Por um momento, eu não me importei. Talvez fosse a dor, ou a cabeça enevoada, mas imaginei que estavam se desesperando a toa.
Até me tocar de que se passou quase um dia do lado de fora. Renoward poderia sumir, mas um dia todo?
Ele era literalmente nossa peça chave. Um ótimo soldado, incrível agente. Sem ele, nosso grupo estaria mais fraco. Muito mais fraco.
Tínhamos Aaden, mas não tem como comparar os dois. E, eu odiava confessar isso na época, e se dependesse de mim, morria com essa informação, mas não falava nada. Porém, eu confessei naquele dia. Com muito custo e ódio no coração, mas não havia ninguém que se comparava com o Renoward. Ele era bom em praticamente tudo o que fazia. E era bom mesmo. Se quisesse estar seguro, era só estar do lado dele.
Precisávamos daquele príncipe maldito.
— Eu vou atrás dele de novo — Aaden adiantou-se, mas Zylia interviu.
— Não, Aaden. Por favor.
— Zylia...
— Esquece. Vamos todos para casa nos esquentar e de lá pensamos em um plano. É o mais ideal a ser feito.
Com contragosto, Portos assentiu.
Ele me pegou no colo antes que eu pudesse protestar. Zylia jogou a mochila com os galhos em suas costas.
O caminho todo foi silencioso. Como se algo estivesse faltando, um pedaço do quebra-cabeça. Eu recostei em Aaden, fechando os olhos. Ele me apertou, como se tentasse me reconfortar.
Eu poderia me compadecer com Renoward, mas não sabia se ficava feliz com sua partida ou preocupada. Como eu já havia dito a ele, eu levaria flores bregas ao seu túmulo.
Abri os olhos com o conforto que de repente me atingiu. Dentro da casa estava quente, e Alyssa logo trouxe uma toalha, jogando-a por cima de mim. Ela fez o mesmo com Aaden e com Zylia.
— Vocês acharam ele? — ela perguntou. Senti sua voz trêmula e baixa, como se ela estivesse derretendo.
Aaden me colocou no sofá pedindo brevemente para que eu não me deitasse pois cuidaria das feridas. Em poucos segundos, ele buscou os medicamentos, afofou o sofá, juntou algumas pilhas de folhas que estavam espalhadas pela mesinha de centro.
Zylia apenas sentou-se em uma poltrona com o olhar apático, tão distante.
Alyssa parecia querer chorar.
— Gaëlle — Aaden chamou, baixinho. — Pode retirar as mangas do traje e abaixá-lo o bastante para que eu consiga limpar a ferida? Não precisa tirar mais que um pouco abaixo das axilas.
Assim o fiz.
E nesse momento, a cabeça de Portos pareceu rodar. Eu olhei para trás, enquanto ele encarava minhas costas fixamente.
Ele limpou a garganta e não disse nada. Apenas começou a limpar.
— Está muito ruim? — perguntei.
— Foi Ayllier que fez isso?
Eu fiquei em silêncio. Sentia as costas arderem e inflamarem, e quis chorar pela dor e quis chorar por Ayllier e pelo que tinha acontecido e estava acontecendo.
Eram feias. As cicatrizes. E jamais sairiam de mim.
— Pensei que já tivesse visto.
Acho que Aaden negou.
Sabia que ele estava tentando desviar o assunto, mas essa foi a única vez que ele não foi capaz de o fazer. Talvez porque sua preocupação com Renoward era demais.
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Arthora | A Espada de Vanella
Fantasy[Obra concluída ✔] Quando o relógio marca meia-noite, uma perigosa linhagem de monstros é desencadeada, revelando um lado obscuro da humanidade que Gaëlle jamais imaginou existir. À medida que a garota se lança em uma busca desesperada pelos misteri...