Capítulo 60 - Floresta das Árvores Tortas

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A floresta das árvores tortas era longa, depois de sair das redondezas do castelo e das mansões Kaira conseguiu deixar os portões que cercavam Wells. Passou pelos guardas sem que levantasse suspeita, virou a direita na saída do castelo buscando pelas árvores tortas, que eram mesmo tortas. A roupa de couro fez sentido conforme ela andava, Gwen escolhera certo porque se ela estivesse vestindo outra roupa morreria congelada na neve. Não estava mais tão alta mas sem as botas não conseguiria andar mais rápido. O vento chicoteava seus cabelos que mesmo presos ficavam esvoaçantes.

Kaira não sabia por quantas horas andou até encontras as árvores tortas, suas mãos estavam congelando e teve que escondê– las dentro das mangas. O cavalo do qual Gwen se referiu estava amarado em uma árvore, ele era marrom e com uma crina escura e lisa. Ela o soltou da árvore que estava amarrado e subiu com a ajuda da sela.

A sela era confortável e mais fácil de viajar, provavelmente Gwen o tinha roubado de um lugar onde cuidavam dele. Os pés de Kaira já estavam cansados por isso andar a cavalo seria bom mesmo sem o conforto. Abdicar o seu conforto para ficar nômade teria dias difíceis e dias fáceis, ela esperava começasse com os dias fáceis porque provaria si mesma que era capaz de cuidar de si mesma.

Kaira cavalgou adentrando a floresta das árvores tortas, o vento batia violentamente no seu rosto e por sorte ela não havia tirado a touca que protegia parte do rosto mas bagunçava todos os cabelos. O cavalo tinha um pouco de dificuldade de cavalgar na neve, mas ele deveria ser um dos especiais porque ele cavalgava rápido.

As lendas diziam que a flores das árvores tortas recebia esse nome porque os forasteiros que por ali passavam e não pagavam aos espíritos com um bem valioso eram transformados em árvores e o castigo era que ficassem ali para todo o resto da vida assombrando quem quer que passasse. Kaira esperava que espirito nenhum aparecesse e que não precisasse pegar nada, por sorte não precisaria atravessar o mar de sangue. Não era uma água vermelha cor de sangue e nem nada do gênero, tinha aquele nome porque há séculos as donas dos mares e rios proibiram que houvesse vida fora dos seus mares. Por isso era o mar de sangue onde vida nenhuma crescia, cobras gigantes foram colocadas naquele mar para que ninguém atravessasse a nado e as vezes nem mesmo a barco era possível. Era necessário atravessar para chegar as cidades que ficavam do outro lado.

Não dava para andar rápido demais com o cavalo, as árvores impediam que cavalgasse com mais agilidade. Kaira segurou nos arreios impedindo que ele saísse correndo feito um louco, conforme o dia escurecia sua visão da floresta ficava ofuscada e escura. A coruja piava em cima de uma árvore, o vento noturno era ainda mais forte que o de outrora. A temperatura caíra de uma hora para a outra, o cavalo tinha certo problema em pisar na neve e procurava sempre andar na trilha de barro onde a neve parecia ter sido tirada.

O que faz aqui, garota? – a voz fantasmagórica ecoou pelas árvores sem folhas que balançavam com os galhos que pareciam mortais, elas pareciam terem balançados com a voz grave e mortuária.

Olhou ao redor procurando qualquer sinal de que aquela voz era de algo vivo, mas Kaira sabia que não era. A floresta apenas começava a ficar escura e não havia mais nada ali que falasse. Exceto a árvore longínqua que tinha aparência humana entalhada na madeira, a boca desfigurada se movia e falava.

– Apenas tentando chegar do outro lado – respondeu a árvore, imaginando o quão insana estava.

O cavalo cavalgou até onde a árvore estava, ela tinha olhos que ficavam imóveis talhados na madeira, uma boca que se mexia. O animal ficou arisco e eu tive que segurar forte os arreios deixando minhas mãos vermelhas.

O que vai me dar em troca para passar pelas árvores tortas? – perguntou a árvore.

Abriu a bolsa que Gwen lhe dera e não havia nada valioso ali dentro, apenas comida, uma garrafa de água e um saco de ouro no fundo da bolsa. Mas Kaira não devia poder usá– lo, o ouro deveria ser para pagar sua estadia no lugar que Gwen reservara.

Mas se ela não desse viraria uma árvore...

– Tenho ouro.

Não quero seu ouro menina fugitiva, quero algo com valor sentimental.

Eles eram alimentados por sentimentos, coisas valiosas mas não valiosas como ela pensava e sim valiosas para as pessoas que as davam. A única coisa valiosa que ela tinha era a pulseira dada por sua mãe e o colar do Dex.

Os olhos da árvore viraram de um lado ao outro de baixo para cima a olhando, procurando como se soubesse as coisas que valiam mais. Certamente aqueles homens egoístas que foram acorrentados em árvores, se alimentavam dos sentimentos que não poderiam ter mais.

O colar e a pulseira garota. Sua mãe e o garoto não ficaram tristes com você.

Kaira ficou parada pensando na desculpa que daria. Quando ela se quer existia. Tirou a pulseira e o colar, eles flutuam da sua mão com um forte vento para dentro da boca da árvore. Ela mastigou seus pertences e os olhos de madeira ficaram esbranquiçados e ela até parecia ter sorrido.

Siga seu caminho, criança.

Então foi o que ela fez, cavalgou noite a fora e segui seu caminho. O frio ficava cada vez mais forte e impossível de lutar, sua boca e mãos estavam dormentes e ela mal conseguia fechar os dedos. O frio aumentou mas ela não podia parar, não naquele lugar. Andou por mais uma ou duas horas, quando olhou para o céu novamente não havia mais nada além de estrelas e uma imensa escuridão que engolia qualquer coisa que brilhasse.

Seus dentes batiam um contra o outro enquanto o vento que uivava congelava seu corpo aos poucos. Debruçou– se o corpo no cavalo que andava devagar, deitou e tentou esconder as mãos mas era inútil ela já estavam geladas demais.

A floresta parecia infinita, a cada passo que ela dava era como se retrocedessem milhas. Houve determinado tempo que Kaira conseguia ver as luzes de uma cidade se aproximando, um sorriso morto se abriu nos seus lábios sabendo que as coisas estavam para ficar quase... quentes, quentes no sentido mais literal da palavra.

Quando as árvores sem folhas começaram a sumir para dar o contorno da cidade o frio começava a deixar seus sentidos entorpecidos, seus olhos quase se fechavam e ela queria chegar onde quer que fosse antes que não aguentasse.

O frio estava forte demais.


Nota da Autora: A história está há DOIS CAPÍTULOS DO FINAL! Estão ansiosos para Príncipe de Gelo? A capa sai agora em dezembro, fiquem de olho na page no facebook. Estão gostando?

Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora