Capítulo 18 - A Voz da Sabedoria

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Gwen tivera o trabalho de contar sobre guerras históricas, o banimento dos humanos de Hidryan e qualquer coisa relacionada a aquele lugar misterioso que Kaira teria que comandar quando as lembranças retornassem com toda a força, a ruiva dissera que o esquecimento da rainha não era de conhecimento público, mas que não era motivo para que a mesma se abstivesse dos assuntos civis do país. Com a voz branda, Gwen contava histórias que deixavam Kaira entrar em um estado de quase sono, ouvir nunca fora um dom que ela tivera, era fácil entrar em estado hipnótico quando uma voz branda como a de Gwen falava com ela.

Os humanos foram banidos há quase cinco séculos,  os pais de Kaira não passavam de crianças quando aconteceu. Os poucos relatos contavam como os deuses se irritaram com os homens sem magia que ousaram desafiá-los. A guerra de maior importância foi a que ela desapareceu levando seus dois caçadores de sonhos. O Reino de Wells – a capital que abriga todas as cortes, inclusive Hidryan – ficou coberta pelo caos, muitos perderam a vida e pessoas jamais a perdoariam pelo que fez. Gwen não poupava a amiga de palavras frias, cortantes e verdadeiras, fazia questão que Kaira soubesse das coisas impensáveis que fazia.

A rainha egoísta e gananciosa que deixou seu povo no caos, Gwen a descrevia assim e Kaira queria de alguma forma de sentir ofendida mas não conseguia porque tinha completa noção de que aquela era a verdade.

-Em Wells onde vive a corte suprema é de onde vem os Caçadores de Sonhos, como nós. Deve saber que toda visionária precisa do seu, nós surgimos depois de cometer um erro brutal em vida, então a corte nos dá uma segunda chance e faz com que cuidemos das visionárias – disse Gwen.

-É quase como um castigo – falou sem pensar.

- É um castigo divino que não pode ser contestado – ela deu de ombros – Foi um acordo com Lilith, ela controlava suas visionárias e em troca os guardiões ofereciam a proteção de imortais. Isso foi a muito tempo, antes de ser presa.

Kaira ficou pensando sobre o que ambos teriam feito para receber uma segunda chance, o que de tão ruim haviam feito para que a morte não pudesse redimi-los. Pensou em perguntar, mas aquilo não acrescentaria nada na sua busca, pelo menos não naquele momento. Haviam outras coisas mais importantes que Gwen poderia lhe responder.

- Como eu conheci Cameron? – indagou mudando de assunto.

- Em um baile de máscaras, seus olhos sempre estavam em todos os que queriam ir para cama com você. Nem mesmo Will escapava – a ruiva a encarou – Sabe o que eu acho?

Algo dizia que aquilo era mentira, não era Will. Ele era o melhor amigo da Kaira e ela não teria nada com ele, porque não havia nada que os ligasse além de uma forte amizade. Havia outros, outros com quem  Kaira havia compartilhado a cama, Enzo não tinha sido o único em sua vida, ela havia compartilhado sua intimidade com outras pessoas, Kaira tinha um lado sujo e escondido do qual ninguém sabia; ela era apenas uma vadia que se escondia na pele de uma boa moça.

-O que?

-Que você só o queria porque era proibido.

Não deveria ser por isso, deveria ter outro motivo. Cameron tinha uma espécie de imã que parecia puxar Kaira toda vez que ela o olhava, as vezes ela tinha medo de imaginar o que os tornava únicos; não era algo simples, o que os unia era escuro e não podia ser medido. Cameron e Kaira eram uma única só pessoa, uma só alma esperando se encontrarem e selarem para sempre aquela união.

-Acho que todos ganhamos uma segunda chance para reescrever o que aconteceu. Devemos aproveitar – sorriu Gwen – E por falar nisso, Will estava procurando você.

Aquele primeiro treinamento já havia sido demais, Kaira não queria pensar nos próximos. O corpo dela ainda estava pesado e dolorido do dia anterior, poderia ter ficado na cama o dia inteiro se sua interminável rotina não ficasse sempre se repetindo.

Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora