Asher levou– a para biblioteca, com os dizeres de que ela iria estudar. Aquela tinha sido a desculpa que os dois deram aos outros guardas, porque assim Kaira estaria fingindo cooperar com a Adelina. Dois andares de livros e informação espalhavam– se em círculo pela biblioteca, sustentado pelas estantes de madeira, as cores se perdiam nas lombadas dos livros por onde quer que Kaira olhasse. O cheiro de livros, que a nada se comparava, passou certa sensação nostálgica.
– O que queria me mostrar mesmo? – perguntou a Asher. Ele havia aparecido no quarto dela pela manhã dizendo que tinha algo para lhe mostrar, sem hesitar apenas o seguiu com os outros guardas.
Os outros guardas permaneceram nas saídas possíveis, dentro da biblioteca era apenas os ecos das vozes e dos livros que pareciam calados mas que dentro de si continham milhares de histórias. Eles subiram a escada de madeira que rangia, na terceira estante caminhando pela esquerda do livro vermelho presente na quinta prateleira fazia toda a biblioteca ser ainda mais mágica do que era. Asher puxou o livro, a estande rangeu e abriu– se como uma porta.
– Antes que você seja trancada no quarto por falta de cooperação com a rainha, precisa conhecer o castelo.
Havia algo a mais sobre conhecer o castelo, Kaira olhou para dentro e tudo o que conseguia ver era o escuro. Chamas dançaram nas palmas das suas mãos, ela entrou na porta vendo que adiante tinha uma escada. Cuidadosamente, Kaira começou a descer as escadas se dando conta de que seria importante não cair.
As chamas de Kaira iluminaram o caminho, ultrapassou a longa escada que acabava em uma porta de ferro, havia apenas um pequeno espaço entre o final da escada e a porta. No ferro dragões estavam desenhados, dava para ver os dentes e as escamas do animal dançando na porta. Asher tirou do bolso uma chave, colocou– a na maçaneta e abriu com facilidade. Do lado de dentro era uma cripta, as paredes escuras cercavam o local e sustentada por elas quadros traziam mulheres pintadas a mãos cercados por molduradas douradas.
Abaixo das fotos havia uma mesa de madeira com uma adaga cravejada de diamantes localizada exatamente no centro e ao seu lado havia um cálice de prata vazio e coberto por teias de aranha. O lugar não era claustrofóbico mas tinha algo de diferente, um sentimento que Kaira não conseguia entender o que era.
– Porque me trouxe aqui?
– Ah, olha só a próxima a entrar para nosso grupo exclusivo – a voz que ecoou como um riso, não era Asher quem falava porque sua boca não se mexia apenas se repuxava em um sorriso.
Kaira olhou para onde vinham, era do quadro. A mulher ruiva com os cabelos soltos pelos ombros, olhos negros e lábios vermelhos sorria exageradamente, sua pele era pálida porque quem a pintou a viu exatamente daquele jeito. Ela se mexeu no quadro e apontou para Kaira.
– Meus ossos doem – reclamou mexendo– se – Olá, Asher! Sempre é um prazer vê– lo aqui. Quem é a sua amiga?
Asher fez uma reverência e sorriu.
– É sempre um prazer vê– la, Lady Helena – disse ele – Ela é a Kaira Lancaster, a rainha de quem lhe falei.
A rainha olhou para Asher, ainda não estava certa de que as coisas que ela estava escutando era mesmo verdade. Quadros.... não falam nem mesmo os que ficam em castelos mágicos, a menos que as mulheres tivessem posto suas almas naqueles quadros.
– Você fala de mim para quadros?
Lady Helena deu risada novamente, certamente a fora do normal era ela e não elas.
– A rainha falida que perdeu o trono pela ganância – disse Lady Helena – Ela sabe qual é o final dela?
O outro quadro falou, dessa vez a mulher dos cabelos brancos amarrados em um coque de olhos âmbar e um rosto ossudo, ela não sorria muito e tinha muitas rugas que foram retratadas com êxito na pintura.
– Certamente não, olha bem para ela. Envergonha a nós!
– Não seja tão dura com ela, Lady Mare – sorriu Lady Helena – Ela é jovem, bonita e tem aquele fogo que toda garota usuária de magia tem. Ela só não sabe da responsabilidade que tem em mãos.
– Do que estão falando? – indagou, Kaira sabia que elas eram visionárias porque podia ver suas tatuagens em seu pescoço e uma delas tinha uma borboleta no rosto.
Elas olhavam incisivamente para Kaira, rindo da sua cara e da falta de informação. Ela olhou para Asher tentando entender a situação, pensando que talvez tivesse batido a cabeça antes de chegar a aquele lugar e estivesse devaneando.
– Elas são as visionárias legionárias, Kaira. Todas foram ascendidas por Lilith e tinham o mesmo nível de magia que o seu, deve ter ouvido falar delas em algum momento. Todas foram mortas quando soltaram Lilith, assim de geração em geração algumas prendem em outras soltaram, precisaram aprender que Lilith não lhes dava magia, a magia já existia.
Visionária legionárias sempre existiram mas nunca eram citadas, apenas especulações de que as que vieram antes de Kaira caíram nos caprichos de Lilith e que ela mesma estava suscetível assim como elas estiveram um dia. Vendo todos aqueles quadros ali pensou em quando ela seria pintada. Sem pensar levou a mão ao pescoço pensando se seria degolada em algum momento. Guilhotinada e sem um trono, com uma história ruim demais para ser passada de geração e geração e para o resto da vida de Kaira esquecida na parede de uma caverna.
– Porque me trouxe aqui, Asher? – perguntou olhando– a.
– Você é diferente em uma coisa, Kaira. Elas nunca tiveram a magia da fada no sangue e...
Helena o interrompeu.
– Você precisa escrever uma história diferente, criança – exigiu a velha – Seu poder pode trancafiar Lilith para sempre. Precisa lutar, Kaira.
– Lutar...?
– Pela sua coroa – disse Mare – Pelas suas visionárias.
Mare suspirou, olhou para Kaira e seu olhar causou medo nela. Elas tinham olhares antigos que transmitiam sabedoria, solidão e amargura por passar tantos anos olhando as caras uma das outras e móveis velhos.
– Você tem muito a aprender garota, precisa deixar o seu conforto. Precisa perder e encontrar. Não seja como nós.
– Não se transforme em uma de nós.
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Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)
FantasyAprender a temê-la antes de amá-la é a primeira regra. Kaira Lancaster é a tirana rainha de Hidryan. Em uma noite da qual não se lembra enviou-se ao globo dos humanos deixando a magia e suas lembranças para trás. Tudo o que lhe restou são lembrança...