Os olhos claros dela palpitaram uma ou duas vezes antes de abriram de uma vez, eles vasculharam o quarto supondo ser o meio da tarde porque a luz não incomodava os olhos, ela podia ver os fios solares atrevidos adentrando por entre a espeça cortina vermelha bordada em dourado amarrada com uma cordinha dourada. Travesseiros macios acomodavam sua cabeça que latejava em um ritmo descompassado e pouco agradável, Kaira não precisou levantá-la para saber que seu corpo mantinha-se coberto por um cobertor feito de pele animal, ela sentia os pelos pinicando braços e pernas.
O suor começava a se acumular no pescoço e melar seus braços, sentiu-se presa naquele emaranhado de pelos mas o corpo também doía demais para que ela removesse o cobertor sem se acostumar a sua dor. Esforçou-se para levantar a cabeça e não conseguiu, os músculos do pescoço se tencionaram e teve a impressão de que eles estavam se partindo como se a tempos estivessem adormecidos. Seu corpo inteiro doía, seus dentes batiam um contra o outro fazendo-a pensar que aquele suor era por causa de um estado febril, a cabeça parecia estar solta e pesada demais para levantar. Onde o ferro atravessou-a doía fervorosamente, ela levantou a blusa e viu o curativo feito com gaze e fita.
Seus olhos correram o quarto. O lugar em que ela se encontrava parecia ter sido esculpido por mãos sobrenaturais em ouro e tons pasteis, as paredes eram revestidas de camurça na cor bege com flores pintadas em branco formando fileiras com espinhos e rosas que começavam no teto e terminavam no acabamento em gesso branco. Havia uma porta dupla feita de carvalho e pintado de mogno – que estava aberta – dava para uma sacada que não parecia ser muito grande, porque ela podia ver uma mesa e uma cadeira que formavam uma silhueta perante a cortina que a cobria a porta entreaberta. As sombras dos raios de sol, não muito forte, dançavam fazendo sombra no chão.
Haviam duas portas, uma levava a um banheiro e a outra para fora daquele quarto enorme. As dimensões daquele lugar deveriam ser maiores que quaisquer lugar que Kaira tivesse estado, todos os espaços eram cobertos por um pequeno detalhe; mesmo que fosse pequeno – como os detalhes em ouro – davam o esplendor de um ambiente único, como estivesse em um pedaço de qualquer cenário de conto de fadas. Kaira viu também que havia um espelho em moldura dourada do lado de uma penteadeira de madeira marrom cheia de perfumes e maquiagens em cima.
Na parede de frente para a cama tinha uma prateleira também feita de carvalho e de mesma cor das portas. Havia vários livros ali colocados, eram longas prateleiras lustrosas e bonitas, mas não tinham cheio de livro e sim de livro velho e mofado. Ao lado da cama a escrivaninha guardava em cima de si uma badeja de prata com um copo de água. Em outra extremidade ficava uma mesa inclinada para baixo com papéis e tinta. O ar inteiro cheirava a coisa velha, tudo era rústico e parecia ser fácil de quebrar, como se o mais simples dos toques fosse transformar tudo em pó.
Quando afastou o cobertor deu-se conta de que realmente não estava louca quando sentiu por cima da blusa coberta com meu sangue seco, alguns pontos. Levantou a gaze descolando-a da pele e pode ver a pele costurada com dez pontos e o roxo no local, como se os pontos tivessem acabado de serem dados. Estava inchado, dolorido e sujo de sangue ao redor. Estava feio na verdade, a inflamação estava sendo tomada pelos pontos. Uma gosma fina e amarela cobria os pontos como uma camada de gordura. Kaira franziu o cenho o torcendo o rosto em uma careta.
-Porra – resmungou tocando com a ponta dos dedos gelados o local.
Forçando o corpo a se dobrar tentou sair da cama, empurrou as pernas para fora e ignorou a dor latente no meio do abdômen. O processo era lento, seu corpo doía e a cabeça latejava com a dor. A tentativa não fora muito bem sucedida, fagulhas invisíveis de vidro a penetravam fazendo a dor aumentar. Kaira não sabia ao certo para onde iria caso levantasse, aquele lugar luxuoso lhe parecia familiar e ela não queria sair dali.
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Coroa de Vidro - Livro 1 (COMPLETA)
FantasyAprender a temê-la antes de amá-la é a primeira regra. Kaira Lancaster é a tirana rainha de Hidryan. Em uma noite da qual não se lembra enviou-se ao globo dos humanos deixando a magia e suas lembranças para trás. Tudo o que lhe restou são lembrança...