O enterro fora três dias depois, reuniu a escola em peso e os familiares dele. A mãe de Enzo não deixou que ela ficasse por mais de meia hora, a expulsou aos gritos insistindo ver nela um diabo e que ao menos naquela hora de dor Kaira deveria deixar o morto em paz. Ela disse com todas as palavras que a culpa daquela inexplicável morte tinha sido dela, Kaira não discutiu mesmo ardendo em raiva. Queria gritar para aquela velha louca que os policiais tinham concluído que ele apenas bebera demais e que depois de uma briga caiu desmaiado no lago, a própria não achava que era isso que tinha acontecido mas não contestou.
Os dias que seguiram o enterro as pessoas na escola passavam por ela e lhe diziam coisas bonitas, era estranho porque as vezes apenas imaginava que Enzo estava fazendo intercâmbio fora do país. Ela sempre os agradecida, mesmo sendo horrível vir a escola e saber que as mãos dele jamais a surpreenderiam novamente, jamais tocariam sua cintura e beijaria sua boca. Eles não se amariam mais, uma parte doce e bonita dela tinha ido embora e ela odiava se sentir vazia. Teria que se acostumar com aquele tipo de sentimento.
As coisas começavam a querer ficar mais fáceis conforme os dias foram passando, Kaira pensou que não teria mais problemas já que até mesmo suas insanidades tinham cessado. Ela pensou errado. Enquanto estava na aula a queimação apareceu no seu ombro esquerdo, ela conhecia aquela queimação familiar e tudo o que fez foi sair correndo da sala e chegar ao banheiro mais próximo. Kaira sentia como se por debaixo da blusa estivesse se alastrando o fogo, a queimação era como ser queimada por uma brasa quente. O suor gelado começou a salpicar seu rosto, ela passou o antebraço o limpando sentindo aquela fraqueza familiar em seu corpo e a dor aguda espalhando no ombro fazendo-a querer gritar.
Arrancou a blusa de lã por cima da cabeça jogando-a na pia, mordeu o lábio com tanta força que sentiu o sangue com gosto de metal molhar sua boca. A dor fora intensa e forte, ela se debruçou sob a pia esperando que a marca apenas terminasse de se formar. Quando aos poucos a queimação se tornou um formigamento ela pode ver o desenho que havia se formado. No espelho o ombro refletia desenhado sob ele uma borboleta negra grande o suficiente para tomá-lo por completo. Kaira não sabia o que aquele dom significava, mas suspirou aliviada por a dor de ter passado.
A porta do banheiro abriu sem ruídos, Kaira apenas percebeu porque olhou o reflexo atordoado no espelho. Era Cameron. Ele estava na porta do banheiro a olhando. Seus olhos, a porcaria dos seus olhos, realmente estavam violetas como no dia em que ela achou que o tinha visto em uma das suas alucinações. O sorriso que se espalhava nos seus lábios era quase reconfortante, ele estava impecável como sempre e Kaira achou que não poderia vê-lo mais bonito que aquilo. Todavia, ela não queria vê-lo. Não queria lembrar que o Enzo estava brigado com ela quando morreu por conta do Cameron.
-Não pode entrar aqui – ela não o olhou nos olhos, puxou a blusa de lã da pia e vestiu-a rapidamente por cima da cabeça bagunçando todos os fios platinados. Kaira não queria ver aquela paz que quase conseguia ver nos olhos de Cameron, não agora. Ela se sentia mal. Acabaria com a consciência pesado.
Cameron notou as feições dela e como há muito tempo ele sabia exatamente ele estava ciente do que ela sentia, queria tomá-la em seus braços e fazer o que sempre fazia quando via Kaira naquela situação. Mesmo querendo ele não podia, não o faria, se manteria distante por isso não moveu um músculo se quer e ficou parado na porta observando-a.
-Eu posso ajudar você, Kaira – as palavras saíram um pouco confusas, era tudo que ele poderia dizer.
-Não. Você não faz ideia do que isso seja. Vai embora!
Ela queria poder culpá-lo pela morte do Enzo mesmo sabendo que isso não fazia sentido, não tinha ninguém para culpar e aquela era a verdade. Seria infantil e injusto da aparte de Kaira culpá-lo por outra coisa que não fosse o motivo da briga. Kaira serrou os punhos e não esperou que ele respondesse, saiu do banheiro empurrando-o para longe si. Sem voltar para as aulas ela decidiu que não tinha mais cabeça para aprender absolutamente nada. Queria apenas ficar em um lugar de paz.
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Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)
FantasyAprender a temê-la antes de amá-la é a primeira regra. Kaira Lancaster é a tirana rainha de Hidryan. Em uma noite da qual não se lembra enviou-se ao globo dos humanos deixando a magia e suas lembranças para trás. Tudo o que lhe restou são lembrança...