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Capítulo à parte da narração de

Gaëlle Provence

Aaden Portos nunca sentiu-se tão irado quando desceu a última lâmina sobre aquela criatura. O sangue verde e gosmento escorreu por sua mão. Queria poder cortá-los em mais pedaços, mas isso seria deixar-se levar pelas emoções e, embora adorasse ser a piada do grupo, gostava de optar pela razão de vez em quando.

— Eu pensei que Olyns estivessem extintos — disse Alyssa, removendo um pouco da gosma em sua roupa.

— É — disse o irmão. — Pelo visto não estão.

Portos fechou os olhos, tentando relaxar os ombros. Lembrava-se dos Olyns. Nenhum ser humano já teve boas relações com eles, mas esse soldado já passara por coisas piores do que um ataque de Olyns.

Engoliu em seco e enxugou a mão no traje de soldado, já tão cheio de poeira e terra.

Então lembrou-se. Foi um grito que os acordou.

Virou-se para o grupo, analisando a destruição que foi causada no pequeno acampamento.

— Onde está Gaëlle?

Zylia engoliu um xingamento.

— Estava comigo, mas um deles me atacou e não consegui cuidar dela. No momento seguinte, ela sumiu.

— Está aqui — Ayaz, um pouco mais afastado, tentou erguer um tronco de árvore que praticamente prendia o corpo da menina. De sua testa escorria sangue, mas ela parecia respirar.

Aaden e Renoward correram e retiraram o pesado tronco.

— Santo Imperador — Portos sentiu um aperto no coração. — O que aconteceu com ela?

— Parece que uma flecha atravessou a perna dela — disse Renoward, abaixando-se para tentar olhar melhor, mesmo no escuro. — Com sorte, não vamos precisar abrir pra tirar.

Alyssa encolheu-se, fechando os olhos. Zylia lamentou.

— Não temos recursos para isso. Teríamos que voltar para Álix, mas a pé é muito mais longe. Ela vai perder muito sangue.

O príncipe de Sulman balançou a cabeça sem tirar os olhos da menina.

— É uma ideia terrível. Não temos condições de fazer isso.

— Então o que fazer? Renoward, ela não pode morrer.

O soldado pôde sentir o desespero de sua amiga na voz. As mechas de Zylia, apesar do escuro, era quase a fonte de luz. Como uma fonte de esperança. Elas oscilavam, com o prateado tornando-se mais forte à medida em que a tenente pensava em possibilidades. Nenhuma delas pareciam boas, entretanto.

— Eu não sei — disse.

— Eu sei.

Todos voltaram-se para Aaden. Estava agachado ao lado de Renoward, tocando brevemente a terra enquanto observava o corpo quase morto de Gaëlle. Ele sentiu um embrulho ao cogitá-la morta. A garota já tinha passado por muita coisa, será mesmo que morreria naquele momento?

Aaden esfregou a testa, sentindo-se levemente atordoado.

— Tem uma pessoa que mora em uma gruta aqui perto. Ela me ajudou com... meu pai, quando ele estava doente.

— A rafflesiana. — As mechas de Zylia reluziram.

Portos assentiu.

— Não é especialista, mas seus métodos medicinais podem ajudar bastante.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora