Capítulo 25 - O Livro das Visionárias

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O alvo estava em um cavalete na sua frente, Kaira alinhou os pés com os ombros e manteve uma posição linear para acertar o centro. A postura aberta e reta ajudava o corpo inteiro a ficar alinhado e em equilíbrio. Como olhos de águia os dela focavam no círculo preto em alternância com o vermelho, o vento passava pelos seus cabelos, mas nada a desequilibrava, ela estava focada. Determinada a extravasar aquele tipo de raiva perigosa em qualquer coisa que não fosse uma pessoa.

Acordou cedo e Soraya tratou de lhe vestir, o inverno estava chegando ainda mais rápido do que disseram que chegaria, por isso vestia uma calça justa de algodão e uma túnica preta que chegava até os joelhos, ela era feita de um material grosso e quente. O nariz de Kaira estava gelado e avermelhado por causa do frio, mesmo que vestisse uma roupa quente não impedia que o vento congelasse seu rosto.

Will estava ao seu lado, havia muita tenção acumulada por causa de Lilith e das memórias que voltaram durante a noite. Havia furos sobre a noite em que foi embora e sobre seus sentimentos e rostos conhecidos, mas o grosso das memórias estavam presente. A rainha ardia como um fogo invisível, as vozes riam de dela sem descrição.

Ela fizera isso. Pelos deuses, Lilith jogou uma avalanche de memórias pela metade e sabia que Kaira não poderia lidar com elas, porque elas traziam aquela raiva presente na sua alma, raiva essa que todos faziam questão de dizer que era perigosa. Kaira queria, quase precisava, que alguém a acalmasse.

-Tem certeza de que não houve nada, Kaira? – indagou o Will, ele vestia uma túnica de mangas compridas como as minha, todavia a sua era marrom e sua calça era preta. Os cabelos negros estavam bem alinhados e havia preocupação no seu rosto.

-Feche as janelas – ordenou a ele sem olhá-lo, sentiu o vento gélido passar pela sua espinha porquê de certo modo ela estava acostumada a dar aquelas ordens retas e diretas esperando que eles apenas a obedecessem – Está frio, vou acabar sem o nariz.

Eles no segundo andar em uma sala com armas, bestas semiautomáticas, arcos, pistolas, balas de prata e até mesmo estacas de madeira. Prateleiras de madeira cor de mogno acomodavam na vertical espadas e acima delas alguns arcos ficavam presos. Era tudo muito bem organizado e limpo, cheirava a limão. O chão de carpete cinza tinha algumas manchas vermelhas, de sangue talvez, em uma parte da sala o tatame se acomodava e as janelas ainda me incomodavam porque era através dela o vento congelava seu rosto. A sala de armas era um ambiente limpo e sem muitas coisas para enfeitá-la, Kaira gostava do ambiente ser limpo e o fato de nada tirar sua concentração.

Will fechou as janelas, ele manteve seus olhos em Kaira, como uma ave pairando sob seu ninho. Aquele falso olhar de preocupação foi ainda mais irritante do que qualquer coisa que poderia ser feita naquele dia, Kaira queria que ele se afastasse porque não podia responder por si mesma.

-O que aconteceu? – perguntou novamente.

- Não, não aconteceu nada. Se eu quisesse responder, teria feito na primeira vez que me perguntou.

Seus olhos brilharam desconfiados, há tempos Kaira  não o tratava daquela forma, como se não valesse o chão que pisasse. A lembrança fervilhou em seus olhos, Will lembrava-se muito bem de como Kaira o tratava. Com uma paciência curta, explosiva e desprezo porque sabia o que ele tinha feito. Apenas uma dessas coisas estava errada, a falta de memória sobre o que Will tinha feito.

- Bem, você está atirando flechas como antigamente. E vossa majestade só faz isso quando está aborrecida.

Kaira esticou o braço com um pouco de elasticidade, respirou fundo e soltou a mão, a flecha voou para o centro do alvo. Por um momento aquilo foi o suficiente para que a sua raiva diminuísse, quase sem perceber a respiração dela estava oscilando, havia raiva demais acumulada naqueles ombros. Will se aproximou quebrando a distância de segurança, pegou o arco das mãos da sua rainha e atirou no chão. Kaira sabia que aquele ato não passava de atuação, ela poderia quebrar-lhe todos os dentes da frente apenas por mentir para ela.

Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora