Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)

Capítulo 59 - Minha Vida

Kaira podia escutar a todos, mas não podia ver nada. O corpo que lhe pertencia estava morto, era como se ela estivesse ali na pele de um fantasma,  presente na mente mas com um corpo sem vida, que não respirava, pálido e de lábios roxos. A morte andava a sua volta, querendo que ela fosse de verdade negando– se a acreditar na piadinha que Kaira havia feito.

A agitação a sua volta era inconfundível, Kaira podia ouvir a voz de Asher dizendo a Adelina que a rainha tinha adoecido rápido demais para receber ajuda dos curandeiros, Raven e Dex se lamentando por não terem passado mais tempo juntos com ela e Gwen dando um espetáculo chorando a morte da melhor amiga como se nunca mais fosse vê– la.

–  Avisem a todos – a voz da Adelina soou no quarto – Avisem que a rainha morreu.

A rainha morreu.

— Mandem uma mensagem para a irmã dela, peçam aos mensageiros que enviem o mais depressa possível. Avise– a também que o corpo não irá sair de Wells.

Tudo estava saindo como o plano insano que nascera na cabeça doentia da Kaira. Era óbvio que seu corpo não sairia daqui, eles continuariam tentando usufruir da magia presente no corpo. Não conseguiriam, e quando descobrissem isso Kaira já estaria muito longe daqui. Eles a examinaram da cabeça aos pés, chamaram curandeiros e pediram que eles tentarem extrair a magia mas nada conseguiram, perfuraram seu corpo esperando que o sangue de Kaira fosse mágico.

Mas ela estava morta.

Horas depois a aquela cena toda, o corpo fora levado pelos curandeiros para o que seria uma necrotério, Kaira pegou– se pensando quantos não tiveram o mesmo destino e porque Adelina teria um necrotério em seu castelo, devia ser pelo simples fato de que ela assassinava aqueles que a impediam. Despiram– na e deitaram seu corpo gélido em um pedaço de mármore gelado. A movimentação era silenciosa, os passos eram poucos o que dizia que devia ter no máximo duas pessoas naquela sala.

Mãos tocaram o corpo gelado dela e o reviraram a procura de marcas e evidências sobre a morte precoce que a rainha teve. Tentaram abrir a mão dela mas não conseguira, Kaira ainda segurava o que quer que o Asher tinha lhe dado. Algo gelado tocou logo abaixo dos seus seios, era uma faca. Eles começariam a autopsia atrás da sua magia.

A faca afundou abaixo dos seus seios e cortou até a altura do umbigo, a dor fina e direcionada apenas a um ponto do corpo se espalhou antes que pudesse ser contida. A pele fora rasgada em uma proporção pequena e previamente calculada, o metal gelado entrava em contado com a carne morta que ela deveria ter. Um grito nasceu dentro de Kaira mas ele não poderia sair, porque mortos não gritam. Sua pele rasgada fora aberta, mãos em luvas de couro puxaram as extremidades do seu corpo fazendo os órgãos internos receberem um vento desagradável.

–  Costurem– na de volta – para sua salvação era a voz de Gwen – E nos deixem a sós. Quero me despedir.

O tom de sua voz mostrava que ela não estava apenas pedindo, estava usando compulsão para que eles as deixassem a sós. Gwen se tornava letal, assim como qualquer caçador de sonhos, quando se tratava da segurança da rainha que deveria cuidar. Virava um animal feroz disposto a se arriscar.

Suas mãos ficaram em cima do local cortado e Kaira sentiu sua pele voltando ao normal, colando cada ligamento que as mantinham unidas, como deveria ser as coisas. Um sopro de vida entrou pela sua boca e com um longo suspiro abriu seus olhos voltando a realidade.

Kaira olhou ao redor analisando o lugar, tinha o teto côncavo e era feito de piso branco. Mesmo pequeno não era sufocante, parecia ter gelo saindo as paredes porque era fresca o suficiente para que ela não suasse. Ao lado estava algumas outras macas como a que eu estava e havia outros corpos cobertos por lençóis brancos. Ela levantou curvando o corpo e viu que embora estivesse dolorido o corpo estava bem novamente. Antes de lhe dar uma roupa tirou o lençol de um dos corpos. A garota havia acabado de morrer, tinha cabelos escuros como chocolate e olhos verdes, elas eram quase da mesma altura.