Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)

Capítulo 34 - Decadência

           

Passaram-se duas semanas em que Kaira fazia o mesmo maldito trabalho, suas mãos estavam calejadas e seus joelhos doloridos dos movimentos repetitivos. As meninas ainda não falavam com ela, mas agora sabiam quem a garota era e como Lyss disse elas não faziam perguntas. Naquela noite, Kaira estava lavando a louça do jantar quando Lia fez questão de derrubar a pilha de pratos de vidro no chão. Lia era o próprio demônio, odiava Kaira e naquelas duas semanas fez de tudo para tirá-la a paciência.

Lia sorriu para a rainha e no mesmo instante ela sentiu o ar lhe faltando, Kaira girou o pulso em um único movimento enquanto sorria ao ver Lia perdendo o ar por completo.

- Não sei o que eu lhe fiz, Lia – disse Kaira entre dentes – Mas espero que não se repita.

Ela girou o pulso novamente e a garota caiu no chão com as mãos no pescoço buscando pelo ar. Kaira abaixou-se e começou a ajuntar os cacos, provavelmente ela ficaria sem a janta para pagar aquele monte de pratos quebrados. Enquanto estava abaixada Lia se recuperou e chutou as costas da Kaira, a garota sentia raiva da rainha por vários motivos e naquele momento ela poderia matá-la.

Kaira caiu para frente e os braços afundaram no vidro, a raiva dela só cresceu. Lia vinha fazendo possível e o impossível para transformar sua vida em um eterno inferno enquanto ela própria só fazia os trabalhos para receber comida em troca. Estava ali como uma escrava disfarçada e sendo irritada por uma das garotas da Lyss, ela sabia que estava bem perto de começar a viver seu inferno astral como os magos diriam.

A rainha levantou e curou-se fazendo o próprio corpo expelir os cacos de vidro, ela podia ver algumas marcas escapando por entre as mangas da Lia confirmando que era uma visionária menor com poucos dons, Kaira achava que a garota devia estar louca por querer brigar com ela.

- Já que você quer mesmo perder alguns dentes, então me explique que diabos eu fiz para você? – rosnou Kaira, ela mordia forte o lábio como quem impediria que palavrões maiores saísse da sua boca.

- Você usa nós para ter poder, Kaira. Todos sabemos disso, você matou minha família inteira só para ter mais poder. Seus pais eram bons, mas você e sua irmã são os demônios que a deusa Lilith pediu ao inferno para ter.

Com apenas partes das suas lembranças, ela não fazia exatamente ideia do que a Lia estava dizendo porém se assustou ao sorrir quando escutou que era uma cria que Lilith pediu aos demônios, aos deuses menores, por um momento sentiu-se estranha em gostar de ouvir aquilo. A rainha sabia que seu antigo eu estava voltando para assombrá-la e ela ainda estava incerta se gostava daquilo ou se odiava.

- E tudo o que pode fazer pelos seus pais é me dando uma surra? – perguntou a olhando – Isso não vai trazê-los de volta. Pode me bater até que seus braços percam as forças, mas nada disso vai fazer você se sentir melhor, na verdade só vai você se sentir uma verdadeira idiota.

Lia olhou para a rainha sentindo a verdade e o peso das suas palavras, mesmo que ela deixasse a garota sem andar aquilo seria apenas por alguns dias. O que mais deixava ela com ódio era olhar para os olhos claros de Kaira e ver nada além de desprezo, não havia uma fagulha de arrependimento, seus olhos eram frios como mármore e o sorriso inquebrável e inabalável.

- Não vai resolver, mas vou me sentir bem melhor em desmanchar esse sorriso da sua cara – enquanto dizia aquilo, Kaira sentiu um soco afundar-lhe o rosto. Sua face mal se recuperara da surra que levou dos guardas da irmã e já haveria ali um novo hematoma colorindo lhe a pele.

Kaira respirou e girou o pulso impedindo que o próximo golpe a atingisse, ela poderia matar a visionária e livrar-se do problema. Lia olhou para a mulher que deveria ser sua rainha e a incendiou. Os braços de Kaira começaram a queimar, as magas da sua blusa sumiram deixando todas as suas marcas a mostra. Ela gritou de dor e ergueu Lia no ar jogando-a longe. A pele se curou e a garota viu os braços cobertos de tatuagens de Kaira,  mas aquilo – embora a tivesse feito temer – não impediu que Lia levantasse enfurecida e fosse para cima da Kaira.