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Eu só consegui levantar no dia seguinte, mesmo que a dor me repuxasse de volta para o colchão. Aaden afirmou que era melhor se eu conseguisse começar a me movimentar. Isso ajudaria a cicatrizar, mas não poderiam ser movimentos bruscos.

Então, com a ajuda do soldado, eu me sentei e consegui comer um pouco. Meu estômago estava embrulhado e a dor não me deixava pensar. Aaden disse que eu já estava tomando remédio para dor. Não tinha certeza se estava surtindo efeito.

Apesar do bom humor, se observasse com atenção, Aaden não estava bem. Seus olhos estavam inchados e, de vez em quando, acabava se distraindo fácil demais.

— O que foi? — Acabei perguntando algumas horas depois que ele apareceu. Ele levantou os olhos castanhos, me observando com um pouco de atenção enquanto passava e repassava os olhos sobre uma folha de papel.

— O quê?

— Você não parece bem.

Portos deu de ombros, voltando a analisar as pastas e arquivos que levou para a enfermaria. Seus olhos desfocavam-se das folhas em questão de segundos e ele não parecia prestar atenção.

O soldado passou os próximos três minutos tentando se concentrar, até que simplesmente levantou-se, jogando a pasta em cima da mesinha redonda. Levou as mãos aos cabelos e, em silêncio, saiu do ambiente, mas não sem antes me olhar de soslaio.

Aaden desapareceu por alguns minutos antes de voltar com uma garrafa d'água que bebeu em poucos segundos.

— O que está acontecendo com você? — perguntei.

Ele me encarou de forma rápida, desviando o olhar de novo. Permaneceu um pouco perdido, com o cenho franzido e os dedos um pouco inquietos.

Abriu a boca, mas vacilou, encostando-se na parede. Puxou o ar com força e voltou o olhar para mim.

— Eu... olha, eu não sei se quero falar sobre isso.

— Você claramente não está bem. Por que não diz?

— Porque não é do meu feitio.

Esperei.

— Mas?

Ele puxou o ar com força.

— Mas preciso.

Apenas ergui as sobrancelhas, encarando-o.

Ele se aproximou, sentando-se na ponta da cama, onde estavam meus pés. Com cuidado, os puxou para seu colo, ajeitando-se no colchão da enfermaria.

— Bem, é que... Eliya está morta.

Engoli em seco.

— Eu sei. Eu matei ela.

Ele assentiu com a cabeça com um pouco de pressa.

— É. É, eu sei. — Aaden levou a mão à própria nuca, coçando-a. — Eu não falei muito com Zylia sobre isso, apesar de que ela já sabe de uma parte da história, mas eu meio que tinha uma pequena queda pela Eliya.

Eu quase engasguei com a minha própria saliva.

— O quê?

— Eu não gosto de admitir isso, Gaëlle. Não mesmo. Me sinto culpado, de certa forma, por ter gostado dela. Apesar de que não era nada ao extremo, eu a achava muito bonita.

Eu o vi engoli em seco, carregado se sentimentos e um furacão interno, que o consumia.

— Tenho nojo de mim por isso.

— Sabia que ela era traidora? — Me arrependi por soltar as palavras no momento seguinte.

Ele ergueu o olhar para mim antes de negar.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora