Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)

Capítulo 5 - Cartomante

Os pensamentos dela estava soltos na sala de aula como balões coloridos no céu, Kaira entendia muito bem francês e não precisava voltar toda sua atenção para a professora parada ao lado da lousa. Ela não conseguiria mesmo se quisesse, a noite anterior tinha se tornado algo com o qual não conseguia lidar. Kaira queria deixar de pensar naquele sonho real que tinha tido mas simplesmente não conseguia. Algo de errado estava acontecendo com ela e Kaira não sabia o que era.

Na carteira ao lado Gwen lixava as unhas enquanto a professora rechonchuda e de cabelos grisalhos falava alguma coisa. Era uma das poucas aulas em que elas tinham juntas, geralmente as duas tinham optado por aulas diferentes. Gwen a olhava hora ou outra com um sorriso debochado, ela sofria de dislexia e não fazia o mínimo de esforço para ter notas aceitáveis. Gwen sabia que aquilo nunca lhe serviria de nada, mas não podia dizer aquilo com aquelas palavras para Kaira, então apenas deixava de ligar para qualquer coisa envolvendo a escola.

O sinal tocou indicou a hora de almoço, elas levantaram e começaram a caminhar pelo corredor cheio de armários e amontoados de gente. O corredor era um pouco claustrofóbico enquanto elas passavam no meio das pessoas e armários, Kaira andava se sentindo apenas mais uma naquela imensidão de pessoas, se sentia insignificante e insana.

-Você está perdida hoje. Algum problema? – perguntou Gwen.

- Nada de novo, eu acho – disse, contou então o que tinha acontecido. Kaira não entendia muito bem porque toda aquela confiança em Gwen, havia algo além de apenas uma simples amizade.

Além do mais os conselhos dela eram de longe melhores que os do Will e do Enzo juntos. Continuaram andando até chegarem ao refeitório, entraram na fila e esperaram para pegar um pedaço rançoso de pizza com algo desconhecido em cima. Enquanto caminhavam até uma das mesas continuaram conversando.

Sentaram em uma das mesas redondas, o refeitório era um lugar amplo e cheio de vozes inundando-o como o vento do lado de fora. As janelas no alto das paredes faziam o ambiente ser arejado, a porta corta fogo dupla dava a entrada para o lugar todo. Do lado direito era onde pegavam as bandejas e todas as comidas e do esquerdo era todo o restante.

- O que acha de irmos a uma cartomante? – perguntou de repente a ruiva – Quem sabe você tem alguma resposta. Minha mãe costumava ir a uma.

Gwen achava que consultar o futuro era a resposta para tudo, mas nem sempre saber o que o futuro reserva é uma ideia inteligente. A ruiva tinha um grande apreço por aqueles que podiam ver além do seu tempo, ela só queria que Kaira encontrasse suas respostas sem tanto sacrifico, mesmo ela sabendo que parecia impossível. Gwen era a única que poderia ajudar a Kaira, ela queria poder dizer toda a verdade a melhor amiga mas as palavras estavam presas por magia na sua garganta.

-Acha que vou encontrar minhas respostas em uma cigana? Afinal porque sua mãe vai a uma cigana?

Gwen revirou os olhos, ela queria evitar falar demais, queria apenas que Kaira concordasse a seguisse sem perguntas que ela não poderia dar a resposta.

-Não. Até porque não é uma cigana e sim uma cartomante – afirmou – Mas algumas delas sim. Não sei, acho que ela quer saber se vai envelhecer ou coisa do tipo.

- Acho que isso não vai me ajudar em nada.

-Se não ajudar não ajudou, mas ficar aí sentada esperando também não vai trazer reposta alguma.

Havia algo de suspeito na insistência dela, Kaira a olhou por longos instantes antes de finalmente concordar com aquilo.

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