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Os primeiros raios dourados atingiram o chão antes mesmo das seis da manhã. Mesmo assim, o sol parecia ter decidido não derreter nenhuma dar partículas geladas que rodopiavam o ar.

O dia 11 do mês de Aravent havia, finalmente, chegado. Eu não sabia se estava animada. Mesmo assim, por alguns minutos, deixei-me sorrir. Nunca havia participado de um baile, muito menos na região montanhosa do Continente. Como primeira vez, esperava que fosse, ao menos, divertido.

Fechei os olhos, sentindo o ar da manhã percorrer meus pulmões. Estava frio. Minhas mãos poderiam congelar, mas não o fariam. Não quando há, no mínimo, quatro camadas de cobertores em cima de mim.

Passei a noite toda mal, mas não era por causa do ar gelado, ou do barulho de lobos do lado de fora, ou de qualquer outra coisa. Foi pelos acontecimentos anteriores. Renoward não apareceu mais. Nem mesmo no jantar, onde ele sempre acompanhava todos, mesmo não comendo nada durante as refeições.

Onde está Renoward? — Zylia perguntou assim que viu todo mundo. Ele nunca atrasava.

Alyssa apenas negou com a cabeça.

Eu respirei fundo. Se Hale estivesse ainda vivo, não demoraria para perguntar a ele o que poderia ter acontecido. Não faço ideia se meu irmão saberia, mas eu não deixaria de perguntar. Imaginava também que Renoward permitiria que eu ao menos comunicasse meu irmão; apesar de que, antes que ele disse qualquer coisa, Hale já estaria ciente do que estava acontecendo.

Retorci o cobertor debaixo. Levaria tempo até que tudo, de fato, fosse resolvido. Não só questões com o príncipe de Sulman, mas forjar as flechas e levá-las até a Torre estavam longe de serem rápidas de executar. E ainda tínhamos que cuidar para não morrer.

Cansada, bati a mão na testa, observando o teto de arcos mais uma vez.

Não vi ninguém durante o dia todo. Decidi que me arrumaria sozinha, testando minha capacidade de embelezamento. Eu não tinha muito conhecimento sobre isso.

Mesmo assim, prendi algumas mechas do meu cabelo, impedindo que este caísse sobre meus olhos; me certifiquei que as pedras azuis cintilantes do meu cabelo estivessem bem presas e coloquei o vestido que Zylia me ajudou a escolher. Era diferente de todos os que eu já tinha provado e chique demais para a ocasião. Mesmo assim, não a questionei quanto ela disse que seria um ótimo vestido para o momento.

As mangas eram feitas com rendas azuis, trabalhadas a mão, que desciam graciosamente até os pulsos. Esta percorria o busto e parava até um pouco depois da saia, que era revestida em organza sobre tule, e algumas camadas de cetim por baixo. Era um vestido tão belo que o fato de estar usando-o me parecia patético.

Mesmo que minha vida tivesse mudado muito em alguns meses, as vezes, não conseguia evitar o pensamento de que, há um tempo, eu estava nas ruas de Uxtan, na estação, esperando pela solidariedade de Tinny e do Sr. Rews.

Foi naquele momento também que percebi o quanto sentia falta de Tinny. Não sabia que era possível isso, dado que minha amizade com ela sempre foi muito superficial. Mas a amizade de Tinny me cativou profundamente desde o dia em que ela me deu alguns cookies de sua mesa, depois da mãe dela dizer que eu não seria paga por ter chegado dois minutos atrasada. Grande besteira! Havia me atrasado porque torci o pé, tentando alcançar o parapeito de uma janela quando alguns moradores de rua decidiram que eu tinha comida comigo.

Relaxei os ombros na frente do espelho assim que me vi pronta. Evitando olhar diretamente para meus olhos, o ruivo era destacado pelo azul. Minhas costas eram tampadas pelo tecido, apesar de transparente e, para garantir, mantive meu cabelo por cima das cicatrizes. Em minhas orelhas, eu usava dois pontinhos de luz, delicados e que combinavam com os adereços de cabelo, pequenos e simples, mas não me incomodariam durante a festa.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora