Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)

Capítulo 57 - Quase o Fim

Enquanto Kaira se recusasse a cooperar ficaria trancada no quarto. Essa fora a ordem dada  pela Adelina, segundo a ordem dela, Kaira precisava se esforçar ao máximo para buscar a magia perdida dentro de si. O problema, para ela, era que Kaira se quer tinha tentado acessá– la. E não tentaria. Era difícil acessar um tipo de magia que estava por todo o seu corpo, ela não havia encontrado o elástico que a prendia logo não poderia estourá– lo. Tinha uma árdua tarefa, principalmente depois que, para se forçar, deixou que Kaira fizesse apenas uma refeição.

Kaira sabia o que tinha que fazer, a ideia que rondava sua cabeça fazia dias. Sua mãe havia lhe dado aquela ideia sem saber ou talvez ela quisesse que Kaira chegasse aquela conclusão. Por isso a jovem pediu que Gwen viesse ao seu quarto, porque ela precisava saber.

– Fugir? – indagou quase gritando – Você enlouqueceu?

– Fale baixo – a repreendeu Kaira – Não quer que o castelo inteiro ouça, quer?

Gwen negou com a cabeça. Se Kaira fugisse do castelo, se forjasse sua morte todos pensariam que ela era um problema passado do qual não precisava mais se preocupar. Sua mãe tinha razão, ela estava se tornando escrava dos próprios caprichos e não podia lhe dar esse luxo.

– Se eu forjar uma morte, posso... há venenos que provocam doenças e fazem o corpo ficar imóvel por algumas horas, eu precisaria de ajuda claro. Você me ajudaria e então eu poderia escapar.

– Escaparia e o que?

– Encontrar os rebeldes e me juntar a eles.

Gwen riu alto.

– Jamais aceitaram uma rainha, não confiariam em você.

– Preciso tentar, se eu ficar aqui serei escravizada e forçada.

Ela suspirou, Kaira contou então o que Asher lhe contara sobre a magia e Gwen não pareceu surpresa. Como caçadora de sonhos ela deveria saber sobre essas coisas, todas elas e principalmente sobre as coisas que Kaira não fazia ideia. Ao seu redor todos sabiam das coisas e todos os encarregados pela sua educação mentiram sobre todas as informações possíveis. Informações essas que poderiam ter levado seu reinado em uma devastação ainda pior.

– Você se parece muito com ela, Kai. Com a sua mãe, vocês tem o mesmo brilho nos olhos quando falam de alguma coisa da qual sonham – Gwen sorriu – Eu a conheço a tanto tempo, o caçador de sonhos dela lamentou muito quando Stela morreu.

Gwen não tinha exatamente dezoito anos, ela tem mais de quinhentos e já teve muitas outras visionárias em seu enlaço. As lembranças dela ou de William com seis ou sete anos eram apenas ilusões, os caçadores criavam esse tipo de imagem na mente das visionárias para que elas se acostumassem desde cedo com sua presença.

Alguns sobrenaturais têm vidas eternas outras não, Kaira era a das que não tem. Era como sua mãe, podia morrer a qualquer momento pelas mais inusitadas das situações. Ela sabia que sair sem destino nenhum era um destino arriscado já que o dom da eternidade não lhe fora dado.

– Você tem certeza do que quer? Uma vez que deixa a corte nunca mais voltará a ter a mesma vida que tem agora.

– Eu não tenho, mas é o que eu preciso fazer.

– Eu vou com você – pelo tom de voz não estava aberta a discussões – Não que eu queria deixar a vida na corte mas eu preciso. Sou sua guardiã logo as loucuras que passam na sua cabeça são da minha responsabilidade.

Gwen não estava de acordo com aquilo, mas não tinha que estar. Kaira precisava começar a fazer alguma coisa, precisava salvar a todos antes que se tornasse a destruição que tanto temia.

– Qual o plano?

O sorriso de Kaira tinha ar de vitória. Contou a ruiva exatamente o que estava se passando na sua cabeça. Todos os detalhes, incluindo o fato de que ela não podia contar para Raven ou Dex porque ali eles estariam seguros.

~ o ~

As misturas necessárias para que o veneno funcionasse tinham sido suficientes, Kaira não sabia o quanto daquilo iria funcionar. As chances de ela acordar da sua morte eram maiores do que as coisas funcionarem. O cheiro de hortelã e óleo de girassol chegavam ao seu nariz enquanto tomava o frasco. O gosto era amargo e não estava relacionado com o cheiro, aquilo faria com que Kaira adoecesse e por fim tivesse uma morte tranquila. Ela ficou tonta por alguns minutos e depois recobrou seu equilíbrio. Pegou tudo que sobrou e jogou na pia do banheiro, fez fogo crescer das palmas da sua mão e viu tudo virar cinzas.

A água que saia da torneira levou as cinzas e das mãos o fogo desapareceu. Não havia rastros ou qualquer coisa que ligasse Kaira ao plano mais insano colocado em pratica. Se não desse certo ela seria executada e então estaria fada a viver assombrando lugares.

Seu corpo acostumou– se com a estranha substância feita de plantas e flores, deitou na cama para que ele fluísse por todo lado. Fechou os olhos e quando acordou mais tarde no dia seguinte estava se sentindo péssima. Sua cabeça latejava, os lábios permaneciam sempre secos e ela mal conseguia levantar da cama porque seus ossos pareciam terem sido banhados em chumbo. Foi exatamente assim que Asher lhe encontrou no dia seguinte, quando notou que estava mais quieta que o usual.

– Lady Kaira, você está... péssima – disse ele assim que a viu.

Não contive o impulso dos seus dentes de se baterem um contra o outro, a febre havia tomado conta do seu corpo e ela não podia controlar. Se as pessoas conhecessem mais das folhas que as cercavam seria fácil adivinhar o que ela tinha feito.

– Obrigado, Capitão Kane. Você leva jeito com as mulheres – murmurou bem humorada.

– Deve ter pegado um resfriado forte, vou chamar sua guardiã ela curará você.

Ele poderia até chamá– la, mas levaria dias para Gwen voltar.

– Gwen não está no castelo, foi ver um caçador de sonhos que vivia em Hidryan. Ele contará como estão as coisas no meu país. Não se preocupe, Capitão. Eu estou bem, ela voltará em breve.

– Conheço alguém que está bem e você não se encaixa nos padrões, milady.

E não ficaria bem por muito tempo.

Nota da Autora: Coroa de Vidro tem apenas mais 5 ou 6 capítulos, em dezembro pretendo lançar Príncipe do Gelo que já conta com 20 capítulos escritos. Vocês querem ler? Me contem!