Capítulo 2 - Parte Gostosa

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Quando Kaira acordou a cama estava vazia como sempre acontecia pelas manhãs, ela espreguiçou e resmungou baixo odiando sua interminável rotina. Levantou a contra gosto jogando o edredom para o lado deixando-o cair no chão. Arrastou-se para o banheiro com todo o mal humor do mundo concentrado sob seus ombros. Antes de ligar o chuveiro voltou ao quarto para pegar a toalha ensanguentada e misturá-la nas roupas sujas, só então preparou-se para começar o dia. Ela nunca conseguia se acostumar com aquele maldito horário, achava que só os idiotas acordavam cedo e se sentia horrível por saber que fazia parte desse pequeno grupo de idiotas também.

O banheiro era um ambiente pequeno feito de tijolos brancos com a pia e a privada combinando, a toalha bordada com seu nome estava presa no suporte ao lado do box de vidro preto. Evitou olhar no espelho acima da pia para que a própria cara amaçada não deixasse seu humor ainda pior, apenas limitou-se a tirar a roupa, jogar elas no cesto sujo e entrar no box. Estendeu o braço sabendo que a água gelada cairia primeiro, esperou alguns minutos colocando o pé debaixo d'água e medindo a temperatura. Quando estava quente o suficiente, Kaira se jogou debaixo do chuveiro.

Não ficou o quanto gostaria de ficar, lavou-se apenas e molhou os cabelos. Desligou o chuveiro e enrolou o corpo na toalha. Sem empolgação trilhou passos invisíveis até o quarto. Kaira achava seu quarto incomodo, pequeno e sufocante, algo nele parecia extremamente errado para ela. Havia uma cama de casal com cabeceira de ferro torcido e alguns desenhos pairando sob ela, o guarda-roupa marrom com puxadores dourados ficava ao lado oposto da cama. As paredes eram brancas, paralela à cama ficava a estante com seus milhares de livros – que na verdade eram apenas 88 – e ao lado uma escrivaninha com um abajur cor-de-rosa.

Jogou a toalha no chão sentindo o vento chicotear seu corpo, tratou de vestir as roupas de baixo e logo em seguida vestir o jeans e o moletom cinza sem zíper. Sentou na cama e calçou os tênis sem cadarços, ficou alguns segundos ali parada pensando na vida até que levantou e fez uma maquiagem ridiculamente simples que disfarçasse a noite mal dormida para que ninguém perguntasse nada.

Ela olhou-se no espelho de corpo inteiro e pegou a escova para arrumar os cabelos, penteou os fios platinados quase brancos e então os trançou. Diziam as más línguas de que seu cabelo era pintado, mas não eram. Havia tanta maldade dentro dela que os cabelos tornaram-se naturalmente platinados ao longo dos anos, eram tão claros que dependo da intensidade da luz podiam facilmente ser passados por brancos. Kaira se orgulhava da originalidade do cabelo, gostava de encher a boca para falar a qualquer um que eles eram naturalmente delas.

Pegou sem jeito a bolsa e desceu as escadas saltitando para economizar tempo. Ao descer deparou-se com a cena anormal da sua mãe na cozinha fazendo ovos. Se havia uma coisa que Elizbeth Lancaster definitivamente não se importava era com o fato de Kaira ter comido ou não, ela era aquelas mães modernas que davam tanto espaço aos filhos que se esquecida de que tinha um.

-Bom dia – disse ela, Elizabeth olhou a filha dos pés à cabeça tentando imaginar o que se passava na cabeça da garota. Ela ficava surpresa com o fato de as duas não se parecerem em nada, nem mesmo nas escolhas que tomavam. Elizabeth e Kaira não pareciam serem ao mínimo parentes, eram como colegas de quarto que dividiam um apartamento velho.

-Bom dia mãe – respondeu Kaira não conseguindo conter um bocejo.

Elisabeth Lancaster tinha quarenta e poucos anos, longos cabelos castanhos e olhos esverdeados. Seu corpo era cheio de curvas para a idade, mesmo sendo muito bonita era inegável não olhar as olheiras sob os olhos. Ela era médica no posto médico no centro de Crawford, quase não parava em casa e dormia muito pouco. Deixou todo o glamour da magia para dedicar-se as crianças pobres e oprimidas, pelo menos era assim que Kaira descrevia a mãe.

Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora