Um dia todo se passou até que eles encontrassem uma clareira um pouco menor onde descansaram. Kaira não comeu nada, mas os três comeram. As chamas da fogueira eram altas e Kaira sentou perto delas como se pudesse ver algo se formando nas labaredas. Eram lindas chamas, dançavam e lutavam contra o vento para manter– se acesas. Por algum motivo elas eram solitárias e fizeram com que Kaira se sentisse assim, triste e próximo de algo quente demais para desistir.
Às vezes a saudade batia com mais força do que Kaira poderia aguentar. Saber que Cameron estava em um lugar quente, o purgatório, por sua culpa quebrava– lhe o coração mesmo que as vezes ela achasse que não tinha um.
Sentiu então a presença de alguém sentando do seu lado, virou a cabeça e viu Dex olhando como se quisesse alguma coisa. Ele estava pálido e abatido por causa da dor e da viagem feita com os cavalos. Kaira apenas suspirou e passou a olhar novamente as chamas.
– Obrigado – agradeceu Dex.
– Eu estava te devendo uma – Kaira deu de ombros – Não precisa agradecer e nem nada de histórias motivadoras sobre como ajudei você.
Com o braço bom ele tocou o rosto dela fazendo– a olhar para ele.
– É sério. Obrigada. Porque você estava... chorando?
– Não estava chorando eu só...
Me desesperei, porque não pude ajudar Cameron e pensei que não poderia ajudar você também e assim vocês dois morreriam nos meus braços, completou mentalmente. Por dentro a confusão de dor se espalharam, mas não demonstrou nada. Apenas deu de ombros como se não se importasse.
– Olha, não importa – olhou para ele, vendo seus olhos cinzas ficarem tomados pelas chamas do fogo crescentes a cada momento – Você está quase bem. Então tudo bem.
Dex torceu o rosto em uma careta, era óbvio que ele estava todo dolorido. Kaira podia ver que sua palidez era de dor, as palavras que saíram da sua boca estavam cheias de dor e sofrimento. Mas, naquele momento a careta não tinha sido feita por causa da dor e sim pelas altas expectativas que Dex colocava em Kaira.
– Raven tinha algumas ervas e fez um curativo, mas doí. É por isso estou quase bem.
– Eles vão curar você, Adelina tem grandes Curandeiros – disse olhando o fogo – Chegamos em algumas horas, talvez até a tarde do dia seguinte.
Novamente uma careta cruzou seu rosto pálido iluminado pelas chamas do fogo.
– Não estou preocupado, eu posso aguentar um pouco de dor.
– Você deveria ter ficado na carruagem, eu teria dado conta.
– Não pode só me agradecer?
Kaira não conseguiu segurar a risada sarcástica, seu rosto inteiro voltou– se para o jovem. Havia tanto que ela queria jogar na cara dele mas não disse, preferiu sufocar– se com as palavras que nunca diria.
– Agradecer? Pelo fato de você ter quase morrido? Por termos perdido a carruagem? Por minha irmã ter me encontrado? Não tenho que agradecer você, não por isso.
– Eu ter quase morrido...
– Não – Kaira o interrompeu – Cala a boca, cala a sua maldita boca!
A paz breve que estava entre eles desapareceu naquele instante.
– Você nem se importa comigo ou com ninguém, para de fingir que não teria sido um alivio se todos nós morrêssemos – ele quase gritou, mas conseguiu se conter.
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Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)
FantasyAprender a temê-la antes de amá-la é a primeira regra. Kaira Lancaster é a tirana rainha de Hidryan. Em uma noite da qual não se lembra enviou-se ao globo dos humanos deixando a magia e suas lembranças para trás. Tudo o que lhe restou são lembrança...