Capítulo 38 - Raven

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Freya não deixou que Kaira descansasse, começou a achar que ela não a queria dentro de casa e que de certo modo aquele trabalho braçal era uma espécie de punição. O machado na sua mão era muito mais pesado do que qualquer espada que empunhou. O suor descia pelo rosto grudando os fios de cabelo solto no rosto, o sol estava no alto queimando seu rosto e o derretendo.

A tora de madeira estava parada, era a décima quinta daquela tarde. Os braços dela doíam, ela sabia que ainda teria que lavar a louça. Dias cansativos passavam por Kaira durante os dias que ela estava aqui, pareciam que haviam se passado anos mas eram apenas semanadas não meses ou anos. Cortou então a tora ao meio colocando-a na pilha com os outros. Ela não tinha prática e a maioria dos pedaços fora cortado torto. A jovem suspirou soltando um palavrão quando viu que muitas daquelas madeiras não serviria como lenha.

Depois de terminar com as madeiras de um modo estranho ela se sentiu grata por ter os pensamentos em outra coisa, sem fome ela dispensou o almoço mas fora obrigada a lavar a louça. Kaira foi para a pia e começou a lavar a enorme pilha de pratos, garfos e panelas engorduradas. Enquanto fazia seu trabalho podia escutar Freya conversando com alguém, possivelmente com a Raven.

- Você precisa parar de fazer isso, de tentar ajudá-la. Algumas penitências tem que ser pagas sozinhas – ordenou Freya.

Elas falavam dela, ela sabia que era um incomodo ali e que só estava naquela casa porque Gwen encontrara as pessoas certas para lhe ajudar. A rainha estava na casa delas, escondida de um reino inteiro. Uma rainha mercenária e que jamais teve sonhos com princesas, pôneis e ouro. Uma rainha gananciosa e agora falida. Era óbvio que Freya a queria longe dali, se os papeis estivessem invertidos era certo de que ela própria já teria expulsado as duas da sua casa.

- Eu não posso deixar.... Eu vou a ajudar, Freya. A escolha é minha – disse Raven.

-Você não consegue ver o coração dela? – perguntou a mais velha, elas falavam baixo para que a conversa não chegasse aos ouvidos da jovem na cozinha.

Raven ficou quieta, ela deveria estar concordando com a cabeça.

- Não há luz naquele coração, Raven. Só a escuridão. Ela tem uma alma, posso ver isso, posso ver que diz a verdade mas o coração...

- É de pedra – completou Raven.

Elas tinham razão, Kaira deixou  a reconstrução de quem era para sua alma que mesmo de volta não fez com que ela virasse uma boa pessoa. Seu coração pesava o restante do corpo, qualquer chance que Kaira tinha de se reconstruir morreu quando os viu mortos. Ela não podia voltar a ser uma criança, cujo coração é puro. A escuridão dentro dela não tinha mais nada a ver com sua alma, a escuridão era quem Kaira realmente era.

- Ninguém pode mudar isso, ela não é a heroína. Nunca vai ser.

- Freya...

-Você sabe que é a verdade.

Elas sabiam. E Kaira sabia também.

Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora