Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)

Capítulo 45 - A Dor Precisa Ser Sentida

Acordaram Kaira quando o dia ainda não tinha surgido completamente. Uma serviçal a arrumou depois de um banho quente. Prendeu seus cabelos em um coque na parte de cima e os deixou solto ao longo das costas, livres para balançarem no vento. Ela se olhou no espelho e viu a raiz loira esbranquiçada nascendo novamente, Dex dizia que ela tinha por causa da maldade. Kaira concordava plenamente com sua teoria.

Ficou surpresa com o fato de Adelina dispor para ela alguns dos seus empregados e um bom quarto, toda aquela generosidade ardia em falsidade causando arrepios. Era fácil sentir enjoo só de imaginar que estava a mercê dos seus caprichos e que aquela bondade viria com um caro preço.

O vestido dado era preto de mangas compridas e sem corte algum, era maior que sua própria altura. O pano era fino mas não transparente. Era como uma roupa das bruxas de Salem, lugar que nunca existiu de verdade exceto nos globos e que os humanos mal sabiam que as bruxas queimadas de fato existiriam, mas era reciproco a roupa, Kaira estava indo para um caça às bruxas.

Asher não disse nada apenas a guiou para fora do quarto, alguns outros guardas a escoltavam enquanto seus olhos varriam o lugar tentando diferenciar cada corredor pelo qual passavam. Eles pararam em frente a uma porta de vidro, Asher passou as mãos sob a fechadura emanando um brilho avermelhado delas. Quando ouve um barulho que lembrava um miado ela se abriu. Sob seu olhar insistente Kaira andou até as portas, Asher as abriu e a luz não passou mais por nós, era um túnel feito de pedras que levavam sabe se lá para onde.

A escuridão os engoliu quando a porta se fechou, na parede um castiçal surgiu aceso. Com o castiçal em mãos ele entrou na frente guaiando, Kaira tentou ascender as próprias chamas nas mãos mas não conseguiu, ao que indicava onde quer que estivessem era aprova de mágica. Então ela apenas o seguiu sentindo alguém respirar no seu pescoço.

Eram os espíritos.

Os boatos sobre os fantasmas que cercavam as catacumbas deveriam ser verdadeiros porque Kaira os sentia chamando seu nome e gritando por ajuda conforme passava, tudo que ela via eram os cabelos do Asher e os pequenos vislumbres das paredes que continham marcas por toda sua extensão, ela podia vê– las porque momento ou outro as chamas de Asher as iluminava mostrando desenhos rústicos e quase apagados fazendo a proteção daquele extenso corredor.

O silêncio fazia ser audível o barulho de gotas caindo em algum lugar, eles andaram pelo que pareceram ser quilômetros infinitos, Kaira segurou suas mãos para evitar que ficasse nítido que estava tremendo. Ao final do túnel havia uma porta de ferro com um emblema dos quatro elementos feitos em ouro e ferro. Nesse reino os elementos da terra são o que regem a magia, os deuses lhes deram uma magia de fácil acesso e encontrada quase em todo lugar.

Asher bateu três vezes antes que abrissem. Um homem encapuzado de negro abriu, ela podia ver apenas parte de sua boca, ele deveria ser um dos Espectros sem rosto. Seu coração tremeu assim que entrou naquele local, cheirava a ferro queimado e carvão. Kaira tentou forçar o coração parar de bater tão rápido mas era difícil. Ela estava com medo.

O ambiente tinha um teto côncavo, no seu centro havia um candelabro de bronze balançado como se houvesse vento fazendo as chamas das velas tremerem e indo de um lado ao outro, formando um rastro invisível de fogo. As paredes eram marrons como o túnel, havia castiçais em lugares estratégicos a iluminando. No fundo da gruta havia seis cadeiras de madeira em cima de um altar expostas paralelamente, sentada nelas estavam seres de túnicas vermelhas cujos rostos pareciam terem sido borrados por um vento forte, exceto a boca que parecia ser costurada. Eram sombrios e inumanos, cheiravam a morte – enxofre e carniça – obviamente estavam entre os dois mundos.

Os Espectros de capatazes ficavam ao lado de cada um dos castiçais, embora não estivesse a mostra seus rostos era óbvio que eles sabiam onde estávamos. O chão era feito de vidro e dava a imagem de um breu sem fim. Abaixo do altar estavam apenas Dex, Raven e Gwen, as duas usavam a mesma roupa que Kaira. Ao olhar para trás Kaira percebeu que Asher havia sumido.