Capítulo 1 - As Marcas

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Globo dos Humanos

De olhos fechados Kaira tateou a cama procurando por Enzo, o corpo dele havia lhe aquecido durante toda a noite mas ao julgar pela cama fria ele não estava mais ali. Suas pálpebras tremeram antes de abrir, olhou para os lados e viu o amontoado de lençóis vazios. A primeira coisa que lhe veio à mente era que havia perdido o horário novamente, o que não seria novidade nenhuma porque sempre acontecia.

Esticou o braço para fora cama e pegou o celular na escrivaninha. Depois que a luz deixou de cegar seus olhos viu a hora, não passavam de quatro da manhã e suspirou aliviada por não estar atrasada como imaginou que estaria. Espreguiçou saindo lentamente da cama, bocejou antes de finalmente levantar e arrumar a camisola. Passou os olhos pelo quarto e obviamente Enzo não estava ali.

Abriu a porta do banheiro e o silêncio congelou seus ossos, ela só conseguia escutar o barulho da calefação e nada mais. Kaira queria saber de onde aquela cena lhe era familiar, mas parte que lhe faltava da memória jamais permitiria lembrar. Automaticamente passou a mão pelo pescoço e quase sentiu a tatuagem ali em relevo. A lua intrínseca com o sol e a discreta estrela acima delas pareciam latejar com o silêncio.

-Enzo? – chamou saindo do quarto e entrando no corredor escuro – Isso é alguma brincadeira? Não estou achando graça!

As marcas doíam conforme atravessava o longo corredor que dava acesso aos outros cômodos da casa. O corredor parecia ter uma luz bruxuleante que pairava sob sua cabeça mesmo que tudo estivesse escuto, Kaira estremeceu e abraçou seus braços nus. A sensação de estar sendo observada eriçou os pelos loiros da sua nuca, ela olhou para os lados como quem procura olhos vermelhos olhando na escuridão mas eles não apareceram porque não existiam.

-Lorenzo, sugiro que apareça agora – murmurou irritada, mantenho a voz baixa. Caso acabasse acordando a sua mãe, ela acabaria descobrindo que Enzo entrou pela escada de incêndio novamente.

Kaira desceu as escadas, seus pés descalços não faziam barulho. No escuro da sala tudo que se via iluminado era graças à luz da lua que ultrapassava a janela que fora fechada sem a cortina. Ela e a mãe moravam em uma casa pequena em Crawford, uma cidadezinha pequena e desconhecida na Carolina do Norte, por tanto a luz que entrava dava a visão da sala completa. O sofá velho, o tapete verde que estava puindo, a televisão de plasma que estava pendurada no móvel de madeira, a escrivaninha com o telefone sem fio piscando uma luz vermelha, tudo estava um pouco iluminado o que garantia que Kaira não saísse tropeçando nos móveis fazendo barulho desnecessário.

Então ela o viu. Enzo estava sentado no sofá com a coluna ereta olhando a janela. Cuidadosa andou até ele sentindo o coração batendo no pé do ouvido, prestou atenção na curiosa figura a sua frente e parou estática no meio da sala. O namorado parecia ter se transformado em gesso, Enzo se quer piscava, apenas olhava algo que Kaira não podia ver.

-Enzo? – Kaira o chamou carinhosamente, coisa que pouco acontecia dado ao temperamento forte dela – O que está fazendo aqui? É melhor você voltar para o quarto. Eu não quero confusão, não era para você nem ter saído do quarto.

Seu corpo ficou de frente para ele, os cabelos negros de Enzo estavam caídos no rosto realçando sua pele morena, os traços másculos e definidos como em uma gravura eram iluminados pela luz a lua deixando um lado do rosto tomado pela escuridão da noite. Os grandes olhos dele encontraram os dela quando Enzo levantou a cabeça, a íris azul havia sumido e seus olhos tinham sido tomados e se transformados em duas orbitas negras. Kaira havia visto aquilo antes por isso o medo tomou conta de si, havia algo de terrível no que quer que tivesse tomado conta do seu namorado.

Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora