Era uma casa. Simples, mas o fogo já havia consumido metade dela.
Pessoas a rodeavam, algumas curiosas, outras chocadas demais, outras, provavelmente moradoras, choravam.
Teria deixado Renoward apenas guiar Proteus até o palácio, mas um grito me chamou atenção. Um grito agudo, de uma criança, talvez. Um grito abafado pela fumaça e desespero.
— Renoward...
— Eu sei. Vou chamar o resgate.
Assim ele o fez. Não sei como, também não reparei, só lutei contra a lembrança da casa pegando fogo quando tínhamos acabado de sair de Ayllier. Meu pai, que sabia que tínhamos saído, nos achou e nos perseguiu até o pequeno sobrado alugado, onde começou um incêndio enquanto dormíamos. Ainda não sei como conseguimos escapar.
Não falei nada durante todo o caminho até o castelo de Zylia. Apenas deixei que o vento batesse contra meu rosto e acalmasse meus nervos. Ao chegar lá, me sentia demasiadamente melhor e pronta de novo para implicar com o Renoward.
Desci do pégaso antes mesmo que ele falasse alguma coisa, ignorando sua existência e caminhei até os guardas, observando-os abrir a porta no fim da escadaria.
Renoward não precisou de esforço para me alcançar.
— Você está bem? — indagou.
— Estou ótima. Pronta para atirar outra faca em você.
— Nós dois sabemos que você não vai fazer isso.
Revirei os olhos.
— Eu fiz há alguns minutos.
— E acertou a porta. Vamos logo.
A passos rápidos, caminhamos em direção à sala de reunião, onde Zylia já nos esperava.
Devo dizer que não prestei atenção no que ela disse. Deveria, porque queria agradá-la, mas não consegui. Encarei mais a ponta da mesa de madeira, sentindo novamente o mapa queimar no meu bolso. Aquele pulsar da intuição que dizia que eu deveria começar logo. Aquele fio dourado e invisível que me chamava para o que realmente tinha que fazer.
Que me dizia a realidade. Que me dizia que não sabia como tudo terminaria.
— ...nós precisamos... Gaëlle?
Olhei para Zylia, que me encarava, preocupada. Os outros pousaram os olhos em mim e, como se eu pudesse ler sua mente, os olhos de Renoward indagavam se eu estava de fato bem ou menti pra ele de novo.
É lógico que menti.
— Me desculpe.
Me levantei, caminhando apressada para fora da sala. Deixei que a porta de madeira se fechasse, e então comecei a caminhar para as escadas que levavam para o andar debaixo.
Eu sabia pra onde estava indo.
Meus passos eram bem audíveis enquanto eu caminhava na direção da biblioteca, sentindo meus dedos formigarem, sentindo a pele coçar por debaixo do tecido preto.
Sem poder suportar mais, enfiei a mão no bolso, sentindo o papel e o puxei, retirando-o. O desdobrei, encontrando as linhas douradas que desenhavam os territórios de Ulyan. Lá em cima, no canto esquerdo, o território dos Sete Reinos ainda brilhava e reluzia forte.
— O que você realmente quer? — falei, diminuindo meus passos. — Por que eu preciso fazer isso?
— Ah, olha. Está vendo, Barrie? Eu não sou o único que fala sozinho — disse alguém próximo a mim, me fazendo parar de repente e virar.
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Arthora | A Espada de Vanella
Fantasy[Obra concluída ✔] Quando o relógio marca meia-noite, uma perigosa linhagem de monstros é desencadeada, revelando um lado obscuro da humanidade que Gaëlle jamais imaginou existir. À medida que a garota se lança em uma busca desesperada pelos misteri...