo. Aviso e desligo, termino de me ajeitar, pego o capacete e ligo a moto.- Desculpe não pensei que estaria tão exausto, acho que entrei em coma. Comento e ela rir.
- Vem as garotas já estão aqui. As garotas em que ela se refere são suas colegas do posto e seus maridos.O almoço foi animado, as amigas de Carolina não deixavam o ambiente pesado.
- Então você tem novidade para nos contar esse ano hein Rugge? Aline fala sorrindo e seu marido levanta a cerveja em minha direção, olho para Carolina e ela acena um não fui eu, franzo o cenho para eles.
- Ela está se referindo a aliança no seu dedo. Elane é quem comenta, olho para o dedo e só agora me dou conta que continuei com ela no dedo desde...
Desde o nosso sim, o que me faz lembrar cada detalhe e o quanto ela estava perfeita e um suspiro sai dos meus lábios e só me dou conta porque tenho seis pares de olhos em mim.
- Nada a declarar.
- A qual é? Alberto o marido de Aline.
- Quem é? Elane pergunta. Carolina é quem me socorre com a sobremesa e logo estou me despedindo deles.A segunda chega e de volta ao trabalho que com as festas deixa o bar a todo vapor e nem sinal de Karol ou Valentina.
- Valentina vem hoje? Pergunto a Sebas e ele nega dizendo que ela estava presa no escritório com fechamento de fim de ano.
A terça e quarta passam num borrão quando a quinta chega já não sei mais o que fazer, escrevi e apaguei a mesma mensagem umas cinquenta vezes.
Na sexta o movimento triplica e trabalhamos o dobro e quando encerramos o sábado, sento na moto e meu coração se aperta, um porque faz mais um ano que ela se foi, dois estou realmente com saudade da patricinha.
Ligo a moto e estaciono no central park, sei que já é tarde, mas preciso disso.
Caminho distraído e vou me aproximando da árvore no meio da praça.
Paro um segundo e fecho os olhos.
Que saudade a senhora deixou mãe, eu queria só uma luz.
Abro os olhos e dou dois passos para trás.
- Aíi.. escuto e me viro desviando da pessoa que eu quase faço cair.
Ela levanta o rosto e penso foi rápida hein mãe.
- Oi.
- Oi. Ela responde e desvia o olhar do meu e se concentra na árvore se afastando de mim.
- A gente se esbarrando novamente aqui. Ela só acena.
- Senti sua falta essa semana. Ela então olha para mim.
- É eu também.
- Karol eu... Ela me interrompe.
- Você não precisa fazer isso, muito menos aqui, eu sei o que esse momento representa pra ti, e você sabe o que representa para mim então...
Ela fala, se afasta olha para árvore fecha os olhos como em uma prece, leva uma correntinha até os lábios e beija.
- Feliz Natal Ruggero. Ela diz e um pequeno sorriso se forma em seus lábios.
- Eu te levo em casa. Propronho.
- Estou com João mas obrigado.
Então se vira e vai embora e eu fico porque não sei como agir, não sei o que dizer, só sei que a queria comigo essa noite.

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O Depois
Fiksi PenggemarEu queria não ter forças, queria não levantar, queria não falar, queria não fazer se quer um movimento mas não, sou um ser humano e fui feito com um instinto de sobrevivência e por mais que a vida bata eu continuo em pé. Como? Não tenho ideia, eu s...