Capítulo 46 - Meus Próprios Pecados

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Kaira não dormiu durante a noite, revirou em meio aos lençóis com o coração apertado de culpa e pensamentos transbordando de preocupações. Quando o dia amanheceu sentiu o alivio crescente inundar seu corpo, as sombras pertencentes à noite não incomodariam mais. Mesmo assim ela sabia que as coisas começariam a assombrá– la e que seria eternamente assombrada pelos crimes que cometeu.

Celeste, uma das únicas serventes que disse seu nome, deixou o café da manhã que Kaira também não conseguiu engolir e depois vestiu– a com um manto amarelo que cobria um vestido fino que a vestiu por baixo. Seus cabelos foram presos em um coque no alto da cabeça, Kaira sabiam para que estavam preparando– a e pela primeira vez desde a madrugada estaca tranquila.

A empregada deixou o quarto e a porta não fechou, Asher já a esperava com seus homens.

– Foi um ato de coragem, Lady Kaira – Asher disse enquanto ambos seguiam pelo caminho que levava ao túnel novamente.

– Atos de coragem surgem em tempos de guerra – respondeu Kaira sem muita emoção.

Para Kaira era estranho escutar alguém chamá-la de Lady quando sempre chamaram de rainha ou majestade, de repente ela era apenas uma lady. Ela sabia que Asher apenas a chamava por aquele nome porque era educado, ele poderia chamar Kaira do que quisesse e ela obedientemente teria que aceitar.

Ambos entraram em uma porta que não estava ali no dia anterior. Era uma sala mais clara com as paredes feitas de piso branco, o chão era de mesma cor e os Guardiões não estavam presentes, pelo menos não "fisicamente". Havia Adelina, um homem encapuzado e outros guardas.

– Queria dizer que é um imenso prazer vê– la aqui, Lady Kaira – sorriu Adelina – Sempre tivemos desavenças e agora verei você sofrer mais do que precisaria. Mas no fundo admiro seu ato de coragem. Coragem nunca superar o poder, deveria lembrar-se disso da próxima vez que decidir vir chorando na minha porta.

O seu silêncio fora essencial, Kaira não tinha nada a acrescentar naquele momento. Asher colocou a mão no seu ombro forçando– a cair de joelhos, ficou de frente a uma pedra de mármore que tinha metade do seu tamanho. Ele puxou seus braços para que ficasse de bruços sob a pedra gelada e tirou– lhe a capa.

O zíper do vestido foi puxado para baixo e então suas costas ficaram nuas e o vestido ficou preso no ombro. A risada de Adelina enchia o ambiente, Kaira sentia vergonha e raiva ao mesmo tempo, lembrando– se sempre de que ela fazia aquilo pela honra daqueles que a ajudaram.

– As chibatadas representam a purificação, é muito mais que uma punição. O sangue libertará você. Seu sangue derramado no altar dos Guardiões fará você ser deles, servir a eles e mostrar que é pura – disse Adelina explicando, afinal aquele não era um castigo aleatório.

Kaira escutou o estalar do chicote e engoliu saliva. Adelina ordenou que ele começasse, a primeira chicotada rasgou sua pele e a fez gritar, o chicote parecia grudar na carne ferida e ao passar para a próxima ele acumulava sangue no seu couro. Kaira não queria gritar, não queria se sentir humilhada mais do que já estava mas era impossível não se sentir assim.

Uma.

Sabendo da intensidade da dor mordeu seus lábios impedindo que outro grito saísse, Adelina não a veria humilhada tão facilmente embora estivesse prostrada sob uma pedra apanhando como um animal. A segunda veio ainda mais forte, abriu outro fio dolorido na sua pele fazendo sangue brotar.

Duas.

A dor não sumia depois que o chicote se afastava das suas costas, o tempo compatível a um suspiro era tudo que Kaira tinha para respirar antes que outra chicotada a atingisse. A dor foi ficando lancinante enquanto sua pele rasgava e ela sentia sangue quente escorrendo pelas costas.

Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora