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Atirei na nuca do último, deixando que este deslizasse dos meus braços e caísse no chão, inerte. Então, virei-me para o velho, que me encarava, assustado.

Apontei minha arma loriana para ele.

— Conte a verdade — exigi.

Havia dias desde que desconfiávamos daquele lugar. Principalmente daquele homem. Algo dizia para mim que ele escondia as informações que eu precisava.

— Vamos!

Ele engoliu em seco e, devagar, deixou o saco de grãos de lado. Então, ergueu o olhar para mim. Não ergueu as mãos em rendição, entretanto.

— Que verdade? — Estava pálido, sério.

— Por que está aqui? O que você sabe?

Ele permaneceu em silêncio, porém estava inquieto.

— Não sei de nada.

— Não minta! Eu lembro de você. Esteve em Ayllier. Apoiava-os em tudo. Você viu o sangue escorrer de minhas costas diversas vezes. Por que te mandaram aqui?

— Eu... fugi.

Eu quis rir, mas mantive a postura.

— Fugiu? Esqueceu que ninguém pode fugir?

— Você fugiu — lembrou-me.

— E paguei um preço. Até hoje o pago. Carrego dentro de mim essa culpa.

Hale era o único que sabia sobre o preço. Ele também pagava.

— Mas fugiu. Quem garante que não paguei também?

Eu apenas engatilhei a arma, calmamente, olhando-o nos olhos. Um mentiroso, isso que era. Tentava contornar a situação da mesma forma que Ayllier ensinava para fugir das verdades. Para ocultá-las.

— Isso não funciona comigo — lembrei-o.

Ele respirou fundo. Desviou o olhar. Sabia que suas mãos tremiam. Ele poderia ser mais forte, mas minhas habilidades e agilidade estavam muito além dele.

Aquele homem esteve em Ayllier. Se estava ali, não era porque fugiu, era porque foi mandado. Ainda estava submetido aos comandos daquele poço de imundice.

Ele me observou. Limpou as mãos cobertas de fuligem na calça surrada enquanto me observava.

Abriu a boca, mas não disse nada. Então, levou a mão até a base da orelha, tocando-a gentilmente.

Havia escutas ali. Se ele dissesse algo, morreria. Mas, levou-se à morte quando disse:

— Preciso ser rápido. Eu também me lembro de você e sei que desconfia desse lugar. Fez certo. Ayllier me mandou aqui para vigiar você. Eles sabem que você ainda está viva e não pararam de te procurar desde o dia em que escapou.

Ele saiu de detrás do balcão, mas não se aproximou.

— Essa é apenas uma das regiões que tem um de nós. Estamos espalhados por todos os cantos, em todo o mundo. Uma hora, vão conseguir pegar você, então preste atenção nas minhas palavras.

Abaixei a arma e deixei que se aproximasse o bastante para mexer na gaveta que estava ao meu lado.

— Ache o Colecionador antes de Ayllier. Ele saberá te dizer sobre a Caverna dos Grifos. Dizem que ele mora em alguma ilha isolada, mas ninguém sabe onde. Uma lenda!

O senhor virou-se para mim. Não precisei dizer nada; ele percebeu minha pergunta com a expressão de confusão que fazia.

— Sim. Sei que procura os jardins porque Ayllier também o faz. É por isso que querem você. Eles sabem que você pode achar todos os jardins.

— Por quê? Por que querem os jardins?

O homem apenas olhou para o fundo do estabelecimento, como se tivesse ouvido alguma coisa. Eu também tive a impressão de ter ouvido algo.

Ele apenas me deu um papel dobrado.

— Encontre o Colecionador de Ossos. Faça o que tem que fazer antes que Ayllier consiga acionar a Torre dos Sete Elementos.

Ele me encarou, ofegante.

— Fuja daqui e não olhe para trás.

Não levou um segundo até que a loja explodisse em chamas e calor.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora