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Eu senti meu corpo ficar frio de repente. O silêncio tomou conta do ambiente, onde não se ouvia nem os pássaros do lado de fora, nem sequer um suspiro ali dentro. Nem som do riacho que corria por perto, nem vento que cortasse as montanhas e assobiasse para o sul.

Estávamos apáticos.

— O quê? — Zylia se manifestou.

Ayaz voltou-se ao seu trono e sentando-se de novo, triunfante. Podia ver milhares de coisas passar por sua cabeça, mas jamais saberia dizer se tinham totais boas intenções.

— É simples. Vou explicar apenas uma vez, então todos prestem muita atenção. — Ele deu uma breve pausa. — Irei ajudá-los com tudo o que precisarem. Roupas para sobreviver ao frio de Tuorc enquanto estiverem aqui, um lugar quente para dormir, comida e bebidas frescas e de boa qualidade. Suprimentos para a viagem e munições para suas armas. Além de fornecer um jato para que possam viajar com mais segurança, conforto e privacidade. Ah, sim, e sem dúvida, vou deixá-los entrar no Jardim para pegar o que precisam.

Ele sorria, deslizando os dedos sobre seus anéis.

Olhei para Aaden e ele me olhou de volta, e soube que ele pensava o mesmo que eu: Havia algum interesse ali no meio.

Nossas hipóteses foram concluídas assim que Zylia disse:

— Mas?

— É bom que alguém aqui me conhece bem, não é mesmo? — disse ele, piscando para Zylia, sem retirar o sorriso do rosto. — Mas terão que ficar para o baile do feriado e terão de aceitar a minha companhia na jornada de vocês.

— Ah, mas nem pensar...

— É isso ou nada. Não quero perder o feriado então ficarão aqui até que acabe. E vou com vocês. Fim de papo.

— Prefiro continuar como estamos.

— E ficar sem o que tanto precisam? E morrerem congelados na segunda noite aqui, enquanto tentam entrar no Jardim e falhando miseravelmente?

Olhei para Zylia e a vi revirar os olhos.

Aaden foi até a tenente, tocando-a sutilmente no ombro. Ela o encarou, e pude ver como queria contestar o rei ao mesmo tempo que queria sair dali e chorar. Pude sentir o quanto ela desejava que Ayaz ficasse longe.

Renoward tocou sutilmente meu braço e eu o observei. Ele indicou os dois com a cabeça.

Nos aproximamos. Os lábios de Zylia estavam levemente curvados para baixo e ela engoliu em seco. A tenente sairia dali e não voltaria nunca mais, se pudesse. Suas mechas prateadas oscilavam, ficando mais opacas e apagadas.

— Zylia, eu sei que tudo isso doí — começou Aaden —, mas precisa ver o quanto de beneficio Ayaz está oferecendo. Ele está certo. Não passaremos da próxima noite aqui sem nenhum abrigo e é impossível entrar no Jardim quando apenas ele sabe a localização.

Ela negou e pude ver seus olhos lacrimejarem.

— Você sabe tudo o que ele fez — disse baixo. — Eu não quero conviver com ele durante as próximas semanas. Meu plano era nunca mais vê-lo.

— Zylia. — Renoward chamou antes de erguer os olhos verdes para a tenente. Ela o observou. — Nós sabemos disso. Mas você não pode deixar o passado te atingir do jeito que atinge. Deve aprender com ele, não deixá-lo te controlar.

— Eu aprendi a lição. Não se pode confiar nele.

O príncipe de Sulman negou.

— Não. Está te ensinando que podem haver segundas chances para certas pessoas. E que talvez você deva conversar com Ayaz sobre o que aconteceu. Não deve fugir do passado.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora